quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Paus Enormes



Pós-kuduro, diz um idiota qualquer no Last.fm. A verdade é que não interessa para nada. Mesmo que tenha sido na Enchufada dos Buraka Som Sistema que É Uma Água se afirmou como um dos grandes lançamentos de 2010, é redutor encarar a música dos PAUS como "dançável", ou "pesada", ou "espacial"; mesmo que hoje, no Lux, os acompanhassem Ride e Riot, respectivamente menino bonito da electrónica tuga actual e rosto por detrás da infecção Yah! e Kalemba, mesmo que tenham adicionado ritmo ao ritmo numa mistura inacreditável de Lightning Bolt e grime e dubstep e foda-se-sabe-se-lá-o-que-mais, com resultados arrasadores para o solo daquele espaço que tremeu sob a força da estratosfera a cair-nos em cima quando Mudo e Surdo deu ares da sua graça; a tentativa de caracterizar e agrupar uma coisa assim nunca será por via da palavra, pois não existe para já nenhuma que o consiga.

É para dançar, dizem uns, é para o mosh, dizem outros. A verdade é que não interessa para nada. Cada qual há-de encarar a sonoridade dos PAUS como bem lhe aprouver, seja ele filho do pulo electrónico em óptica de clube ou o metaleiro que encontra na fúria da siamesa a salvação de uma década atípica em que todos os grandes ídolos parecem ter envelhecido. O teclado permite-nos sonhar, o baixo permite-nos abanar o corpo, a/s bateria/s permite/m-nos partir o pescoço e as máquinas fotográficas aos tipos que apenas ali estão a querer fazer o seu trabalho. É água? É um rio que corre dentro das margens que o oprime.

É o melhor lançamento português do ano, é um diamante ainda por lapidar. A verdade é que não interessa para nada. Nunca ninguém há-de ficar indiferente; ou se gosta ou se ama. Ou pela força das canções ao vivo (infinitamente superior à força em disco, porque um CD é um CD e Steve Albini não está disponível de momento), ou pelo grito quase mantra de tens-me pela garganta, quem sufoca não canta que enche o Lux de uma certeza única: a de que aquilo que aqui está é algo que nós enquanto nação amante de música nos devemos orgulhar. Porque o caminho a percorrer ainda é longo, muito longo, e todos nós somos jovens, muito jovens. Que vontade de crescer depressa, esta.

A verdade, a de que os PAUS são os PAUS e nada mais, é que não interessa para mesmo nada.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

SOL SOL SOL SOL SOL SOL SOL



Dan Snaith é um matemático. Nota-se pelo minucioso tratamento que dá ao Korg e à caixa de efeitos. Nota-se na energia filhadaputa do baterista que o acompanha como um metrónomo bem oleado. Nota-se nos números imaginários vulgo os outros dois gajos lá no fundo a tapar mais ou menos as fractais psicadélicas que vão surgindo. Nota-se quando, ao começar com Kaili, faz com que toda a gente de imediato desprenda os pés do chão e ceda o corpo às ondas de choque que se fazem sentir, o Lux a tremer como se num enorme terramoto, oito ponto dois à escala de Caribou.

Porque é de Caribou que se fala: do brilhante Swim, editado este ano, de temas como Found Out ou Bowls, do clássico instantâneo que foi/é Melody Day ou do imenso gingar drogado ali a inventar o Kanuckrock porque é fixe dar novos nomes às coisas de Sun, transformada em dez colossais minutos de dança e headbanging; foi o concerto que fechou o ano para os Caribou, foi o concerto que faltava a este ano onde tantas coisas boas passaram por cá. O sol quando nasce é realmente para todos.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

We're all fucked up, so whacha wanna do



Há males que vêm por bem; se a visita do Moisés negro impediu que os Arcade Fire pudessem vir espalhar o amor, os Fucked Up, que também são canadianos, espalharam a semente; mandaram foder os azares da vida e marcaram, não um, mas dois concertos exclusivos em Lisboa e Porto como que a pedir desculpa por aquilo de que não têm culpa. Bendita a hora: milhões de vezes a ZdB do que o Pavilhão Atlântico no que toca a albergar concertos de rock n' roll fodido. No aquário, cheio de gente mais ou menos desnuda, incluindo o próprio Damien Abraham, que é gordo e punk dos sete pneus, os Arcade Fire não passaram de um sonho passageiro; bastaram os primeiros acordes de "Son The Father" para deitar a casa abaixo e fazer temer pelo vidro partido não se sabe muito bem quando.

Antes disso Mr. Miyagi deu uma aula de karate aos presentes apresentando um hardcore a fugir para o grind, sem guturais mas com muitos gritos e putos de flanela e t-shirts pretas a saltaram de e para o palco. São quatro gajos do norte, com ar de quem dariam bons genros mas com a electricidade a correr na ponta dos dedos. E da gaita. Isto já não saberei. São um bocadito aborrecidos, mas a malta curte e a gente está lá é para curtir. Houve pedidos para tocarem "aquela" e tudo.

Os Fucked Up são os legítimos herdeiros dos Black Flag. Isto é um exagero do caralho, mas ocorreu-se-me dizer isto no regresso a casa à cara-metade deste blog só para o picar por não ter ido. A baixista é arraçada de portugueses e veste-se como uma avó, a.k.a. ia lá com tudo. Damien corre pelo local munido do microfone, abraça quem encontra à frente, placa quem encontra à frente, grita com quem encontra à frente, exibe-se (mas só o tronco) a quem encontra à frente. O rock é pesado, com tendências para o frito (ele até dizia estar ligeiramente apanhado, se é que me entendem). Estranhamente, as maiores intervenções por parte do público - que no entanto nunca se cansou dos empurrões e cotoveladas - surgem nas covers de Breed, dos Nirvana, e do hino generacional que é a Blitzkrieg Bop dos Ramones. Isto será sintomático de muita coisa, mas não me apetece dissertar sobre isso. Foi do caralho, fiquei com a setlist (sim, é essa coisa aí em cima!) e quero que vocês se fodam. Como a banda apela a que façam.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dores de dentes



Nos dias que antecederam o concerto dos Faust, quem andou nas bocas de quem aguardava impacientemente pela noite de hoje foi Julian Cope. Por ter dito, no ido Krautrocksampler, de 1995, que "não havia grupo mais mítico que os Faust". Absolutamente normal, então, que quiséssemos confirmar esse testemunho.

Comecemos por dizer que os Faust não são uma banda. São uma sociedade. Uma sociedade caótica, despojada da sua civilização, onde estranhos seres despejam bílis fermentada em forma ténue de canção pop/rock. Antes de entrarmos por caminhos etimológicos de almas vendidas a Satã, convém dizer que "Faust" é alemão para "punho". Esse mesmo reproduzido na sua forma mais crua, óssea, em vários discos dos alemães. Esse mesmo, que à primeira visão do palco onde baterias à base de bidões nos atinge no rosto de uma forma que não esperaríamos, não enquanto não houvesse um som no ar.

A introdução é feita na voz de Tiago Gomes, um apelo à "urgência pela liberdade", um assegurar de que o público estaria autorizado a tudo, fosse "tudo" filmar, fotografar ou dançar, e um convite para uma salutar convivência com os membros da banda posterior ao concerto, antes de enveredar por uma história qualquer sobre mulheres em restaurantes, que não interessa para nada: todos os olhos já estavam postos naquele estranho casal de gigante e anão que se entretinham cada qual na sua bateria a marcar o ritmo. Prontamente entramos no mundo dos Faust, essa monstruosidade tribal e eléctrica, olhos no primitivo e no moderno.

Se durante os primeiros temas parecia mal ficar sentado perante a avalanche rock n' roll, a introdução de um momento spoken word com acompanhamento de pintura fê-lo esquecer por uns momentos - e chegou a arrepiar. O medo perdeu-se em J'ai Mal Aux Dents, que a meio se transformou em Shempal Buddha, virtude da anedota já várias vezes contada envolvendo um fã norte-americano.

Arriscamos dizer: se no mundo reinasse a anarquia, todas as bandas seriam como os Faust. E maravilhoso seria falar da música escondida numa betoneira, no cair de pedras sobre o palco ou nas faíscas que saltavam do metal. Mas também haveria espaço para as guitarras, e não existiriam problemas no PA - bem gritou James Johnston, mas play it fucking loud! foi algo que faltou. Mas não faltou nem um alegre membro do público a dançar nestas altercações psicadélico-industriais nem o autor da frase anterior; uma versão (se é que se pode apelidar de tal) de A Hard Rain's A-Gonna Fall com acompanhamento de berbequim serviu de entrada a Krautrock, a tal canção que definiu o género que definiu a canção, antes dos Faust saírem do palco e regressarem para o merecido e ansiado encore, terminando finalmente o concerto com a minimalista Mamie Is Blue. Que dizer, então, depois desta experiência? Nada. Aplaudir de pé, como o fizeram os muitos presentes no Maria Matos. Não será todos os dias, nem sequer anos, que teremos outra oportunidade destas.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ninja Sardine



Para quem não sabe, a Ninja Tune faz vinte anos. E o que é a Ninja Tune? Bem, nada mais nada menos que a editora que deu ao mundo o hip-hop cerebral de Amon Tobin ou os grandes Cinematic Orchestra. E porque é que é importante falar hoje da Ninja Tune? Porque fazem 20 anos, estúpido do caralho, não leste a primeira frase? Adiante: qual Jesus Cristo no 25/12, a editora decidiu dar-nos a nós, pobres ouvintes sedentos, um tratado de tudo o que representam na cena electrónica actual: uma compilação de sete horas (não é para meninos) onde artistas tão diversos como Diplo, Roots Manuva, Bonobo, os dois mencionados anteriormente, Jaga Jazzist ou Zomby emprestam algumas das suas melhores mixes e faixas exclusivas em jeito de festa. Hip e Trip, dancehall, dub, acid, pimba, vem lá tudo representado. É só escolher.

Agora era a parte em que eu recomendava faixas individuais para dar um gostinho da coisa, mas que se foda: ouçam tudo. TUDO. Todos os seis discos. De preferência em volume invulgarmente alto, para darem também a conhecer aos vizinhos (ou partir-lhes os vidros e os tímpanos com o p-o-d-e-r daqueles graves). Não se esqueçam de enrolar uns quantos em jeito de sacrifício ao Deus do beat. Obviamente que um bombom destes é coisa para custar um balúrdio, mas para isso é que existe a internet, amirite? No blog mais famoso do mundo. Googlem. Não digo mais nada, porque tenho príncipios morais.

domingo, 19 de setembro de 2010

Há Festa Na Mouraria



As relações amor-ódio são parte integrante não só da cultura musical de cada um como da sociedade em que vivemos. Claro que por vezes podem desvanecer: por exemplo, eu odiava o Puto Sam até ouvir os Orelha Negra - isto para dar um exemplo de ódio->amor no que concerne à música - e continuo a odiar o Benfica - isto para dar um exemplo de ódio->ódio eterno no que concerne à sociedade. Com B Fachada é igual: há quem o considere o melhor letrista português dos últimos 30 anos (o que é, francamente, uma opinião estúpida), há quem lhe odeie o pretensiosismo e os maneirismos (o que é, francamente, igualmente estúpido).

Centremo-nos em dois pontos. Primeiro, as canções são realmente boas (Eu vou ser o puto Abrantes, eu vou ser o Panda Bear foi o grito de guerra deste verão), a personalidade é, estando atento, um falso auto-elogio. É óbvio que de B Fachada tudo indica para que seja um troll. Quem o encara como tal encontra-lhe nos discos um humor blasé que o levou a ser a estrela do novo anúncio do azeite Gallo, que é tipo a epítome do trolling, quem não vai nas suas cantigas, perde as cantigas (trocadilho ridículo mas cheio de verdade).

Mas eu não tenho que estar aqui a defender a genialidade ou falta dela de B Fachada. Fico pelos discos (o último EP ainda está disponível aqui) e pelos concertos, como o de hoje no Clube Ferroviário, em Santa Apolónia, com vista para o mar e para a cidade, repleto de gente (e de muitos hipsters que se enquadram naquele primeiro grupo de idiotas de que falei em cima), onde estiveram canções como Os Discos Do Sérgio Godinho, onde esteve a fabulástica camisa que segundo dizem já havia levado ao Avante, e onde esteve o contrabaixista do 5 Para A Meia-Noite do qual ninguém quer saber. E foi grande, como grande é o Bernardo. Perante isto, que mais dizer? Fazem falta mais trolls assim.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

M.T.V. - Get Off The Air



Como devem ou não saber, a música pop é uma merda. A culpa é, obviamente, nossa. Nossa, Portugueses, não nossa, consumidores. E agora vocês perguntam: "lol dude arranja dessa merda que fumaste". E eu arranjo na boa, peçam-me no Facebook. E depois de estarem completamente desviados, perguntam: "mas afinal como é que nós, Portugueses, temos a culpa da música pop ser uma merda, se o David Fonseca só tem uns 15 anos de carreira?". E é aí que eu explico e vos garanto que a vossa mente vai explodir.

Ponto no. 1: o Justin Bieber é uma merda. Facto. As meninas de três anos gostam, ergo, é merda. E quem gerou o Justin Bieber? As grandes empresas capitalistas que decidiram apostar no mercado da música para teenagers. Porque, e não neguem, o nosso gosto musical mais ou menos até aos doze anos é uma merda. Culpa nossa? Não: culpa dos nossos pais, que nos compravam os CDs de Limp Bizkit e artistas af(em)in(ado)s para que pudéssemos ter o que eles não tiveram: algo para além da Amália. Esta forma de pensar é culpa dos psicólogos, mas não abordemos esse lado. Dizia então que o Justin Bieber é uma merda. Quem gerou o Justin Bieber?

Em todos os pontos da história da pop moderna existiram grupos de rapazes bonitos que geraram bandas multimilionárias. Os pontos de contacto mais recente com o atrasado do canadiano são, obviamente, os Backstreet Boys e os Take That - que são quiçá os nomes mais out-of-the-closet de sempre; vá lá, rapazes da rua de trás? Até o Carlos Cruz se riu. E depois meteu mais um recurso. Mas, e a geração de hoje que é a minha não se lembra, antes desses dois existiram os New Kids On The Block. Que, por alguma razão inexplicável e validatória do ponto de vista de que Deus não existe, decidiram reunir-se e voltar a dar concertos. E o mundo facepalmou.

Recuemos ainda mais. Lembram-se dos Menudo? Não, não a nova geração daquele programa da MTV que eu nunca vi, juro. Os dos anos 70/80, que tiveram nas suas fileiras a mais recente contratação do movimento LGBT, o Ricky Martin (bem, não é grande contratação quando toda a gente já tinha a ideia do clube em que ele jogava). Os Menudo eram uma banda fabulástica de Porto Rico que agradava bastante às meninas de então. Só que estes chicos não seriam nada se não fosse a influência daquela que é provavelmente a última boys band (ou banda de rapazes, se quisermos entrar em FlorCaveirismos) que fez, de facto, canções de jeito. Vocês conhecem-nos. Viram o Shrek. Certo que na voz dos saudosos Smash Mouth, mas conhecem:

Os Monkees. Os Monkees eram fantásticos. Os Monkees eram do punk: mesmo sendo um offshoot da indústria, odiavam a indústria. Os Sex Pistols fizeram uma cover de uma canção deles. Têm cred. Foram, repetindo-me, a última banda de rapazes a ter cred. Nasceram em 1965, como resposta aos... querem adivinhar? Por esta altura já devem estar a pensar onde é que eu vou parar com estes argumentos, mas garanto-vos que não se vão arrepender. Acho eu. Se se arrependerem podem dar-me porrada. Ou parar agora e ir ler um livro, fazer alguma coisa de produtivo.

Ainda comigo? Óptimo. Como eu dizia, os Monkees foram a resposta à maior, melhor, mais popular das bandas: os Beatles themselves. Os Beatles eram (e são) um bocado como o Benfica: conquistaram muitos fãs nos anos 60, mas a partir daí o mundo acordou e descobriu coisas melhores, e agora só permanecem com o estatuto "melhor cena de sempre" na cabeça de gente velha e aborrecida. Não que eu deixe de fritar completamente com a I Am The Walrus ou a Tomorrow Never Knows. Mas antes de darem na droga (abençoada), os Beatles só existiam para molhar cuequinhas adolescentes. Moda que teve precursor em quem?

Rei do rock, ou aborto gordo em cima de um palco: Elvis Presley tem duas personas distintas. Aquela que interessa para o caso chocou os E.U.A. puritanos dos fifties quando surgiu a abanar a anca e a cantar música negra, a única que interessava. And lo, panties were soiled. Aos 20 anos, era bonito, tinha boa voz, e mexia-se como um doido. Centremo-nos na música: o rock n' roll começava a dar os primeiros passos, Chuck Berry e Little Richard criavam canções intemporais e os blues antigos eram já uma miragem; o dia em que o homem branco começou a cantar música negra foi a morte da música.

E de onde vieram os blues? Da América segregada onde os linchamentos do KKK eram coisa corrente, porque afinal de coisas, não se pode deixar que esses pretos de merda toquem nas nossas filhas, amirite? Livres da escravatura, mas sem condições sociais, expurgavam as agruras da vida em guitarras. Robert Johnson, por ser o nome mais associado ao rock, é o mais falado hoje, mas não devemos negar, nunca, a beleza das vozes femininas: Bessie Smith, Sister Rosetta Tharpe, Ma Rainey. Para além de, claro está, Bo Diddley (que é Jesus), Blind Willie Johnson, Son House.

Resumindo então: os blues só existiram porque existiu segregação, e a segregação só existiu porque existiu escravatura. E de onde vieram os escravos? Maioritariamente de África, claro está, porque os nativos eram fortes, trabalhavam bem, e as mulheres negras tinham bundões maiores para os branquelas ricos se divertirem e fazerem bastardozinhos. A exploração do continente, que hoje mudou das mãos ocidentais para as dos chineses, durou (e dura há) séculos. E, terminando o longo raciocínio, devemos essa exploração, e as inúmeras descobertas que a precederam, a quem?



Exacto: a este filho da puta. Tudo bem que tinhas um sonho, Henrique. Que o mar é belo, que a Mensagem que influenciaste é o melhor poema de sempre, que fomos um país a sério durante uns tempos, mas diz-me, Henrique, alguma vez paraste para pensar nas consequências? Claro que não, Henrique, não pensaste. No teu tempo quem quisesse ser famoso tocava alaúde. Nunca te passou pela cabeça que à tua pala milhares de negros fossem tratados abaixo de animal e que estes se vingassem inventando música apelativa, pois não, Henrique?

Era quem te tivesse fodido a tromba e dado de comer a um espanhol. Foda-se.

Terminada a lição de história, uma nota de esperança: nem tudo o que há na MTV é simplesmente mau. Há coisas péssimas. Mas, graças ao poder mágico da internet, até um bolo de merda pode ser transformado num diamante. Esta notícia tem umas semanas, mas há que continuar a realçar: U Smile, Justin Bieber a velocidade oito vezes reduzida, é a melhor malha do ano. É tão boa que ao ouvir todos os 35 minutos deste épico nos esquecemos de que a escravatura existiu. É tão bom que Brian Eno e os Sigur Rós já pediram indicações ao rapazito. É tão bom que, epá, sei lá, milhões de corações. Escutai. Senti. E ao terminar, olhem para cima e contemplem a face de Deus. A não ser que o vizinho de cima esteja na hora do cigarro. É sempre chato quando isso acontece.

Tanta merda só para vos mostrar esta tanga, hein? Nunca mais me leiam.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sappy



Ainda parece ter sido ontem.

Lembro-me de uma das primeiras vezes que vi e ouvi a Smells Like Teen Spirit na (então imprescindível) MTV. Tinha oito, nove anos, passaram-na imediatamente antes da Self Esteem dos Offspring e creio que de um episódio de Beavis & Butthead. Como é normal, naqueles tempos todos os nascidos em pós 85 não ligavam à música, mas aos jogos de bola até se acenderem os candeeiros indicando a hora de ir para casa, às Mega Drives onde o Sonic era presença constante, à Cartoon Network e às primeiras revistas onde senhoras mais velhas sorriam enquanto seguravam em pilinhas. Como todas as infâncias de todos os períodos e gerações, foram os tempos mais felizes das nossas vidas. Isso das guitarras e essas coisas ficavam a cargo geralmente dos irmãos ou irmãs mais velhas que ouviam Metallica; as nossas canções eram as do Eurodance trauteável ou a cassete dos Onda Choc que por algum motivo nunca se estragava. Não se sabia o que era flanela. Nem grunge. Nem Nirvana. Sim, gritar num inglês infantil with the lights out, it's less dangerous, sem saber o que raio quereria dizer, era hilariante. Apenas isso. Nada de lhe atribuir qualquer outro sentido, deprimente ou depressivo, de um estado de espírito Geração X.

Não me lembro da morte de Kurt Cobain. Lembro-me perfeitamente da de Ayrton Senna, ou de um anúncio da RTP de prevenção aos incêndios florestais em que uma árvore ardia ao som de What A Wonderful World (ainda hoje, muito por culpa desse anúncio, a canção é-me absurdamente triste), ou da loucura que foram os Tazos. Não me lembro da morte que marcou um fim generacional, um vazio existencial nas cabeças de então adolescentes. É-me estranho que hoje, ao ouvir os Nirvana e saber que Cobain morreu, esse vazio lá esteja. Não sou adolescente, ou prestes a sair disso. Comecei a ouvir seriamente música, late bloomer, aos 17. Não diria que 1991: The Year Punk Broke é um dos filmes da minha vida.

A tendência retro terá uma explicação para isto. Somos levamos, como referido anteriormente, a crer que a nossa infância foram os melhores anos da nossa vida, e que há que repeti-los ou, pelo menos, emulá-los. Porque razão?

Haverá uma explicação puramente psicológica ou antropológica para isto.

Fora da explicação, do sentimento maníaco ou da ideia de que a expressão punk broke significará tanto que o punk se partiu e se espalhou por todo o lado como que se partiu e desvaneceu em mil pedaços; dizer que os Nirvana foram a última grande Banda, com maiúscula, que nunca mais, culpa da geração que se lhe seguiu, existirá outra que alcance tal lugar, sem falar apenas e só do som, é plagiar todos os demais textos que já foram escritos sobre o tema, é querer ser mais papista do que os papas que os viveram em primeiro plano. Por ser plágio, que o é, deixará de ser verdade, porque o é?

Endeusar Cobain, que nunca quis ser mais que um miúdo, é insultar a sua memória?

Não querer ser mais que miúdos, é insultar a nossa?

Não se pode recriar ou reviver a história. Os Nirvana continuarão para sempre naquele plano inalcançável do what if... e é isso que faz que continuem a ter fãs, ano após ano, geração após geração. Nada de errado com isso. O espírito adolescente é um organismo mutável, variando consoante a época. Odiaremos para sempre a escola, escreveremos sempre poemas sobre caixas em forma de coração, a depressão que nos é característica (e existe, por mais fortes que queiramos ser) terá sempre em I Hate Myself And Want To Die um grito de apatia - a guerra interior. Deveremos agradecer-lhes, a eles e ao movimento grunge, verdadeiro abcesso punk por, mais que ninguém, nos terem feito contemplar a nossa própria mortalidade? Ou deveremos castigá-los?

Deveremos simplesmente crescer e esquecer?

Ou aceitarmo-nos e crescer?

Hoje é noite de desejo uterino. Meditemos.

domingo, 5 de setembro de 2010

Meu Deus, é como se fosse 2007 outra vez



Escrevem-se estas linhas ao mesmo tempo que Half Light I ressoa nos Sennheiser; é correcto falar de um regresso à boa forma quando os Arcade Fire nunca a perderam? The Suburbs segue a mesma linha da canção pop épica e do malhão rock and roll à la Springsteen (Month Of May, tal como Keep The Car Running, vai encontrar o seu lugar em setlists d'O Boss). Venha rapidamente o 18 de Novembro para que a certeza caia sobre mais cabeças: melhor banda da década 00.

Igualmente épico é o tema que tem soado um pouco por todo o lado onde se passa música decente: ou não fosse aquele crescendo uma delícia. Falamos de Caribou e da sua Sun, séria candidata a canção do ano - e, se quiserem, os fanáticos, tal como os portistas, já podem encomendar as faixas. Canadá, líder mundial na produção de ouro desde 1896.

Do Canadá para NY, a banda que terá introduzido muito boa gente a esse blanket term que é o pós-punk; os Interpol estão prestes a lançar o seu quarto disco, desta feita homónimo, e quem já o sacou ouviu tem isto para dizer: continuam excelentes. Sim: eu gostei de Our Love To Admire e da Heinrich Maneuver. O próximo tema a aparecer nos Morangos chama-se Lights e já deverá circular por aí, eu é que tenho preguiça de ir ao youtube. Único ponto fraco a reter: a incursão pelo espanhol em The Undoing, tema que encerra o disco. WTF, Pauly?



E porque sou um arrogante de merda com falta de atenção, toca a ir ler esta coisa. Danke!

domingo, 15 de agosto de 2010

Crónica de uma Revolta Adolescente



Um tempo houve em que aquilo que eu ouvia se construía à base do ruído. Nomeadamente Black Metal, que é ruído para meninos. Mas foi a partir daí que eu fui descobrindo outras coisas mais abrasivas e estranhas aos ouvidos dos meus amigos que só ouvem Tiesto. Entre essas coisas abrasivas contavam-se, à altura, os Atari Teenage Riot - até porque o anarquista infantil que havia em mim achava muita graça a todo aquele choque anti-sociedade vigente e morte aos nazos e etc. Ainda acho graça a isso tudo. É por isso que não posso deixar de ficar tristemente enraivecido com a notícia de que Alec Empire e restantes vão estar de regresso a Portugal, mas ao Porto. Ora, para quem mora a 300km e não tem sequer carta de condução, isto não pode ser uma boa notícia. Nunca.

Quem é da maravilhosa cidade invicta com o maravilhoso clube azul que por lá habita vai ter a oportunidade de a 17 de Setembro (tão em cima, tão em cima... podia ter-se feito um pézinho de meia) constatar se após todos estes anos os ATR continuam a espalhar a violência. Para quem não conhece, shame on you; peguem imediatamente em Delete Yourself!, de 1995, e deliciem-se, façam mosh ao gato, partam vidraças de bancos. Para quem conhece através do Velocidade Furiosa, estimo que se fodam (é um filme bom para passar o tempo. Mas há que ter aquele cuidado hipster em não querer que a malta dos ailerons começe a ouvir ATR no seu Punto xunado).

Encare-se com tranquilidade que no tempo áureo dos ATR, o futuro era negro, distópico, e o drum n bass ia salvar o mundo; chegamos a 2010 sem que nada disso tenha acontecido (nem distopia, nem utopia - o mesmo marasmo). Por isso calha bem esta reunião; nostálgica q.b., politicamente relevante ainda. O confronto generacional perde o sentido quando somos atingidos pelos cacos que o molotov Revolution Action espalhou pela calçada. Thrash metal com drum machines, urgência punk-anarquista em querer destruir e reutilizar, Nic Endo gostosa. Awesome, ou Awesome?

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

The Summer Of Our Thank God, I'm Glad That Joke's Over



E pronto; chegamos ao fim da série Festivais de Verão 2010. Houve lágrimas, houve raiva, houve falhas incríveis (Milhões de Festa, Oeiras Sounds), houve falta de feedback porque vocês são todos uns maricas que não deixam comentários. Mas como somos teimosos e oh, so bored, façamos uma pausa na audição deste fantástico best-of da Nancy Sinatra para provar que o melhor fica sempre para o fim: o festival dos betos está do caraças este ano.

QUINTA-FEIRA, 05/08

Depois dos 2 Many DJs abrirem as hostes na Quarta em formato DJ set, damos por nós no primeiro e, provavelmente, melhor dia do festival: seja pela rebeldia adolescente de M.I.A. (prestes a tornar-se tão irrelevante politicamente como os RAtM [calma GuêPê]), pela experiência alucinatória transcendental que deverá ser um concerto dos Flaming Lips ou pelo sexo tornado música (ou o contrário?) nas mãos de Kruder & Dorfmeister. Mas é a trupe de Wayne Coyne que arrebata completamente todos os outros nomes, como é natural. Cá esperaremos os relatos de quem ouviu (se tocarem) Watching The Planets no meio do pó.

SEXTA-FEIRA, 05/08

2001 ligou e pediu aos Jamiroquai que não se perdessem para muito longe da linha temporal (ainda que Love Foolosophy seja prazer culpado e continue a soar tão bem como no 9º ano). Há duas mulheres bonitas (Lykke Li e Colbie Caillat), um gajo feio (James Morrison) e um super-grupo que realmente faz por sê-lo: Orelha Negra, a.k.a. o disco português do ano so far. Estás perdoado, Sam. Sempre gostei da Poetas de Karaoke. A estrela maior da constelação chama-se Joshua Davis e vocês provavelmente conhecê-lo-ão do excelente Endtroducing.... que já esteve à venda por 4€ no Jumbo. Há que amar os saldos.

SÁBADO, 06/08

A voz irritante do Mika junta-se à voz irritante das Sugababes que se juntam à voz irritante do Tim que se junta à pop irritante dos Friendly Fires para fazer da Zambujeira o local mais irritante do ano durante 24h. Sim, mais irritante que um Centro de Saúde Alverquense. Aqui não há idosos, mas há hipsters betos. (São todos. Lol.) Dia mais fraco de um cartaz de outro modo coerente.


DOMINGO, 07/08

Como forma de despedida de quatro dias perdidos no deserto alentejano, acharam por bem partir os corações a centenas de pessoas por esse Portugal fora que não poderão estar presentes por compromissos vários e levar Beirut e a sua orquestra de Gulag para encerrar o festival. Ainda não engulo o cancelamento do Coliseu. Foda-se ;_;. Depois há Air (também já moram cá), Massive Attack (idem aspas) e um regresso rápido de Mike Patton para interpretar canções italianas dos anos 50/60 (e, sabem que mais? É surpreendentemente bom.

Eis o melhor Sudoeste dos últimos anos. Será para manter a tendência, ou é só uma pequenina fugacidade como o foi o SBSR de 2007? Só o próximo ano o dirá. Para já, é fazer malas quem puder e curtir milhões na costa.

Ou então ir ao Boom. ÁCIDOS, FUCK YEAH

segunda-feira, 26 de julho de 2010

The Summer Of Our... Ah, Fuck It



Salva-se Caribou, Tallest Man On Earth, Vivian Girls. Aparentemente Best Coast também é giro.

De resto, os meninos que vão para aqui para dizerem que são bué alternativos e etc. deviam ter ido ao Milhões de Festa.

'nuff said.

A sério, não me podem pedir um texto maior quando se vê a desilusão que é este cartaz de Coura.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

The Summer Of Our Drunken Haze: Super Bock Super Rock



Tenho uma certa afinidade com o SBSR. Afinal de contas, a edição de 2007 foi o meu apadrinhamento nesta coisa dos concertos e festivais. Antes disso ficava em casa a espremer borbulhas. Hoje continuo a espremer borbulhas, mas menos - um pouco de sol faz muito bem à pele.

SEXTA-FEIRA, 16/07

Porque estamos numa época em que a moda dos anos 80 volta a estar em voga (cortesia hipster), o cabeça de cartaz só poderia ser uma banda que nunca de lá devia ter saído estou a brincar, naturalmente. Os Pet Shop Boys já não são relevantes, mas que interessa? Isto continua a ser estupidamente bom e a merecer um lugar na lista de covers que a princípio estranhamos e depois devoramos com prazer culpado. Como as gajas e os chocolates. Outros destaques: Grizzly Bear (depois de dois concertos esgotados), Beach House (depois de um concerto fenomenal) e Cut Copy. Ou St. Vincent se forem buéda indies. Nunca ouvi.

SÁBADO, 17/07

Open Up é, por mais voltas que se dêem, o cartão de visita dos Leftfield. Com justiça; muito se dançou ao som disto na infância. Eu, pelo menos. Os Vampire Weekend continuam betinhos e bonitinhos - e a fazer coisas como Cousins e Diplomat's Son. Um dos melhores de 2010, até agora. Ainda: Hot Chip (Over and Oveeeer), Casablancas menos Strokes, Patrick Watson e Holly Miranda.

DOMINGO, 18/07

Os Empire Of The Sun soam como se alguém tivesse engolido os MGMT, ficado mal-disposto e vomitasse de seguida, para dentro da boca de alguém que vomitaria ela mesma para a boca de outra e assim sucessivamente até sair em formato CD. Ou seja: são o swap.avi da música pop. (Não pesquisem este ficheiro. Foram avisados.) Os National vieram passar uns dias à sua casa de férias, como referido anteriormente. Claro que o destaque maior vai para Prince; a princípio ainda pensamos que não merece a pena, que a Purple Rain e a Kiss são as únicas decentes, etc., mas reflictam nisto: tudo o que ele faz é bom. Tudo.

Em termos de cartaz e localização (a sério, dudes? Sesimbra?) parecem estar reunidas as condições para que o SBSR seja o Paredes de Coura do sul. Só falta acorrerem-lhe os estudantes com flanelas e óculos de massa e florzinhas na cabeça. Já estou como a minha mãe em relação ao disco: tudo merda. Só que disco é awesome e a pop alternativa de hoje também. Oh, deuses da moda e da música, can't we all just get along?

domingo, 11 de julho de 2010

The Summer Of Our «Oh Mama, I Wanna Go Surfing»



Isto podia ser uma piada sobre os seios da Pamela Anderson, mas decidi optar pela via pós-modernista e fazer uma piada sobre uma piada. Claro que os seios da Pamela Anderson já são uma piada em si e não estamos em 1996. Velhos tempos, TVI. Velhos tempos.

QUINTA-FEIRA, 15/07

Goldfrapp está morta e enterrada. Nem o glamour à la Blondie de Rocket salva a tragédia que é Head First. Morcheeba é meh. Os Löbo têm um baterista gordo. Isto é claramente uma vantagem.

SEXTA-FEIRA, 16/07

Os Placebo estão mortos e enterrados, e nem o... bem, não há mesmo nenhum single decente em Battle For The Sun. Peaches arranjou uma casa cá, ao que parece no mesmo bairro dos Nouvelle Vague e dos National (os Beach House seguem-se-lhe dentro de momentos). Nunca ouvi nada a solo do David Fonseca. Juro.

SÁBADO, 17/07

Ben Harper est... bem, talvez quebre o padrão. Não se pode dizer o mesmo dos Editors. dEUS é dEUS e dEUS continuará (também já compraram uma vivenda). Ainda assim o Marés Vivas não foge à ideia de que é o Rock In Rio dos pobres que ouvem a Comercial. Oh well.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

The Summer Of Our Sunburn: Alive



Temperaturas previstas de +30º. Que tempo tão bom para aqueles que não passam o dia encafuados numa loja sem ar condicionado; assim podem ir suar-se para junto dos camaradas que preferem passar horas sentados no alcatrão a ferver só para poderem mencioná-lo em Facebooks e afins em vez de irem à praia. Sou uma dessas pessoas. A minha auto-estima é miserável.

QUINTA-FEIRA, 08/07

É mais que certo que se vá passar a maior parte do tempo no palco alternativo (a não ser aqueles que gostam demasiado dos anos 90 para os deixar morrer, e esses só lá estão pelos AiC). Antes do sol se pôr, o maior destaque vai para os The Drums, que até ver lançaram na música um dos mais potentes singlesvírus de verão deste ano (e do passado). E porque é verão e as pessoas se amam mais, Devendra Banhart também regressa para falar de coisas bonitas na mesma altura em que os Moonspell estiverem no principal a falar de coisas putrefactas. A reter ainda três dos hypes mais importantes da história recente: Florence, La Roux (5€ em como ainda cancela outra vez, pelo lulz) e o orgasmo indie dos The XX. Como prato principal o fantástico Mike Patton e os "seus" Faith No More, dos quais se espera que façam por rejeitar o rótulo de velhos que se reuniram pelo €.

SEXTA-FEIRA, 09/07

Seria estranho dizer, de um dia de festival, que a melhor banda aqui posicionada é portuguesa - não fosse o facto de a banda em questão serem os Mão Morta. Que são a melhor banda do mundo. Mas estou a ser injusto para com os Manic Street Preachers, que é tipo RAtM, mas para pessoas inteligentes (estou a brincar, GuêPêzinho). Um cabeça-de-cartaz do tempo do nu-metal é motivo para que os pêlos do cú se eriçem de medo, mas como são os Deftones, a.k.a. um diamante perdido no meio da merda, cujo último disco é inclusive bastante bom, nós ganhamos coragem. Para quem gosta de BBWs, Gossip no alternativo. Enjoy your lard.

SÁBADO, 09/07

OMG PEARL JAM !!!!!!!!11111ONEONEONE. Os Pearl Jam são para mim como o arroz de ervilhas: não os aprecio particularmente. Mas pronto, soltem as flanelas. Eu também gostava muito da MTV e do Ren & Stimpy na SIC aos Sábados. O destaque é, obviamente, para o projecto que definiu a década de dança - Mr. James Murphy e os LCD Som Sistema. Dropkick Murphys e Gogol Bordello completam um palco cheio de luz e cor. Há o interesse no palco alternativo de ver Girls - porque a Hellhole Ratrace é, ipso facto, uma canção lindona. Menção honrosa para os Simian Mobile Disco, porque eu não me esqueço das vezes que rodei o Attack Decay Sustain Release.

Não digam a ninguém: mas tem havido esporadicamente naquele estabelecimento que me paga o salário bilhetes para o dia 10 e passes de três dias devolvidos. Claro que como ninguém lê este blog, os putos que andam na net a chorar irão continuar a chorar. É o que dá não lerem blogs. HA HA!

terça-feira, 29 de junho de 2010

The Summer Of Our Train Ride: Delta Tejo



O Delta Tejo surgiu porque os milhares de emigrantes brasileiros e africanos também precisavam de um festival de música. Tudo bem. Tanto uns como outros podem exibir com orgulho o facto de já terem produzido ao longo da história da música alguns dos mais interessantes géneros, sons e bandas (excluindo obviamente sertanejo e kizomba. Foda-se). Os três dias no Alto da Ajuda mostram um cartaz que puxa pela dança em nome da libertação.

SEXTA-FEIRA, 02/07

À excepção de Shaggy e Expensive Soul*, dia bom para roçar em boas bundas: Carlinhos Brown (funkyyyy), Nação Zumbi (funkyyyy), Nu Soul Family (fun-kay) e o colossal soundsystem dos Buraka. Se a oportunidade surgir há que acabar a noite a dançar freneticamente ao som de Restless. Melhor faixa de 2010, ou melhor faixa de 2010?

* Num dia bêbado, sou até capaz de admitir que têm bons instrumentais. Mas o resto, o resto, foda-se.

SÁBADO, 03/07

Heartbeat era uma música gira. Depois apareceu nos Morangos. Continuou gira, mas agora tem o estigma: apareceu nos Morangos. Deve ser por isto que já não sou tão fã de Interpol quanto era. Nneka junta-se à nova coqueluche do fado (Ana Moura) e aos envelhecid'Os Mutantes para formar o trio de interesse deste dia. Seria melhor se fôssemos abençoados por uma reconciliação entre Rita Lee e a sua antiga banda. Mais probabilidades têm os Smiths de se juntar. Ando a bater muito nesta tecla ultimamente, não tenho?

DOMINGO, 04/07

Continuo com vinis velhos do Martinho da Vila para vender. Mandem mail. Puto Prata vai estar em altura no último dia do festival, juntamente com Batida (Buraka sem a fama) e Cacique'97. Estes últimos andarão a espalhar magia com a fabulosa Dragão. Afrobeat português; só a ideia soa bem.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

The Summer Of Our Rented Mercedes: CoolJazzFest



Se há festival que dá credibilidade V.I.P. a quem assiste, é este. Verdade que longe vão os tempos em que Cascais albergava concertos dos Can e de Miles Davis, mas note-se: uns acabaram, o outro morreu. Não que os nomes que lhes sucedem sejam piores de alguma forma - por exemplo e logo a abrir, a 1 de Julho, o concerto mais que esperado de Regina Spektor, que é também aquele com maior sexhipster-appeal. Bilhetes já esgotados para ouvir a voz e o piano da senhora.

Segue-se-lhe Chris Isaak, a.k.a. o tipo que canta aquela música buéda fixe THE WORLD IS ON FIIIRE NOTHING COULD SAVE BUT YOUUU. Mas é uma boa música. É uma grande música. É uma música nostálgica, das viagens de verão até aos lugares mais populosos do Algarve ou do Norte do país porque os papás só tinham uma única cassete em que o sr. Isaak surgia entre Michael Jackson e Milli Vanilli. Que belos tempos :'). A cinco de Julho.

13 de Julho; se a Oxigénio é música para respirar, Norah Jones é música para ignorar. Secas e aborrecidas, as canções da senhora vão com certeza levar a Cascais imensos fãs da rádio e tias que querem discutir o concerto com as amigas depois de uma sessão de cristaloterapia e Paulo Coelho. A evitar como o diabo da cruz para que não percamos a sanidade.

17 e 20 de Julho elevam a cena portuguesa, com actuações de António Pinho Vargas/Laurent Filipe/Groove4tet e da coqueluche do nacional-cançonetismo, os Deolinda do Movimento Perpétuo. Não me interpretem mal: até é giro. Mas cansa rapidamente. Para estranja ver.

22 de Julho seria o dia em que levaria a minha mãe, não fosse o facto de 1) ser um teenager bué rebelde e 2) ter o mínimo de gosto. Maria Bethânia. Bethâaaaania. Só o nome faz comichão nas narinas. Outro concerto para senhoras na menopausa.

Omara Portuondo a 23, Corinne Bailey Rae (guilty pleasure) a 24, Diana Krall a 25: tudo mulheres bonitas, tudo mulheres com voz. Com atenção especial para Omara, acompanhada da Orquestra (*gasp*) Buena Vista Social Club. Copo com rum e gelo numa mão, charuto cubano no outro: os comunistas estão certos, Cuba é awesome. Tenho um ódiozinho pela miss Krall - os discos dela não vendem e ocupam-me espaço na loja. Dass.

E finalmente (festival mais longo de sempre, hein?) dias 27, 28 e 29: Club des Beluges, Elvis Costello (óculos-de-massa-tástico) e Solomon Burke + Joss Stone; também conhecidos pelos três dias em que os homens não irão ter vergonha de dar um pulo a Cascais. Atenção maior para Costello. É bom e gosta de Suicide. Amor eterno.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

The Summer Of Our Discount Tent: Sumol Summer Fest



Ou, como reciclar piadas é sempre hilário. Sempre.

Não houve um dia em que não me fossem perguntar "vendem bilhetes para o summer fest"? Sim, vendemos. O problema: sendo verdade que a população hipster foge a sete pés mal sente o cheiro a reggae, o mesmo atrai colinas atrás de colinas de putos de catorze anos carregando no braço o imortal livro Festivais de Música Para Totós. Filas e filas de miúdas imberbes que de música só conhecem aquela música gira que passou nos Morangos e que é bué fixe e chill, tás a ver? Corpos atrás de corpos femininos por formar, enfurecidos de álcool e drogas leves, perdidos numa tenda no meio da Ericeira.

Meu Deus, o que eu não dava para lá estar.

O cartaz: tudo merda. Não adianta dissertar mais. Nenhum cartaz que ostente Gentleman à cabeça pode ser bom. Nem que antes toque o cadáver hirsuto de Sid Vicious. Ou que os Smiths se reúnam. E isto já é dizer muito. Demais, até.

Claro que se poderia dizer uma outra coisinha boa de Matisyahu. Mas isso não teria piada absolutamente nenhuma.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fuck Buddies



Sweet Love For Planet Earth veio apenas confirmar aquilo que já se sabia: os Fuck Buttons são a resposta ao programa SETI e vieram dos confins do universo para nos escravizarem a todos pela força da distorção e do beat 4/4. Quem achava impossível que dessem um concerto tão bom como o da ZDB no ano passado enganou-se tanto quanto Carlos Queiroz ao colocar Danny a titular; o ruído parece maior dentro da caverna do Lux, Andrew e Benjamin parecem menos tensos e infelizes e o público parece é mais pastilhado. Se pudéssemos inventar estilos diríamos que foi uma hora do melhor dance-noise desde que Masami Akita decidiu criar um bicho chamado Merzbeat. Mas é uma comparação injusta, ou mesmo absurda; centremo-nos antes na certeza de que o duo de Bristol é das coisas mais interessantes que surgiram do universo musical alternativo da década 00.

O alinhamento não foi muito diferente daquele de Setembro passado, com Surf Solar a abrir as hostilidades e os ouvidos de muito boa gente que se estreava nestas andanças do ruído. Tudo serve para o fabricar; Gameboys, karaokes da Fischer-Price, Casios do tamanho de uma unha do pé e um bombo ora militar ora tribal em que Benjamin batia à velocidade do E. Bright Tomorrow é um clássico com apenas dois anos de existência. Encore no final com a supra-mencionada Sweet Love..., perante um público meio atordoado e a sofrer de tinnitus que hoje aplaude o drone que produzem os Fuck Buttons e amanhã pedirá a proibição das vuvuzelas. Isto é rave século XXIII.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Saúde de Ferro



O Santiago Alquimista é um sítio giro. Para além de ter vista privilegiada sobre Lisboa e o rio omnipresente, o facto de se apresentar como bar traz uma certa nostalgia daqueles sítios onde um tipo ia beber uns copos e se a banda presente fosse boa éramos capazes de lhe prestar atenção (o Lux não conta, amiguinhos). Claro que só traz esta nostalgia para quem viveu esses tempos. Não é o meu caso. Mas esta introdução é porreira, hein?

A experiência sociológica que dá pelo nome de PAUS (aceitam-se piadas pornográfico-juvenis) quase que dá a entender que o fim dos Vicious Five não terá sido tão mau quanto o pintam. Mesmo que os teclados nos façam sentir coisas é naquele ser híbrido que dá pelo nome de bateria siamesa que se colocam todas as atenções - seja porque estamos sempre todos muito dispostos a apontar o que é diferente seja porque Joaquim e Hélio fazem dela uma experiência transcendental. Barulho ritmado, ou ritmo barulhento? A dúvida persistirá até alguém fizer a comparação com Lightning Bolt. Até lá só não são a banda mais barulhenta (isto é positivo) que já vi porque estive no Algarve em plena aparição de MBV.

Aos HEALTH (5€ em como só juntaram estas bandas por causa da paixão pelo Caps Lock) coube a honra de fechar a noite ruidosa com a sua espécie de shoegaze. Mas essa etiqueta só se aplica ao estilo - são bonitinhos, novinhos, olham demasiadas vezes para o chão, as meninas da audiência adoram (a única benção do hipsterismo: trazer a moda Lolita para concertos). Ao vivo aquilo que já é fodido em disco torna-se ainda mais fodido porque não há maneira de baixar o volume que brota das colunas. E se Crimewave, aquela que o pessoal só conhece por causa dos Crystal Castles, se apresenta com a mesma troada, é em We Are Water que a sala explode com tudo a cantar o refrão em uníssono. Aquilo que é etéreo no Shoegaze desaba sob as nossas cabeças como um meteoro. Se os Killing Joke eram o som da terra da vomitar, os HEALTH podem muito bem ser o céu - e o baixista foi um porreiro e assinou-me o disco. FANGASM

terça-feira, 25 de maio de 2010

Devagar se vai ao longe



Dêem-me só um minuto para respirar.

*Uuuf*

Ok. Depois da overdose hipster a que fui sujeito, só uma coisa a apontar dos XX: o hype é inteiramente justificado. Bandas com um tempo de vida tão curto como o deles não dão/não deviam ser capazes de dar um espectáculo ao nível do que apresentaram hoje na Aula Magna - para isso contribuiu em muito também o público que esgotou a sala e não parou de puxar e aplaudir pelos três miúdos. Grande jogo de luzes, grande prestação musical. Todos os concertos pop deviam ser assim.

Os Long Way To Alaska, que abriram, são portugueses e parecem ser bons rapazes. As canções situam-se algures entre a folk pastoral dos Fleet Foxes e o pós-rock; tocam poucos acordes mas enchem o mundo com eles. Porém, não se destacaram na noite de hoje, mesmo que tenham durado apenas vinte minutos. E se conseguem aborrecer alguém nesse período, é mau sinal. No myspace soam porreiro, though.

Um pano branco e o X no meio, e o público cruza os braços como num concerto de Xutos: não os vemos entrar, mas sabemos que estão lá mal começa Intro e aquela guitarra, aquela batida. Dão a cara enfim em Crystalized, que é grosso modo a sua filosofia de vida - GoOoOo sloooow... É redundante dizer que tocaram todos os êxitos quando no disco homónimo de estreia TODAS as canções são um êxito. Destaque maior para VCR, Heart Skipped A Beat e a fabulosa prestação de Shelter, que contou com um revivalismo trance lá pelo meio. Na primeira passagem por Portugal, o sentimento é unânime: já é um dos concertos do ano.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Minimum Maximum



Can you hear me now?

Depois do fim dos Big Black, grande instituição do pós-punk norte-americano, e dos Rapeman, melhor nome de sempre, Steve Albini formou os Shellac. E viu ele que era bom. E depois os Shellac lançaram 1000 Hurts, e cimentaram a posição que os jornais lhes deram/dão como banda-chave do movimento alternativo e independente. E Steve Albini mandou-os para o caralho, porque não tem pretensões de ser uma estrela de rock; pois o rock é a estrela, fusão nuclear, osso ensanguentado, movimento em câmera lenta como um filme sobre tarântulas no National Geographic. Tal como definido pelo Martin Hannett de 24 Hour Party People: faster, but slower.

Can you hear me now?

Quase como irmãos gémeos nascidos em dias diferentes: os Mission Of Burma também vieram ao palco, perdão, ao forno da ZDB mostrar que também têm direito a um beijinho. São pesados, são abrasivos, parecem tocar cada acorde com cacos de vidro, se não os estivessemos a ver ali à nossa frente não imaginaríamos que já passam dos cinquenta. E debaixo do ruído uma linhagem distintamente pop, assim como os Pixies são pop, os Nirvana eram pop. Ainda bem que a velhice é só um estado de espírito. I won't take shit from you or anyone else, so fuck it! O prelúdio ideal do apocalipse sonoro que se lhes seguiria.

Can you hear me now?

Albini é engenheiro de som. Dos mais reputados do panorama musical. Entra por ali como qualquer engenheiro que não seja português: fato macaco, inspecciona a área, faz os últimos preparativos. E depois... descarga atrás de descarga. Riffs e ritmos básicos, minimais, que à primeira vista parecem fáceis de emular. Mas só à primeira vista - é difícil fazê-los explodir daquela forma. Quando se torna demasiado difícil manter o mesmo nível em palco, viram-se para o público, fazem sessões de perguntas e respostas, por mais imbecis que as perguntas sejam. Steady As She Goes puxa para o mosh, Prayer To God arranca améns e aleluias. The End Of Radio é um poema contado por um baixo sujo e maltrapilho. Cru como o bom rock. Perante tal amostra só resta ao público agradecer. Afinal de contas, estamos perante aquela que é muito provavelmente a última banda punk da história. Não assinam contratos, não cobram cachets fixos, não fogem aos fãs - e até ficaram mais um pouco à conversa depois do final, eu é que não vi porque tenho a mania da ecologia e ando de transportes. Os Shellac vieram a Portugal, 16 anos depois de se formarem. E vimos nós que era bom. Can you hear us now?




P.S. A partir de hoje também podem ler estas críticas da tanga no Bodyspace. Basta seguirem com atenção os posts deste camarada. E sim, senti necessidade de fazer publicidade. E desta rima.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Ressurreição Não Passará Na Televisão



Gil Scott-Heron esteve prestes a morrer; hoje, ultrapassados os anos de dependência de droga, de casos de polícia e de fraca inspiração artística, surge como um homem novo. I'm New Here conta em 28 minutos o que Scott-Heron quis dizer em dezasseis e não pôde - elegias à família e às origens, tributos aos Blues que tanto o inspiraram (Bluesologist, apresenta-se ele), exercícios de auto-crítica. Regressa aos discos com uma nova maturidade (ou jovialidade) própria de quem, aos sessenta anos, venceu as batalhas que a vida nos prepara, contra si, contra os outros, contra o tempo, mas sempre com o mesmo estilo pungente que lhe é tão característico e que lhe vale os epítetos de avô do rap.

Não foi, no entanto, sobre I'm New Here que se baseou para o espectáculo de hoje na Aula Magna (e anteontem, na Casa da Música), representando, ao invés, uma espécie de best of da sua carreira, misturada com um enorme sentido de humor (a spoken word substituída pela stand-up comedy). Mostrou-se surpreendido por o terem dado como "desaparecido", e, como que a provar o contrário, começa com Blue Collar, retrato de quem se sabe perdido mas não desiste de se encontrar (Seems like they kick me when I'm down/Get on up, get on up). Avança por Winter In America sem soçobrar, e, no que toca ao sampling, agradece agora de certo modo a quem lhe foi buscar inspiração, casos de Kanye West e/ou Common. Conta piadas ordinárias sobre a origem da palavra «jazz» antes de Is That Jazz?. Mais que música, tudo é poesia nas suas palavras - e o contrário também se aplica.

Muito bem acompanhado pela sua banda (que a espaços também foi tendo direito aos seus momentos de glória), terminou com uma fantástica The Bottle, até chegarem os encores; primeiro com Three Miles Down, em que o público aderiu aos seus incitamentos para "cantar", e de seguida, abruptamente (pois as luzes e a música de fundo tinham regressado, e meia sala estava à porta de saída), com Better Days Ahead, a despedida que faltava. Faltou a fabulosa Home Is Where The Hatred Is, mas não será por aí que se poderá dar o serão como perdido; afinal de contas, após uma semana tão católica, pudemos assistir a uma reencarnação ao vivo. As revoluções passam, as canções ficam.

domingo, 16 de maio de 2010

Gulags e Elefantes



Acontece durante os primeiros segundos de Gulag Orkestar. Deixamos de ter os olhos na estrada e formam-se na nossa cabeça imagens de uns Balcãs distantes e divididos, desfile de culturas de pátrias várias, unidos pela península comum e pela vontade de sarar feridas recentes (não obstante o facto de as exibirem orgulhosamente como um troféu). O que Zach Condon faz com a sua orquestra não é um mero disco pop, mas um elogio a toda uma nação, sob uma estética quase que Pessoana: o coração sente saudades da terra onde nunca esteve.

Passamos por Brandenburg, por aquele ukulele fantástico, por aquele desejo-traço-lamento: send me now, the winter's over. A banda cresce e a viagem ganha forma, percorremos as vielas de um leste imaginário à procura da vida, ou do amor, ou da violência, ou de um mero copo onde esquecer todos três. O alcatrão corre como o Reno. E, subitamente, deixamos de poder esquecer, não a desilusão, mas o fim da ilusão: I won't have you anymore, I can't... até estarmos sozinhos e a contemplar os nossos próprios falhanços num país desconhecido.

Reencontramo-nos na Itália, onde é difícil entristecer - a nostalgia não nos parece algo triste. Porém, a memória dela teima em não se afastar. No meio das deambulações, damos connosco a não acreditar em Deus mas a fazer pedidos a estrelas cadentes - e um estranho sorriso toma-nos conta da cara. Perdidos, destroçados, humilhados, vemos algum conforto na nação que nos acolheu, mas não chega (but there's nowhere to go...). A vontade é a de submergir, é a da palavra maldita que é o suicídio. Watch now, all will end/now I'm under a tide. After The Curtain, que é como quem diz, depois da morte, há ainda uma escolha a fazer, no meio dos aplausos de quem connosco conviveu: que merecemos nós?

Merecemos, claro está, fugir ao Gulag; Elephant Gun faz-nos levantar do chão em busca de uma nova identidade, ou coragem, ou até mesmo de uma alma nova. All that is left is all that I hide. Terminado o exercício de auto-avaliação, um pouco de humor na versão (uma das melhores de sempre) de Le Moribond e de apoteose em My Family's Role In The World Revolution: impossível manter os braços em baixo. A vida é isto: sentir tudo de uma vez. Um grande álbum, uma grande banda é isto: fazer-nos sentir tudo de uma vez.

sábado, 15 de maio de 2010

The Summer Of Our Discount Tent: Rock In Rio



Se, como eu, puxaram os estores da janela do vosso quarto para cima para deixar entrar o ar depois de uma maratona nocturna do How I Met Your Mother, devem ter reparado que o sol voltou. Que é como quem diz: o verão está a chegar, e com ele aqueles eventos que fazem as delícias de promotores e painéis publicitários, e quiçá de alguns amantes da música - os festivais. Desde há uns tempos para cá que o país tem assistido a uma mais variada oferta no que lhes toca; há festivais para hippies (FMM), para hipsters (PdC), para mães (CoolJazzFest) e para idiotas (Rock In Rio). É precisamente sobre este último que se debruça o texto de hoje, agora que falta uma semana para começarem as hostilidades AH ESPERA ISTO É NA BELA VISTA HÁ SEMPRE HOSTILIDADES LOL e as reportagens 24/7 na Sic Radical e na MTV. Deus abençoe os media!

Podíamos falar da história do festival, da sua implementação cá, de quem já trouxe, os temas que trata, etc. mas isso não interessa um real caralho. Falamos de coisas mais importantes, ou seja, DO CARTAZ. Porque algumas pessoas ainda vão a festivais só pela música e não pela confraternização ou mariquices do género. Normalmente essas pessoas vivem uma vida muito triste e acham que vão ser alguma coisa na vida tipo crítico no Ípsilon. Não sintam pena delas que elas já têm bastante de si próprias. Adiante:

SEXTA-FEIRA, 21/05

Muito provavelmente o dia mais merdoso do festival (redundância). Ora note-se: abarca das piores coisas que o Brasil já ofereceu na pessoa de Ivete Sangalo ("mas ela dá um grande espectáculo e blá blá blá" EH PÁ, NÃO), o pior rapper português e o guitarrista/sex-symbol mais chato de sempre (John Mayer). Junta também bandazitas que cavalgaram a moda Deolinda (Oquestrada e Azeitonas), DJs pop como Calvin Harris e a voz esganiçada da Mariza para não nos esquecermos que estamos em Portugal. Cabeças de cartaz: Shakira (de quem ia falar mal, mas ganhei um novo respeito) e Deadmau5 (também é meio pop, mas do bom. Além disso anda pelo 4chan). Opinião pessoal: não vale a pena gastar 58€ por isto, nem que se seja rico e se queira gastar dinheiro à parva - é muito mais satisfatório limpar o cu a uma nota de cem.

SÁBADO, 22/05

Melhora em relação ao dia anterior, quando mais não seja pela inclusão dos FUCKING DEWAELE BROTHERS em versão live act - o que só por si deve valer meio bilhete. Destaque igual para Major Lazer, projecto anglo-americano de Diplo e Switch que vão fazer abanar corpos com a sua versão indie desse aborto musical que é o reggaeton. Para as pessoas que gostam de rádio e não de música, há também João Pedro Pais, Leona Lewis e (Sir) Elton John. Se bem que este último é um bocado injusto. Não há ninguém que não goste da Can You Feel The Love Tonight. Porque, vá lá, Rei Leão! Awesome.

QUINTA-FEIRA, 27/05

O cartaz para este dia encontra-se no mesmo patamar do de 22 - muito rock radio-friendly, agora não tanto para adultos mas para jovens. Entram em cena os Sum 41, que desconhecia ainda viverem, os inultrapassáveis (por mais que se tente) Xutos, Snow Patrol e finalmente Muse. E eu confesso: o último álbum não é tão mau como o pintam. De qualquer das formas, só lá iria para o momento NO ONE'S GONNA TAKE ME ALIIIIIIIIIVE da Knights Of Cydonia; caralhos me fodam se isso não é um som enorme. Na tenda, aplausos para Gui Boratto e pouco mais. Não se percebe porém porque é que um dia que supostamente levaria imensos fãs (de Muse) é à Quinta e depois há folga, mas a organização que responda a isso.

SÁBADO, 29/05

MELHOR. CARTAZ. DE. SEMPRE. Não estou a brincar. Ou talvez esteja. Afinal de contas, duvido que se vá ouvir alguma coisa por entre os gritinhos apaixonados das crianças que vão encher o recinto para verem a Hannah Montana. Eu enchia-a. À Hannah Montana. Ui. Só faltariam os Tokio Hotel para melhorar a festa e as gargantas, mas é para isso que servem os DeZertos, que agora até parecem uma banda a sério, com a reunião e disco novo e tal. Para meu gozo pessoal deviam ter aguardado mais uns 10 ou 20 anos antes de o fazerem, mas entende-se que precisem de dinheiro agora, com a crise. Um beijinho para a Amy Macdonald: ultrapassar na CREL o tour bus dela foi o segundo melhor momento "OMG ESTOU PERTO DE UMA CELEBRIDADE" a seguir à distância de 15cm a que estive do B Fachada anteontem. Não adianta falar da tenda porque não há um único nome que se safe. O Vibe é merda. Nem para curtir no meio da praia, tudo descalço e só de calções. Eish.

DOMINGO, 30/05

E, para não variar, o melhor dia do Rock In Rio é o do metal. Poderia ter sido ainda melhor se fossem os gigantes Motörhead a fechar e não a nova versão techno-tipo-Scooter dos Rammstein. OK, a Pussy tem graça, mas... parece que sucumbiram ao facilitismo depois de grandes temas como Spielhur, Seemann e/ou Morgenstern. É algo desapontante, na verdade. Nota para Soulfly e Megadeth, que também se apreciam nas doses certas. Por outro lado: Fingertips. Foda-se. Vale o bilhete pelo Lemmy e a sua fantástica verruga.

Eis então o festival da família, o F que faltava depois do futebol e de Fátima. Pontos positivos: absolutamente nenhuns. Pontos negativos: serão a minha tese de mestrado assim que volte à faculdade. Razões para se falar disto neste blog? Temos ouvidos de puta. Papamos tudo. Ou quase. A quem quer que vá: os meus sinceros pêsames. À organização: pessoal, vocês faziam muito mais dinheiro se tivessem preços especiais para família ou algo do género. Até o Rock One (que é o protótipo de tudo o que NÃO fazer de um festival) pensou nisso. 'Nuff said.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Vasta Simpatia



Até foi bom que o vento se impusesse na noite de hoje, como se a Primavera nunca tivesse chegado e o aquecimento global fosse uma mentira. Aqueles que se juntaram no Lux, discoteca normalmente libidinosa e hoje convertida em santuário intimista, viram-se acalentados por uma das mais belas vozes que já foi dada a conhecer ao mundo, mesmo que o mundo parcamente a conheça. Vashti Bunyan, toda ela amabilidade, de thank you! em thank you!, embalou os presentes com a sua folk de embalar corações, meditações sobre rigorosos invernos, meteorológicos e amorosos. Até foi bom que o vento se impusesse na noite de hoje como se soubesse que canções assim só podem ser apreciadas em ambiente frio.

Coube a honra de abrir o concerto (já de si mítico, só pelo nome) à coqueluche do indie nacional, o inimitável B Fachada. E é importante frisar isto: o rapaz merece todos os elogios e mais alguns. Acompanhado no contrabaixo por Martim Torres, arrancou por inúmeras vezes gargalhadas ao público interpretando temas como Tempo Para Cantar ou a fabulosa Kit De Prestidigitação, canções folque (aqui tem de ser diferente, pá) que pululam num território vagamente americano mas travestido de Trás-Os-Montes. Mais importante ainda, todo o ar de cabrão pretensioso que parece saltar vezes sem conta das suas relações com a imprensa se desvanece quando nos apercebemos que este tipo é, afinal, o maior troll de sempre; uma espécie de Ludgero Clodoaldo mas muito mais culto e com imensamente mais piada.

Já tinha dito que a mulher é um poço de simpatia? Senão vejamos; agradeceu no final de todos os aplausos, pediu desculpa por se atrasar (problemas com nuvens de cinza), falou nostalgicamente da sua viagem pela Grã-Bretanha com um namorado e uma carroça, dissertou sobre a relação com os filhos. E para completar, canções curtinhas (não precisam de mais tempo), simples, ora sobre as nossas dúvidas existenciais juvenis, ora sobre desgostos, ora sobre tempos invernosos sublinhando a ausência. E uma voz arrebatadora, meu Deus, que partiste para tuas hosanas em Fátima quando podias ter visto um anjo a cantar aqui. Quarenta anos depois, límpida como a água. Provada fica também a estupidez de quem lhe coloca a epígrafe de madrinha da freak folk; não estamos na presença de nenhuma hippie mal-cheirosa e a tripar com ácidos - mas de uma rapariguinha do campo que canta com um misto de tristeza e jovialidade que só nós, língua portuguesa, podemos exprimir: chama-se saudade. Obrigado? Não, obrigada nós!

sábado, 8 de maio de 2010

Isto não é um post sobre música



Vinha na ideia de escrever um texto espectacular sobre o concerto à borla dos Deftones, mas por motivos de força maior (ler: trabalho) vou ter de me resguardar nos Poptones, isto é, num dos grupos que sem sombra de dúvida definiu aquilo que as enciclopédias chamam de pós-punk, e cujas canções não me têm saído da cabeça. O que não é bom sinal. Neurologistas, contactem-me. Espero porém que algum dos nossos novos amiguinhos tenha espalhado charme no Tivoli e nos agraciem com uma review de qualidade. Não é pedir muito. :*

Fale-se então da banda, perdão, da empresa. Os Sex Pistols eram demasiado infantis para si, mas não consegue deixar de amar o penteado de Mr. Rotten? Envie currículo. Ou ouça: a dedicatória a outro senhor recentemente falecido em Public Image é dos melhores momentos que o período punk oferece, isto se não contarmos com o filme porno de Lydia Lunch. Há, contudo, que saltar daqui e do primeiro álbum em que se insere, quando tudo era ainda uma brincadeira, para cairmos em Metal Box - que é como quem diz, em Albatross, Swan Lake/Death Disco, Poptones, Socialist, uma hora e trinta e poucos segundos do melhor baixo que vai alguma vez ouvir na sua vida. Jah abençoe Wobble. E se "música experimental" não é para si, das duas uma: ou pára de ser menor de idade ou aterra em This Is Not A Love Song (prenúncio de alguma coisa, Joãozinho?) e Rise, dois dos melhores hinos pop que os eighties ofereceram. Alienar os fãs originais? Qual quê.

Nenhum destes argumentos lhe serve, você que está infectado pela MTV? E se lhe disser que pessoal do mainstream como o fantástico baixista dos Red Hot adora-os? Também não? "São um bando de velhos"? True, true... não nego que fico com um gostinho amargo na boa quando vejo vídeos da reunião, o mesmo gosto que tive em Paredes 2008. Não há crise. Ao contrário do corpo do sr. Lydon, a caixa metálica não enferruja. Palavra de bloguista.

domingo, 2 de maio de 2010

B(r)oche-róque, é bom



Depois do nazismo, os alemães ficaram em dívida para com o mundo. É por isso que hoje temos BMWs, a Claudia Schiffer circa anos 90 e krautrock. O termo é ofensivo, mas eles não parece(ra)m importar-se muito. Seria porventura do estado avançado de letargia marijuanística em que se encontravam quando lhes surgiu a ideia de fazerem música que consistisse simplesmente em jams alimentadas pelo espaço sideral. É esse o problema dos drogados de hoje: só sabem arrumar carros e popularizar modas parolas.

Esta colectânea da Soul Jazz é mais do que um álbum. É um documento histórico. É uma maneira de dar a conhecer ao ouvinte casual aquele que terá sido dos movimentos mais importantes dos anos 60 a seguir ao Maio de 68. E é maravilhoso para colocar como pano de fundo e mirar um céu que tão azul tem estado nestes últimos dias. Aspectacle, dos Can, entra logo a matar com um ritmo death disco designado a prender a atenção e a soltar as ancas. A partir daí é festival, desde o fantástico sintetizador de Michael Bundt (La Chasse Aux Microbes), à nostalgia Jogos Som Fronteiras dos La Düsseldorf (Rheinita), ao felácio que os Faust proporcionam aos Velvet Underground (It's A Rainy Day, Sunshine Girl - que é também o melhor título de uma canção de todo o sempre), à terna ambiência dos Neu! (Hallo Gallo). Isto só para citar o que me é pessoalmente favorito. Há Harmonia, Popol Vuh, Cluster, Amon Düül, aquela flauta deliciosa na faixa dos Ibliss, todos os nomes que se fizeram e que fizeram o psicadelismo alemão.

A música do futuro, ontem? É um slogan bestial. O ritmo mecanizado, o ambiente cósmico das teclados não o deixa mentir, provando mais uma vez que por detrás de cada bom aluno (techno) há um excelente mestre. Ou uma coisa assim.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Luxúria Holocausto Canibal



Todos temos a nossa banda de adolescência, a que mais nos acompanhou nos desgostos, nas alegrias, nas zangas, nas discussões pretensiosas sobre a vida. Para o meu blogmate foram e são os RAtM, para a minha geração foram os SoaD, para mim foram os Mão Morta. E o que me fascinava, para além das letras que citava ad nauseam na tentativa de fazer muitas amigas que me achavam extremamente culto molharem as calcinhas, era a forma como saltavam cada estilo, incursões e experiências pela pop ou pelo jazz ou pelo metal ou pela música industrial mas sempre com o bendito cariz rock como ponto de partida. Não é de estranhar hoje que eu seja uma puta musical: a minha banda favorita é precisamente isso.

O novo álbum mostra uma banda (ainda) mais segura de si; não mostram medo de fazer grandes malhas pop (Novelos De Paixão), chachadas góticas (Como Um Vampiro) e canções de culto instantâneo (Tiago Capitão), como se tudo o que fizeram nestes últimos 25 anos de carreira acabasse em disco. Pegando nas palavras do sábio John Peel quando se referiu aos Fall, são sempre diferentes, são sempre os mesmos. O Canibal, esse, continua a atacar o palco, desfaz-se em taquicardias, diverte-se com o público, arrasta a voz de canção em canção, de catarse em catarse, de pesadelo em pesadelo de peluche.

A julgar pelos espaços vazios julgar-se-ia que o Coliseu é um espaço demasiado grande para os Mão Morta - esquecemo-nos que a genialidade dos mesmos ocupa meia casa. O resto é tomado pelos fãs de todos os quadrantes, que comprovaram ao longo de hora e meia que a força de temas como Oub'Lá, Anarquista Duval e 1º De Novembro mantém-se a mesma, resiste ao enferrujar que o tempo nos impinge. Houve suor, houve abraços, houve pulos, houve headbanging e houve drogados que duraram quatro canções nas filas da frente. Tudo isto é ainda assim demasiado brando; o que eu não dava para ter estado no cortar da perna ou na destruição do teatro de Braga. Mas por tudo aquilo que ainda se vê, é longo q.b. o futuro da banda. Vamos em frente, olho por olho, dente por dente, ó Capitão!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Um post especial e nada homoerótico

Um dos donos deste blog faz anos. Vamos lá puxar das playlists especiais, sim?

1. Antony And The Johnsons - For Today I Am A Boy
2. Dead Kennedys - Too Drunk To Fuck
3. Pizzicato Five - Party
4. Blondie - Die Young, Stay Pretty
5. The Vicious Five - About Teennihilism
6. Arctic Monkeys - Fluorescent Adolescent
7. Flipper - In Life, My Friends
8. The Flaming Lips - When Yer 22
9. The Smiths - Accept Yourself
10. Streetlight Manifesto - Here's To Life
11. The 13th Floor Elevators - You Don't Know (How Young You Are)
12. Sufjan Stevens - Happy Birthday

Faixa de bónus: Cut Copy - Lights & Music (Boyz Noise Happy Birthday Remix)

Para ouvir a 28: Morrissey - It's Not Your Birthday Anymore

Para o lulz: Anal Cunt - You're Old (Fuck You)

Pelo cliché: LCD Soundsystem - All My Friends

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Youth Against Fascism



O movimento de bilheteira no meu emprego espectacular não o fazia prever, mas a verdade é que os Sonic Youth encheram o Coliseu. E não só de público, mas de guitarras (ao longo do concerto utilizaram umas vinte), monstros de onde brotavam ora o riff mais violento ora o mais tranquilo, numa atmosfera constante de final de sonho, seja porque o punk morreu, seja porque os anos 90 se perderam para sempre e o alternativo deu lugar ao indie; uma despedida, então, feita à base de suor e flanela.

Os Gala Drop saíram como injustiçados da noite. Depois de terem sido uma das poucas pérolas de um atípico 2008, chegavam ao Coliseu depois de terem reeditado o álbum de estreia em vinil como convidados especiais dos SY themselves (e o casalito Moore/Gordon até esteve a assistir no palco às primeiras duas músicas). Partem do psicadelismo, entram pelo kraut adentro e mergulham de cabeça na electrónica mais experimental, percussão (e gritos) tribais, linhas de baixo dubbásticas, quais paisagens uterinas onde se movimentam brincando, à espera de uma luz. A luz não veio: foi-se. Com o set cortado a meio devido a uma falha eléctrica, justo quando o público que maioritariamente os desconhecia começava a aceitá-los, resta desejar-lhes maior sorte para o futuro (e a manter-se o nível de qualidade, virá). Porque merecem, e muito.

Roubaram Mark Ibold aos Pavement, e parece que se deram bem: o som dos veteranos da Big Apple ganha nova densidade, aquele baixo completa na perfeição as explosões de feedback e a dissonância das guitarras. E é falso chamar-lhes veteranos, pois continuam com a mesma energia e o mesmo look de sempre (Thurston Moore, em plena meia-idade, parece um puto). Ao contrário do que se pensava (ansiava) depois de ter sido conhecida na net a setlist do concerto em Barcelona, focaram-se essencialmente em The Eternal, álbum de 2009 que marca o regresso a uma editora independente. Destaques para uma militar Anti-Orgasm, Poison Arrow e Leaky Lifeboat, que se creio ter ouvido bem entre os pulos e os gritos foi dedicada a todos os poetas portugueses. Não significa que não tenham passado pelos ouvidos do público (tão diversificado, tão bonito ver velhos de 20 anos agarrados a jovens de 40) clássicos como Schizophrenia ou The Sprawl. Mas o melhor estava reservado para o duplo encore: primeiro com 'Cross The Breeze (a fúria daquelas guitarras, meu deus) e finalmente com Death Valley '69, final apoteótico para um concerto apoteótico, erótico, psicótico em partes iguais. O punk não morreu, limitou-se a crescer. Existe agora não uma nostalgia pelo passado, mas uma alegria quase paternal por aquilo em que se tornou, e uma ansiedade enorme por ver aquilo em que se irá tornar. Aguardemos, então.

P.S. Corre o rumor de que o incidente com os Gala Drop foi propositado. Se assim se confirmar, é vergonhoso e há que partir as trombas à organização. É que não se faz, foda-se.