sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sappy



Ainda parece ter sido ontem.

Lembro-me de uma das primeiras vezes que vi e ouvi a Smells Like Teen Spirit na (então imprescindível) MTV. Tinha oito, nove anos, passaram-na imediatamente antes da Self Esteem dos Offspring e creio que de um episódio de Beavis & Butthead. Como é normal, naqueles tempos todos os nascidos em pós 85 não ligavam à música, mas aos jogos de bola até se acenderem os candeeiros indicando a hora de ir para casa, às Mega Drives onde o Sonic era presença constante, à Cartoon Network e às primeiras revistas onde senhoras mais velhas sorriam enquanto seguravam em pilinhas. Como todas as infâncias de todos os períodos e gerações, foram os tempos mais felizes das nossas vidas. Isso das guitarras e essas coisas ficavam a cargo geralmente dos irmãos ou irmãs mais velhas que ouviam Metallica; as nossas canções eram as do Eurodance trauteável ou a cassete dos Onda Choc que por algum motivo nunca se estragava. Não se sabia o que era flanela. Nem grunge. Nem Nirvana. Sim, gritar num inglês infantil with the lights out, it's less dangerous, sem saber o que raio quereria dizer, era hilariante. Apenas isso. Nada de lhe atribuir qualquer outro sentido, deprimente ou depressivo, de um estado de espírito Geração X.

Não me lembro da morte de Kurt Cobain. Lembro-me perfeitamente da de Ayrton Senna, ou de um anúncio da RTP de prevenção aos incêndios florestais em que uma árvore ardia ao som de What A Wonderful World (ainda hoje, muito por culpa desse anúncio, a canção é-me absurdamente triste), ou da loucura que foram os Tazos. Não me lembro da morte que marcou um fim generacional, um vazio existencial nas cabeças de então adolescentes. É-me estranho que hoje, ao ouvir os Nirvana e saber que Cobain morreu, esse vazio lá esteja. Não sou adolescente, ou prestes a sair disso. Comecei a ouvir seriamente música, late bloomer, aos 17. Não diria que 1991: The Year Punk Broke é um dos filmes da minha vida.

A tendência retro terá uma explicação para isto. Somos levamos, como referido anteriormente, a crer que a nossa infância foram os melhores anos da nossa vida, e que há que repeti-los ou, pelo menos, emulá-los. Porque razão?

Haverá uma explicação puramente psicológica ou antropológica para isto.

Fora da explicação, do sentimento maníaco ou da ideia de que a expressão punk broke significará tanto que o punk se partiu e se espalhou por todo o lado como que se partiu e desvaneceu em mil pedaços; dizer que os Nirvana foram a última grande Banda, com maiúscula, que nunca mais, culpa da geração que se lhe seguiu, existirá outra que alcance tal lugar, sem falar apenas e só do som, é plagiar todos os demais textos que já foram escritos sobre o tema, é querer ser mais papista do que os papas que os viveram em primeiro plano. Por ser plágio, que o é, deixará de ser verdade, porque o é?

Endeusar Cobain, que nunca quis ser mais que um miúdo, é insultar a sua memória?

Não querer ser mais que miúdos, é insultar a nossa?

Não se pode recriar ou reviver a história. Os Nirvana continuarão para sempre naquele plano inalcançável do what if... e é isso que faz que continuem a ter fãs, ano após ano, geração após geração. Nada de errado com isso. O espírito adolescente é um organismo mutável, variando consoante a época. Odiaremos para sempre a escola, escreveremos sempre poemas sobre caixas em forma de coração, a depressão que nos é característica (e existe, por mais fortes que queiramos ser) terá sempre em I Hate Myself And Want To Die um grito de apatia - a guerra interior. Deveremos agradecer-lhes, a eles e ao movimento grunge, verdadeiro abcesso punk por, mais que ninguém, nos terem feito contemplar a nossa própria mortalidade? Ou deveremos castigá-los?

Deveremos simplesmente crescer e esquecer?

Ou aceitarmo-nos e crescer?

Hoje é noite de desejo uterino. Meditemos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário