quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ninja Sardine



Para quem não sabe, a Ninja Tune faz vinte anos. E o que é a Ninja Tune? Bem, nada mais nada menos que a editora que deu ao mundo o hip-hop cerebral de Amon Tobin ou os grandes Cinematic Orchestra. E porque é que é importante falar hoje da Ninja Tune? Porque fazem 20 anos, estúpido do caralho, não leste a primeira frase? Adiante: qual Jesus Cristo no 25/12, a editora decidiu dar-nos a nós, pobres ouvintes sedentos, um tratado de tudo o que representam na cena electrónica actual: uma compilação de sete horas (não é para meninos) onde artistas tão diversos como Diplo, Roots Manuva, Bonobo, os dois mencionados anteriormente, Jaga Jazzist ou Zomby emprestam algumas das suas melhores mixes e faixas exclusivas em jeito de festa. Hip e Trip, dancehall, dub, acid, pimba, vem lá tudo representado. É só escolher.

Agora era a parte em que eu recomendava faixas individuais para dar um gostinho da coisa, mas que se foda: ouçam tudo. TUDO. Todos os seis discos. De preferência em volume invulgarmente alto, para darem também a conhecer aos vizinhos (ou partir-lhes os vidros e os tímpanos com o p-o-d-e-r daqueles graves). Não se esqueçam de enrolar uns quantos em jeito de sacrifício ao Deus do beat. Obviamente que um bombom destes é coisa para custar um balúrdio, mas para isso é que existe a internet, amirite? No blog mais famoso do mundo. Googlem. Não digo mais nada, porque tenho príncipios morais.

domingo, 19 de setembro de 2010

Há Festa Na Mouraria



As relações amor-ódio são parte integrante não só da cultura musical de cada um como da sociedade em que vivemos. Claro que por vezes podem desvanecer: por exemplo, eu odiava o Puto Sam até ouvir os Orelha Negra - isto para dar um exemplo de ódio->amor no que concerne à música - e continuo a odiar o Benfica - isto para dar um exemplo de ódio->ódio eterno no que concerne à sociedade. Com B Fachada é igual: há quem o considere o melhor letrista português dos últimos 30 anos (o que é, francamente, uma opinião estúpida), há quem lhe odeie o pretensiosismo e os maneirismos (o que é, francamente, igualmente estúpido).

Centremo-nos em dois pontos. Primeiro, as canções são realmente boas (Eu vou ser o puto Abrantes, eu vou ser o Panda Bear foi o grito de guerra deste verão), a personalidade é, estando atento, um falso auto-elogio. É óbvio que de B Fachada tudo indica para que seja um troll. Quem o encara como tal encontra-lhe nos discos um humor blasé que o levou a ser a estrela do novo anúncio do azeite Gallo, que é tipo a epítome do trolling, quem não vai nas suas cantigas, perde as cantigas (trocadilho ridículo mas cheio de verdade).

Mas eu não tenho que estar aqui a defender a genialidade ou falta dela de B Fachada. Fico pelos discos (o último EP ainda está disponível aqui) e pelos concertos, como o de hoje no Clube Ferroviário, em Santa Apolónia, com vista para o mar e para a cidade, repleto de gente (e de muitos hipsters que se enquadram naquele primeiro grupo de idiotas de que falei em cima), onde estiveram canções como Os Discos Do Sérgio Godinho, onde esteve a fabulástica camisa que segundo dizem já havia levado ao Avante, e onde esteve o contrabaixista do 5 Para A Meia-Noite do qual ninguém quer saber. E foi grande, como grande é o Bernardo. Perante isto, que mais dizer? Fazem falta mais trolls assim.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

M.T.V. - Get Off The Air



Como devem ou não saber, a música pop é uma merda. A culpa é, obviamente, nossa. Nossa, Portugueses, não nossa, consumidores. E agora vocês perguntam: "lol dude arranja dessa merda que fumaste". E eu arranjo na boa, peçam-me no Facebook. E depois de estarem completamente desviados, perguntam: "mas afinal como é que nós, Portugueses, temos a culpa da música pop ser uma merda, se o David Fonseca só tem uns 15 anos de carreira?". E é aí que eu explico e vos garanto que a vossa mente vai explodir.

Ponto no. 1: o Justin Bieber é uma merda. Facto. As meninas de três anos gostam, ergo, é merda. E quem gerou o Justin Bieber? As grandes empresas capitalistas que decidiram apostar no mercado da música para teenagers. Porque, e não neguem, o nosso gosto musical mais ou menos até aos doze anos é uma merda. Culpa nossa? Não: culpa dos nossos pais, que nos compravam os CDs de Limp Bizkit e artistas af(em)in(ado)s para que pudéssemos ter o que eles não tiveram: algo para além da Amália. Esta forma de pensar é culpa dos psicólogos, mas não abordemos esse lado. Dizia então que o Justin Bieber é uma merda. Quem gerou o Justin Bieber?

Em todos os pontos da história da pop moderna existiram grupos de rapazes bonitos que geraram bandas multimilionárias. Os pontos de contacto mais recente com o atrasado do canadiano são, obviamente, os Backstreet Boys e os Take That - que são quiçá os nomes mais out-of-the-closet de sempre; vá lá, rapazes da rua de trás? Até o Carlos Cruz se riu. E depois meteu mais um recurso. Mas, e a geração de hoje que é a minha não se lembra, antes desses dois existiram os New Kids On The Block. Que, por alguma razão inexplicável e validatória do ponto de vista de que Deus não existe, decidiram reunir-se e voltar a dar concertos. E o mundo facepalmou.

Recuemos ainda mais. Lembram-se dos Menudo? Não, não a nova geração daquele programa da MTV que eu nunca vi, juro. Os dos anos 70/80, que tiveram nas suas fileiras a mais recente contratação do movimento LGBT, o Ricky Martin (bem, não é grande contratação quando toda a gente já tinha a ideia do clube em que ele jogava). Os Menudo eram uma banda fabulástica de Porto Rico que agradava bastante às meninas de então. Só que estes chicos não seriam nada se não fosse a influência daquela que é provavelmente a última boys band (ou banda de rapazes, se quisermos entrar em FlorCaveirismos) que fez, de facto, canções de jeito. Vocês conhecem-nos. Viram o Shrek. Certo que na voz dos saudosos Smash Mouth, mas conhecem:

Os Monkees. Os Monkees eram fantásticos. Os Monkees eram do punk: mesmo sendo um offshoot da indústria, odiavam a indústria. Os Sex Pistols fizeram uma cover de uma canção deles. Têm cred. Foram, repetindo-me, a última banda de rapazes a ter cred. Nasceram em 1965, como resposta aos... querem adivinhar? Por esta altura já devem estar a pensar onde é que eu vou parar com estes argumentos, mas garanto-vos que não se vão arrepender. Acho eu. Se se arrependerem podem dar-me porrada. Ou parar agora e ir ler um livro, fazer alguma coisa de produtivo.

Ainda comigo? Óptimo. Como eu dizia, os Monkees foram a resposta à maior, melhor, mais popular das bandas: os Beatles themselves. Os Beatles eram (e são) um bocado como o Benfica: conquistaram muitos fãs nos anos 60, mas a partir daí o mundo acordou e descobriu coisas melhores, e agora só permanecem com o estatuto "melhor cena de sempre" na cabeça de gente velha e aborrecida. Não que eu deixe de fritar completamente com a I Am The Walrus ou a Tomorrow Never Knows. Mas antes de darem na droga (abençoada), os Beatles só existiam para molhar cuequinhas adolescentes. Moda que teve precursor em quem?

Rei do rock, ou aborto gordo em cima de um palco: Elvis Presley tem duas personas distintas. Aquela que interessa para o caso chocou os E.U.A. puritanos dos fifties quando surgiu a abanar a anca e a cantar música negra, a única que interessava. And lo, panties were soiled. Aos 20 anos, era bonito, tinha boa voz, e mexia-se como um doido. Centremo-nos na música: o rock n' roll começava a dar os primeiros passos, Chuck Berry e Little Richard criavam canções intemporais e os blues antigos eram já uma miragem; o dia em que o homem branco começou a cantar música negra foi a morte da música.

E de onde vieram os blues? Da América segregada onde os linchamentos do KKK eram coisa corrente, porque afinal de coisas, não se pode deixar que esses pretos de merda toquem nas nossas filhas, amirite? Livres da escravatura, mas sem condições sociais, expurgavam as agruras da vida em guitarras. Robert Johnson, por ser o nome mais associado ao rock, é o mais falado hoje, mas não devemos negar, nunca, a beleza das vozes femininas: Bessie Smith, Sister Rosetta Tharpe, Ma Rainey. Para além de, claro está, Bo Diddley (que é Jesus), Blind Willie Johnson, Son House.

Resumindo então: os blues só existiram porque existiu segregação, e a segregação só existiu porque existiu escravatura. E de onde vieram os escravos? Maioritariamente de África, claro está, porque os nativos eram fortes, trabalhavam bem, e as mulheres negras tinham bundões maiores para os branquelas ricos se divertirem e fazerem bastardozinhos. A exploração do continente, que hoje mudou das mãos ocidentais para as dos chineses, durou (e dura há) séculos. E, terminando o longo raciocínio, devemos essa exploração, e as inúmeras descobertas que a precederam, a quem?



Exacto: a este filho da puta. Tudo bem que tinhas um sonho, Henrique. Que o mar é belo, que a Mensagem que influenciaste é o melhor poema de sempre, que fomos um país a sério durante uns tempos, mas diz-me, Henrique, alguma vez paraste para pensar nas consequências? Claro que não, Henrique, não pensaste. No teu tempo quem quisesse ser famoso tocava alaúde. Nunca te passou pela cabeça que à tua pala milhares de negros fossem tratados abaixo de animal e que estes se vingassem inventando música apelativa, pois não, Henrique?

Era quem te tivesse fodido a tromba e dado de comer a um espanhol. Foda-se.

Terminada a lição de história, uma nota de esperança: nem tudo o que há na MTV é simplesmente mau. Há coisas péssimas. Mas, graças ao poder mágico da internet, até um bolo de merda pode ser transformado num diamante. Esta notícia tem umas semanas, mas há que continuar a realçar: U Smile, Justin Bieber a velocidade oito vezes reduzida, é a melhor malha do ano. É tão boa que ao ouvir todos os 35 minutos deste épico nos esquecemos de que a escravatura existiu. É tão bom que Brian Eno e os Sigur Rós já pediram indicações ao rapazito. É tão bom que, epá, sei lá, milhões de corações. Escutai. Senti. E ao terminar, olhem para cima e contemplem a face de Deus. A não ser que o vizinho de cima esteja na hora do cigarro. É sempre chato quando isso acontece.

Tanta merda só para vos mostrar esta tanga, hein? Nunca mais me leiam.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sappy



Ainda parece ter sido ontem.

Lembro-me de uma das primeiras vezes que vi e ouvi a Smells Like Teen Spirit na (então imprescindível) MTV. Tinha oito, nove anos, passaram-na imediatamente antes da Self Esteem dos Offspring e creio que de um episódio de Beavis & Butthead. Como é normal, naqueles tempos todos os nascidos em pós 85 não ligavam à música, mas aos jogos de bola até se acenderem os candeeiros indicando a hora de ir para casa, às Mega Drives onde o Sonic era presença constante, à Cartoon Network e às primeiras revistas onde senhoras mais velhas sorriam enquanto seguravam em pilinhas. Como todas as infâncias de todos os períodos e gerações, foram os tempos mais felizes das nossas vidas. Isso das guitarras e essas coisas ficavam a cargo geralmente dos irmãos ou irmãs mais velhas que ouviam Metallica; as nossas canções eram as do Eurodance trauteável ou a cassete dos Onda Choc que por algum motivo nunca se estragava. Não se sabia o que era flanela. Nem grunge. Nem Nirvana. Sim, gritar num inglês infantil with the lights out, it's less dangerous, sem saber o que raio quereria dizer, era hilariante. Apenas isso. Nada de lhe atribuir qualquer outro sentido, deprimente ou depressivo, de um estado de espírito Geração X.

Não me lembro da morte de Kurt Cobain. Lembro-me perfeitamente da de Ayrton Senna, ou de um anúncio da RTP de prevenção aos incêndios florestais em que uma árvore ardia ao som de What A Wonderful World (ainda hoje, muito por culpa desse anúncio, a canção é-me absurdamente triste), ou da loucura que foram os Tazos. Não me lembro da morte que marcou um fim generacional, um vazio existencial nas cabeças de então adolescentes. É-me estranho que hoje, ao ouvir os Nirvana e saber que Cobain morreu, esse vazio lá esteja. Não sou adolescente, ou prestes a sair disso. Comecei a ouvir seriamente música, late bloomer, aos 17. Não diria que 1991: The Year Punk Broke é um dos filmes da minha vida.

A tendência retro terá uma explicação para isto. Somos levamos, como referido anteriormente, a crer que a nossa infância foram os melhores anos da nossa vida, e que há que repeti-los ou, pelo menos, emulá-los. Porque razão?

Haverá uma explicação puramente psicológica ou antropológica para isto.

Fora da explicação, do sentimento maníaco ou da ideia de que a expressão punk broke significará tanto que o punk se partiu e se espalhou por todo o lado como que se partiu e desvaneceu em mil pedaços; dizer que os Nirvana foram a última grande Banda, com maiúscula, que nunca mais, culpa da geração que se lhe seguiu, existirá outra que alcance tal lugar, sem falar apenas e só do som, é plagiar todos os demais textos que já foram escritos sobre o tema, é querer ser mais papista do que os papas que os viveram em primeiro plano. Por ser plágio, que o é, deixará de ser verdade, porque o é?

Endeusar Cobain, que nunca quis ser mais que um miúdo, é insultar a sua memória?

Não querer ser mais que miúdos, é insultar a nossa?

Não se pode recriar ou reviver a história. Os Nirvana continuarão para sempre naquele plano inalcançável do what if... e é isso que faz que continuem a ter fãs, ano após ano, geração após geração. Nada de errado com isso. O espírito adolescente é um organismo mutável, variando consoante a época. Odiaremos para sempre a escola, escreveremos sempre poemas sobre caixas em forma de coração, a depressão que nos é característica (e existe, por mais fortes que queiramos ser) terá sempre em I Hate Myself And Want To Die um grito de apatia - a guerra interior. Deveremos agradecer-lhes, a eles e ao movimento grunge, verdadeiro abcesso punk por, mais que ninguém, nos terem feito contemplar a nossa própria mortalidade? Ou deveremos castigá-los?

Deveremos simplesmente crescer e esquecer?

Ou aceitarmo-nos e crescer?

Hoje é noite de desejo uterino. Meditemos.

domingo, 5 de setembro de 2010

Meu Deus, é como se fosse 2007 outra vez



Escrevem-se estas linhas ao mesmo tempo que Half Light I ressoa nos Sennheiser; é correcto falar de um regresso à boa forma quando os Arcade Fire nunca a perderam? The Suburbs segue a mesma linha da canção pop épica e do malhão rock and roll à la Springsteen (Month Of May, tal como Keep The Car Running, vai encontrar o seu lugar em setlists d'O Boss). Venha rapidamente o 18 de Novembro para que a certeza caia sobre mais cabeças: melhor banda da década 00.

Igualmente épico é o tema que tem soado um pouco por todo o lado onde se passa música decente: ou não fosse aquele crescendo uma delícia. Falamos de Caribou e da sua Sun, séria candidata a canção do ano - e, se quiserem, os fanáticos, tal como os portistas, já podem encomendar as faixas. Canadá, líder mundial na produção de ouro desde 1896.

Do Canadá para NY, a banda que terá introduzido muito boa gente a esse blanket term que é o pós-punk; os Interpol estão prestes a lançar o seu quarto disco, desta feita homónimo, e quem já o sacou ouviu tem isto para dizer: continuam excelentes. Sim: eu gostei de Our Love To Admire e da Heinrich Maneuver. O próximo tema a aparecer nos Morangos chama-se Lights e já deverá circular por aí, eu é que tenho preguiça de ir ao youtube. Único ponto fraco a reter: a incursão pelo espanhol em The Undoing, tema que encerra o disco. WTF, Pauly?



E porque sou um arrogante de merda com falta de atenção, toca a ir ler esta coisa. Danke!