segunda-feira, 20 de junho de 2011

Pão com Manteiga



IMAGEM DESENVERGONHADAMENTE ROUBADA

Na passada sexta-feira a Trem Azul recebeu a festa de lançamento da Videoteca do Bodyspace. Uma noite que se veio a verificar épica, mesmo que não tenha tido a aceitação do público (a.k.a. faltaram gajas) que se desejava. Mas valeu, não só pela belíssima folha A4 colada na porta onde em Arial Black se lia FESTA PRIVADA, mas também pelos dois concertos a que se teve o privilégio de assistir à borla. Então:

Os Pão. Os Pão escolheram um nome tão OH EXPLOITABLE que por vezes esquecemos que também são músicos. Cozinham aquilo que se pode chamar de "improvisação livre" a não ser que sejamos professores na FCSH. A partir de alguma electrónica, de um saxofone e de um piano constroem um verdadeiro apocalipse, nem superado pelas imagens de vulcões que passavam ao lado. Não raras vezes me encontrei de boca aberta a engolir toda aquela arrepiante sonoridade. E decidi nunca mais gozar com o nome; sabe-se lá o que me podem fazer no futuro.

E os Sunflare. Parece que o nome se escreve em ALL CAPS mas eu não quero saber. Com eles já se sabia ao que se ia: ruído, riffalhada, gasolina bruta e inflamável que até serviu, no soundcheck, para assustar um pobre cãozito que por ali passava. São tão grandes como o astro, e o cabrão do astro entra-nos pelos tímpanos dentro - tímpanos esses que o caríssimo vocalista não me quis devolver no final - e rebenta-nos com o cérebro. São tão grandes. São tão, mas tão grandes.

Claro que tem de haver uma menção honrosa para os DJs com que se acabou a noite, que fizeram rodar malhas dos Comets On Fire até Demis Roussos, passando pela mui fantástica ideia de colocar a aberração de nome Friday, dançada por três meninas que não se quiseram identificar. O que é sempre uma pena. Mas acreditem, por detrás deste rosto de sapo está uma personalidade ainda pior de ouro. Não sejam tímidas.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A defesa é o melhor ataque



Se costumam acompanhar o Bodyspace sabem que às vezes escreve lá um tipo que diz umas coisas muito engraçadas sobre o Milhões, e tal, e que uma vez por outra escreve baboseiras sem nexo acerca de discos de que gosta. Também saberão - se estiveram atentos e/ou são stalkers, que esse mesmo tipo fez alusão a um ensaio literário que andava a escrever sobre a poesia de John Agard comparada à dub poetry. Bem, parece que, pelo menos num contexto académico, esse ensaio foi bem escrito q.b. para lhe valer uma nota consideravelmente superior à que ele estava à espera. Ainsi, visto que tal o encheu do orgulho que não costuma ter, eis o ensaio em questão disponível para a leitura que ninguém irá fazer mas quanto mais não seja para injectar alguma vida neste blog. Até porque tem a ver com música. Um bocadinho, vá.

WARNING: LONG POST AHEAD
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ALL WE DOIN’ IS DEFENDIN’:
UMA COMPARAÇÃO ENTRE A POESIA DE JOHN AGARD E A DUB POETRY

Virtude de um omnipresente sentimento colonial na sociedade britânica contemporânea e, por conseguinte, nos círculos académicos que ditam as regras do que se considera como sendo uma gramática “correcta”, o crioulo foi, durante várias décadas, posto de parte e liminarmente rejeitado enquanto linguagem de cariz próprio, salvo as excepções que se consignavam ao estudo da linguística. Embora tal situação se tenha vindo a alterar nestes últimos anos, sendo que alguns crioulos foram já reconhecidos e oficializados enquanto “língua”, ainda é visto por uma larga fatia da população como um modo de comunicação rudimentar e selvagem, sendo observado com escárnio por parte da massa popular predominantemente caucasiana e escolarizada, por contraste com os povos menos estudados das antigas colónias, nomeadamente a Jamaica, tendo sido nesta nação que se assistiu à origem, nos anos setenta, daquilo a que chamamos dub poetry; literalmente, poesia declamada sob um ritmo dub, uma corrente dos estilos de música ska e reggae nascidos na década de sessenta e que coloca uma maior ênfase na percussão e nas notas graves. A poesia dub apresentava maioritariamente um cariz político e social, com eco nos movimentos e nas lutas raciais que se haviam verificado nos Estados Unidos na década anterior e que começavam igualmente a tomar forma no Reino Unido (como nos atestam os motins de Nothing Hill, em 1976). Um dos rostos maiores da dub poetry é Linton Kwesi Johnson, cujo álbum de 1978, Dread Beat an’ Blood, capta esse sentimento de revolta da juventude negra de então, especialmente na faixa “All Wi Doin’ Is Defendin’”:

(…)
Even dough dem think dem bold,
we know dem cold like ice wid fear, an we is fire!
Choose yu weapon then, quick!
All we need is bottles an bricks an sticks.
We have fist, we have feet,
we carry dynamite in we teeth.
Send fe de riot squad, quick!
Cause we running wild, bitter like bile.
Blood will guide their way, an I say:
all we doin' is defendin',
so get ready fe war, war…
Freedom is a very fine ting.
(Dread Beat An’ Blood, 1978)

Atente-se na linguagem utilizada pelo poeta: Linton Kwesi Johnson recorre ao crioulo jamaicano tanto para estabelecer um ponto de contacto com aqueles a quem se dirige – a segunda geração de emigrantes oriundos, particularmente, das Caraíbas – como enquanto símbolo da sua própria liberdade e enquanto arma contra os grilhões da sociedade dita “branca” e “culta”. A utilização desta forma de linguagem é tida como essencial, sendo encarada sobretudo como um acto de resistência perante uma sociedade composta pelos seus ex-colonizadores. Uma temática a que John Agard alude igualmente em vários pontos da sua obra poética, como é o caso de “Listen Mr. Oxford Don”, quando escreve “I only armed with me human breath / but human breath / is a dangerous weapon” (Agard: 2009, p. 16), retirando-se, de ambos casos, que não serão só os materiais de fácil acesso (“bricks and stones”) que constituirão as armas dos revoltosos, mas também a sua cultura e especialmente a sua língua: as palavras enquanto dinamite. Nesse mesmo poema, aliás, Agard assume a sua militância, e até mesmo algum espírito de guerrilha, na defesa de uma tradição e de um modo de pensar que a nação que o acolhe rejeita. Ele próprio admite ser um mero imigrante, sem quaisquer habilitações literárias de maior, que irá no entanto marchar contra a corrente aristocrática e/ou pretensiosa que o pretende reduzir a um mero criminoso (uma designação que, saliente-se, Agard utiliza como modo de denunciar o estereótipo racista de que o negro era alvo naquele período). A sua solidariedade para com os seus irmãos de língua está patente quando escreve “Dem want me to serve time / For inciting rhyme to riot” (Agard: 2009, p. 16). Depreende-se daqui a vontade de Agard, tal como a de Linton Kwesi Johnson em “All We Doin’ Is Defendin’”, em querer que o povo se erga contra os seus opressores, ou pela via da palavra, ou através de formas mais violentas de combate; mas esta mesma violência será figurativa, ou seja, Agard e Kewsi Johnson parecem apropriar-se, um intuito quiçá sarcástico, do estigma racial de que são alvo de forma a conferir um maior tom visceral aos seus poemas e assim ir de encontro ao sentimento dos restantes emigrantes, especialmente da facção mais jovem, por norma mais propensa à causticidade.

Para melhor entender esta visão da linguagem enquanto instrumento de combate (que não está, naturalmente, consignada aos dub poets ou sequer aos poetas afro-britânicos – na própria consciência portuguesa pós-25 de Abril teremos sempre presente a célebre canção-tornada-slogan de José Mário Branco, “A Cantiga É Uma Arma”), há que primeiro entender como é que o dub e o reggae foram consagrados enquanto meio primário de afirmação da população caribenha da década de setenta. Tudo se iniciará com as migrações de jovens jamaicanos dos centros rurais para um meio urbano como Kingston, a capital do país, que resultaram na “guetização” da população levando, por sua vez, a um certo vazio cultural. Tal irá ser preenchido por um estilo de música originário desses guetos urbanos, um novo género que funde a tradição africana já presente (a ênfase na rítmica) com as novas tecnologias e modos de produção: deram-lhe o nome de reggae. Ao contrário dos estilos que o precederam, como o ska e o rocksteady, o reggae não se baseava exclusivamente no imaginário folclórico; transformou a cultura jamaicana numa cultura urbana de gueto, e exportou esse sentimento de perseguição e de revolta para o mundo, através dos seus inúmeros grupos musicais, entre os quais os Wailers e a sua mais influente figura, Bob Marley (1). Do reggae nascerá o dub; essencialmente, esta expressão designava apenas o ritmo da canção reggae, e funcionava como uma remistura. Os singles da altura continham duas versões de uma mesma canção, sendo o lado A a canção em si e o lado B uma versão sem vocais. Eram estas versões que permitiam ao DJ, o operador do sistema de som omnipresente em bailes e festas, debitar mais do que algumas palavras antes de introduzir a próxima faixa (2). Assim, o DJ não se limitava apenas a trocar discos; encontramos aqui a génese dos primeiros MCs, ou Mestres de Cerimónias, que declamavam pequenos poemas sob o ritmo que se ouvia entre uma faixa e outra e que rapidamente se tornaram no foco principal destes agrupamentos, e que serão convertidos, um pouco mais tarde, em dub poets.

Sound systems and their DJs began to rule the cultural scene of Jamaica; wherever a system was set up to play, the inhabitants of a village or city neighbourhood would congregate. The focal role played by sound systems in social communication dates from these days. (Habekost: 1993, p. 56)

Embora John Agard não seja exactamente um dub poet, na sua obra encontramos o mesmo apego musical conferido às palavras (3). Tendo chegado a Inglaterra em 1977, ano em que o reggae tinha já uma facção de apoio considerável no país e em que o punk por ele influenciado começava a eclodir, Agard construiu a sua obra poética de acordo com a mesma base cultural africana que deu origem ao estilo jamaicano; não só pelo igual uso de expressões crioulas, mas também pela forte componente rítmica interligando cada verso. Não será de todo estranho cogitar que o poeta guianense possa ter sido influenciado, até certo ponto, pela música que se fazia ouvir então. Tome-se para este efeito o seu poema “Caribbean Eye Over Yorkshire”:

Eye
perched over
adopted Yorkshire

Eye christened
in Caribbean blue
and Trinidad sunfire

Eye tuned in
to the flame
tree’s decibels

and the red
stereophonic bloom of immortelles
(…)
(Agard: 2009, p. 125)

A utilização de expressões ligadas ao som (“decibels”, “stereophonic”) sugere que o poeta está consciente da força da música num ambiente hostil ao interlocutor. Tanto no reggae como noutros géneros de música de cariz negro não é a melodia o factor principal, mas o ritmo, a percussão hipnótica; o que constatamos na poesia de Agard é uma escolha minuciosa das palavras de forma a captar a atenção do leitor e colocá-lo num transe semelhante àquele que a música predispõe. Tal como numa qualquer canção dub, o poema vai fluindo de palavra em palavra, nunca se detendo, colocando de parte a pontuação e enfatizando a repetição silábica no final de cada verso, assim como a música o faz com o beat e com os graves. Neste poema é perceptível, de igual modo, o sentimento de indefinição do autor, ao encontrar-se “um estranho em terra estranha”, nomeadamente enquanto estrangeiro em Yorkshire, o que vai levar à sua procura pessoal por uma identidade e por uma cultura que lhe permita reconhecer-se e relacionar-se com os seus semelhantes. “Eye tuned in / to the flame / tree’s decibels” demonstra o seu apreço pela cultura e pelo território africanos, aqui aludidos através de duas espécies de plantas endémicas ao continente. Este desejo de voltar às raízes ancestrais e nelas encontrar a afirmação do Homem enquanto indivíduo está patente de igual modo em muita da música reggae, sendo que neste caso há que referir a gigantesca influência do movimento rastafári e do seu cariz religioso e afrocêntrico, onde o continente é visto como o berço de toda a humanidade, e particularmente a Etiópia encarada como a terra prometida, a nova Sião; esta é uma simbologia omnipresente (4). Tome-se como exemplo o simples “Zion’s Blood”, de Lee “Scratch” Perry:

Zion blood is flowing through my veins
So I and I will never work in vain
African blood is flowing through my veins
So I and I shall never fade away
(Super Ape, 1976)

Por contraste com John Agard, aqui já Lee Perry encontrou o seu rumo enquanto ser individual. Em apenas quatro versos encontramos dois diferentes sentimentos de pertença: o primeiro, o de pertença religiosa, em que o sujeito poético, ao afirmar-se enquanto crente, definiu de igual modo o seu destino, que será o da utópica terra prometida; e o segundo, o de pertença racial, ao identificar-se como africano, sugerindo que, como tal, nunca temerá a morte, pois pertence a uma comunidade mesmo que esta ou ele próprio não se encontre no país de origem. O uso de “I and I” remete para a interligação entre o seu lado espiritual e o seu lado carnal; Perry insinua que, da mesma forma que a alma não pode existir sem o corpo, um rastafári não pode ser algo que não africano.

No entanto, Agard irá debruçar-se sobre esta temática de formas distintas. Nos seus poemas “Encounter” e “Half-Caste”, o poeta procede ao estudo deste problema sob dois pontos de vista diferentes; no primeiro poema, Agard parece adoptar esta mesma linha de pensamento, pois que comenta que cada indivíduo será identificado perante os restantes através da cor e do credo que tenha, já que para ele não são superficialidades como um hino, uma bandeira ou um passaporte que fazem de alguém aquilo que é, mas aquilo que esse alguém traz no sangue e que tem como sua tradição (5). Já em “Half-Caste”, Agard não fala da raça enquanto característica identificadora do Homem – essa vai ser, ao invés, a sua própria existência enquanto ser vivo pensante. Notamos inclusive uma quase revolta, descrita sempre em tom jocoso, pela etiquetagem de alguém enquanto “mestiço”, e o poeta faz a defesa do cruzamento entre raças e tradições várias aludindo a exemplos de diferentes formas de arte que, usualmente, são encaradas como sendo de uma riqueza e beleza incomparáveis, como as pinturas de Picasso ou as obras de Tchaikovsky, comentando que cabe aos “não-mestiços” aperceber-se dessa mesma beleza (6). Temos, assim sendo, um choque entre duas correntes de igual valor; numa é defendido que o Homem é definido pela sua ancestralidade, na outra pela sua personalidade, não existindo, entre ambas partes, qualquer espécie de entendimento. Mas esta problemática parecerá ser resolvida pelo próprio Agard:

(…)
Love calls us back from simplification.

To reduce a nation to a label
To reduce a race to an assumption
To reduce a face to a formula of black and white.

To hang a stereotype around the heart
To build a wall with stones of conviction
To let the map dictate affection.

To allow boundaries their frozen dance
To grant frontiers their fixity of expression
To make a monument of an ism.

But love calls us back from simplification.
(Agard: 2009, p. 129)

Ou seja: a discussão em torno da raça ou do credo acaba por ser irrelevante quando equiparada a um sentimento puro como o é o amor. Agard luta aqui contra o espectro redutor da etiquetagem de um indivíduo com a sua respectiva proveniência, ao mesmo tempo que apela à convivência entre todos os diferentes povos e fés – um sentimento encontrado igualmente em muita da música reggae, vindo de imediato à cabeça o clássico de Bob Marley, “One Love”. O conceito de “fronteira”, ao contrário daquilo que é verificado nos poemas dub mais militantes, que advogam o orgulho na pátria e na raça de origem e uma batalha pela aceitação (e, nalguns casos, até mesmo pela conquista) da maioria branca, adquire aqui um novo significado. Age como uma barreira que impede o ser humano de se relacionar verdadeiramente com o seu semelhante, e cuja natureza deve ser travada de modo a não se cair na simplificação do relacionamento humano, onde o passaporte fala mais do que o coração.

John Agard nunca teve uma visão única da sociedade que o rodeia, ao contrário da militância reggae que ainda faz, em diversos sectores, do rastafárianismo uma bandeira, embora nos últimos anos, com o advento do dubstep – uma forma musical em que o groove presente no dub se alia a ritmos modernos de dança e onde o lirismo tem progressivamente perdido a sua importância – essa mesma bandeira tenha vindo a perder a sua força em nome do hedonismo. Assistimos na poesia de Agard a uma evolução interessante no seu pensamento: ao mesmo tempo que demonstra o seu orgulho nas suas raízes e na sua língua materna, assume que nada disso tem qualquer importância perante a banalidade dos rótulos. E, mesmo nos seus momentos poéticos mais agitados, nunca atingiu a visceralidade de um poeta como Linton Kwesi Johnson, que fazia apelos à luta armada; Agard parece encarar essa mesma luta com um tom irónico e um forte sentido de humor. Digamos dele, então, ser um poeta à margem das margens. Porém, e até porque nenhuma temática é uma ilha, a musicalidade e o sentido lírico presente na sua obra é suficiente para que encontre o seu lugar junto de outros poetas de rua, como é o caso da vaga originária da Jamaica. Não é de todo estranho que Agard tenha encontrado a sua maior falange de apoio junto da juventude contemporânea, para quem a música é uma forma de vida e a mais acessível das formas de arte.



(1) Um sentimento que chegou até a dois outros movimentos que actua(va)m nas margens da sociedade, como o punk, atestando-o canções como “Ghetto Defendant”, dos Clash, com a participação de Allen Ginsberg – o presente chegando ao passado – e o hip-hop, que fez do gueto, praticamente durante toda a sua história, tanto uma bandeira contra a opressão das minorias como enquanto modo de afirmação individual.
(2) “The sound systems were operated by dee-jays (…) originally these had the quite restricted function of changing the records, announcing the next song, and introducing it with a few witty comments and rhymes.” (Habekost: 1993, p. 56)
(3) Algo muito melhor testemunhado assistindo a uma das suas muitas prestações ao vivo: recomenda-se para este efeito o DVD John Agard Live!, de Pamela-Robertson Pearce, 2009.
(4) Uma crença bíblica antiga, agravada pela influência de Haile Selassie I, imperador da Etiópia entre 1930 e 1974, encarado por muitas das correntes rastafári como a reencarnação de Cristo.
(5) “What makes you you / and me me? (…) Is it the anthem (…)? Is it the flag (…)? Is it the passport (…)? Or is it the baggage / of skin and creed / that makes one say / not one of us, one of them?” (Agard: 2009, p. 26)
(6) “(…) yu must come back tomorrow / wid de whole of yu eye / an de whole of yu ear / an de whole of yu mind” (Agard: 2009, p. 124)

BIBLIOGRAFIA
Activa:

AGARD, John, Alternative Anthem, Bloodaxe Books, 2009

Passiva:

HABEKOST, Chistian, Verbal Riddim: The Politics and Aesthetics of African-Caribbean Dub Poetry, Rodopi, 1993

Discos mencionados:

Poet And The Roots, Dread Beat An’ Blood, Front Line Records, 1978
The Upsetters, Super Ape, Island Records, 1976

segunda-feira, 23 de maio de 2011

25 by 25

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Findos que estão os afazeres relacionados com outras opções de vida encontro finalmente tempo (reformulo: tive sempre tempo, faltou-me é pachorra) para escrever mais um post neste blog de nome maravilhoso, já que a outra besta responsável pelo espaço não o faz e nem um nem outro temos amigos que o queiram fazer, porque moramos num gueto e a malta só gosta de trance. Adiante: estes são os vinte e cinco discos/EPs/singles que ouvi nos últimos três dias, que irei reouvir ou não nos próximos meses, e sobre os quais irei falar utilizando precisamente vinte e cinco palavras. Porque isso é cool, e este blog quer ser cool.

Carmen Miranda - The Brazilian Bombshell

Quinta-feira acordei com samba no pé, saquei, ouvi e gostei. Além disso, gajas que usam fruta tipo chapéu merecem respeito. Tico-Tico No Fubá é enorme.

Pop Dell'Arte - Free Pop

Reeditado à pala do Record Store Day, lembrei-me que nunca o tinha ouvido. Não tem Sonhos Pop mas tem um hino generacional: Juramento Sem Bandeira.

Behemoth - Sventevith (Storming Near The Baltic)

Porque o Black Metal deixou progressivamente de ser a minha vida. Deste disco retiram-se não só guitarras, mas coisas bonitas como Hell Dwells In Ice.

Shining - VII: Född Förlorare

Mesma razão, mas desapontado; o novo trabalho dos suecos é ligeiramente aborrecido. Perde-se na abrasividade, ganha-se na folk, mas não se queria ganhar na folk.

Boris - Heavy Rocks II

Quatro discos num semestre: podiam ter feito um trabalho melhor, embora não fiquemos de todo desapontados. Espero que Aileron não seja apropriada por seres abjectos.

Boris - Attention Please

Ou: Boris versão dançável. Aqui a doce Wata trata do lado vocal da coisa, e não se safa mal. Por aqui gostamos muito de J-pop.

aTelecine - A Cassette Tape Culture (Phase 3)

Disco cinzento como o segundo nome de quem o assina. Barulho e coisas industriais aos montes. Bem, já os Mão Morta desejavam um operário metalúrgico.

Alva Noto & Ryuichi Sakamoto - Summvs

Que acontece quando se junta um electricista a um pianista? A resposta é a beleza de By This River: glitch e natureza de mãos dadas.

Bon Iver - Bon Iver

...e Bon Iver desceu da montanha, fez com que o OceanoPacíficoCore passasse a ser de algum modo fixe, e regressou para a cabana do infinito.

Branches - Sonho Marítimo

Português suave. Também conhecido como chillwave. É bom, é de graça, e devem ouvir porque eu mando. Até porque no verão se gosta de chillar.

Cavalheiro - Farsas

Tem uma belíssima canção (Nós), outra que lembra coisas belas (Milhões) e duas que se ouvem bem. E também é de borla. Crise, e tal.

Deux Filles - Silence & Wisdom

Caiu-me ao colo via um blog fantástico, e é igualmente um álbum fantástico. Uma pérola escondida nos anos oitenta, destaca-se esta maravilha: The City Sleeps.

Mona - Mona

O único que voltou para a reciclagem e não ficou para contar a história. Rock FM aborrecido e desprovido de sentido. Safava-se Shooting The Moon.

Guilherme Canhão - Chiado Terrasse

Quando não está ocupado a fazer dos Sunflare uma cena arrebatadora, Guilherme Canhão faz isto: ressuscita os Santa Maria Gasolina Em Teu Ventre. Que discão!

Arctic Monkeys - Suck It And See

É melhor que Humbug, e só por isso já merece crédito. Fica na cabeça à primeira audição: Reckless Serenade. Ainda pode crescer em termos gustativos.

Marianne Faithfull - Forever Faithfull...

Outra coisa que nunca tinha provado e arrependo-me liminarmente. Esta cover merece o mundo. Assim como a voz. Que coisa danada de ser tão bonita.

Niagara - Fact Mix

Já tinha lido algumas loas a estes meninos, mas só agora o pude comprovar. E são inteiramente merecidas. A mixtape cumpre o propósito: fazer mexer.

Pega Monstro - O Juno-60 Nunca Teve Fita

Os pega-monstros eram altamente. As Pega Monstro são altamente. Há aqui uma correlação. Se ainda não ouviram a genialidade de Macaco, sinto pena de vós.

Peste Noire - L'Ordure À L'État Pur

Bastou-me chegar a meio de Casse, Pêches, Fractures Et Traditions para ganhar o dia: foi a primeira vez que ouvi ska num álbum de BM.

Scott Joplin - Ragtime King

Há quem só ouça música com mais de cem anos, certamente. Agora sei de quem era aquela musiquinha que ouvia em cartoons. Obrigado pela nostalgia.

Tiny Tim - Tip-Toe Thru' The Tulips With Me

OK, isto não devia contar como uma dos 25 porque é só uma canção. Mas o blog é meu, e esta vozinha exagerada é amor.

Black Lips - Arabia Mountain

Porreiro. Apenas isso. Sem canções que se demarquem, pelo menos à primeira audição. Deve ser sobrecarga dos Black Lips portugueses (segundo dizem). A ver vamos.

J Rawls - The Hip-Hop Affect

Faltava aqui um disco de hip-hop, e essa honra coube a J Rawls. Que tem neste disco algo de muito bom, como isto: 23 MCs!

tUnE-yArDs - w h o k i l l

Coisa pop estranha. Se entranha logo se verá, para agora soa a sobrevalorização. Mas posso estar enganado, como estou habitualmente. Sou um idiota, como saberão.

Zohar - Keter

E finalmente: outra cereja no bolo. Jazz, klezmer, electrónica... aqui coube de tudo, e é tudo muito bom. Altamente recomendável. Como não gostar de judeus?

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ben & Jerry's

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A habilidade que Deus não me dá no que toca a conquistar gajas exagera-a no que toca a passar horas a fazer ponta no Facebook. Tem os seus prós e os seus contras; ainda não comecei um ensaio que tenho de escrever mas ganhei um bilhete para ir ver o concerto de hoje do Ben Frost ao Maria Matos. Ela por ela, portanto. No dia em que uns celebram a liberdade e outros choram porque a ponte não tem o nome do monte de merda, o islandês veio a Lisboa para um belo concerto onde o ruído foi a palavra de ordem. Mais o medo: partes mais silenciosas que eram cortadas com um estrondo (até as paredes tremeram).

Medo que tive antes do concerto, pois como é sabido eu não costumo ter muita sorte no que toca a gigs de música mais virada para o ambiente. Felizmente que o senhor em nenhum momento foi uma seca; ora no piano, ora na guitarra - que quando soava era completamente do Black Metal que o inspira - ora no laptop (Mac, naturalmente) com que ia construindo a sua música. Concerto que falha pela pouca duração, hora e vinte se não me engano, mas que terminou com um troar imenso que levou ao arrepio na espinha e nos tímpanos dos presentes. Para quem conhecia pouco (como esta excelência que escreve) foi excelente. E ganhei inclusive o CD do By The Throat para juntar à colecção. Fuck yeah!

...não que me sirva de muito, continuarei sozinho para sempre ;_;

terça-feira, 19 de abril de 2011

Costa da Caparica

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Olá, management das Best Coast. Tudo bem convosco? A viagem desde Coachella foi dura? Não vos deixaram entrar com a erva no avião? Espero que tenham curtido e descansado q.b.. BTW, aquela cena com a acreditação é na boa. A sério. Sem stress. Vinte euros não são nada, aturar dezenas e dezenas de hipsters com óculos maiores do que a cara e bigodes à mosqueteiro não me causa celeuma nenhuma. Ah, e o concerto foi porreiro. Mesmo que mal se ouvisse a voz da Bethany, trocada por rasgos estúpidos e absurdos de feedback. Mas hey, eu até gosto de feedback. Além disso é essencial para a popzinha lo-fi da moçoila, n'est ce pas? Tudo tranquilo entre nós. A sério.

Se calhar, até vocês já sabiam assim mais ou menos o que se ia passar, por isso é que lá haviam tão poucos bros com câmeras a sério. Não as miúdas a quem quase estive para queimar os sovacos a ver se largavam o caralho do telemóvel, aqueles com mochilas e aparelhos de qualidade. Confesso que estranhei um bocado quando o guitarrista (ou a guitarrista, eu julgo ser um homem, mas cá ao fundo parecia uma gaja mesmo muito feia) secundário fez uma cara meio de nojo durante o soundcheck, mas hey, vocês sabem o que estão a fazer. No biggie. Mesmo que com os Iconoclasts ou lá o que é (que são tugas e até são bonzitos, ainda que exagerem um bocado - vá lá, xavala, headbanging com uma pandeireta?) o som não tenha estado uma merda. Na boa. Venham mais vezes.

E ela tocou a Boyfriend! Que é, tipo, a melhor canção de sempre, que até mete os gajos que não são gays a cantar e a desejar por um namorado. E por falar em namorados, onde anda o da Bethinha? Podia ter dado um pulinho aqui ao burgo, ao menos com ele ficava-se surdo, sim, mas ter-se-ia visto um concerto minimamente decente. Porque sejamos sinceros: foi uma merda. Mas pronto, não pode correr tudo bem, assim como não correu bem ao cérebro dos newfags que levaram o cartaz a perguntar pelo Snacks. (O gato não gosta de voar, parece.) Mas para a próxima há-de correr melhor! Eu confio inteiramente no vosso trabalho. Peace out.






























































Filhos da puta.

quinta-feira, 31 de março de 2011

It means I'd like to see your underwear



SE CALHAR DEVIA POSTAR MAIS CENAS NESTE BLOG LOL

Gosto de anime. Desde puto que gosto de anime. Poder-se-á argumentar que ainda sou um puto pelo menos na mentalidade. True dat. Seja como for; já não ligo tanto como ligava dantes. Sinal de maturidade? Nah, sinal de ADD. Poucas séries me puxam hoje em dia e no que concerne ao que vem do Japão prefiro ler em vez de ver. Mas no último semestre houve algo que puxou: Panty & Stocking with Garterbelt. Powerpuff Girls meets Ren & Stimpy. Carradas de innuendo sexual, porrada, humor nojento, e, o ponto que me leva a actualizar finalmente este blog, a banda-sonora, que é do caraças.

Electro house fofinho, malhões rock sintetizados, WOB WOB WOB à lá dubstep e autotune everywhere; a banda-sonora tem de tudo. Os melhores momentos são precisamente os da electrónica dançável, especialmente aquela que qualquer fã irá dizer OMG MELHOR MÚSICA DA SÉRIE POR CAUSA DA CENA DA TRANSFORMAÇÃO QUE É UMA PARÓDIA DA SAILOR MOON (não que eu alguma vez tenha visto Sailor Moon pois possuo um par de testículos), que é um remix do sr. TeddyLoid para um tema chillout que eu não conhecia e de cujo nome também já não me lembro mas não interessa; Fly Me Away é, de facto, grande.

Mas há mais; há o sambinha de Pantscada, capaz de fazer abanar qualquer gordo, há Dancefloor Orgy do mesmo senhor de quem se falou ali em cima, e naturalmente o vídeo de D City Rock ('bora lá encontrar o Wally, perdão, todas as referências), docinho j-pop com letra e refrão tão ridículos quanto infecciosos. E depois o piano muito nineties de EPTM, o house fantástico de Cherryboy Riot, a pop suave de Chocolat... e já estou a falar demais, vejam o raio da série, e acima de tudo, saquem o disco, esqueçam os links do youtube e ouçam sem medos; esta banda-sonora foi mesmo um dos bons lançamentos do ano passado. Tem canções porreiras, outras menos porreiras (Theme For Scanty & Knee Socks parece um mau remix de uma canção dos Backstreet Boys), gajas japonesas a gemer sob um ritmo funk e o interesse mínimo para fãs do estilo e/ou DJs que queiram armar-se em parvos/cultos/weeaboos. Eu pelo menos curti bué, e sou Deus. Razão mais que suficiente para irem sacar, porque a minha opinião é superior à vossa. Haters gonna hate.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Não vos gramo



Falar mal dos Grammys é a mesma coisa que maldizer o Natal e o dia dos namorados. As facções dividem-se entre os que sentem de facto a cena e os que se estão a cagar mas têm a necessidade de mandar o seu bitaite. Nós, orgulhosamente, pertencemos à segunda espécie. Porque a verdade é que, ano após ano, os cabrões de parasitas que se agarram à indústria com unhas e dentes, vociferando que a música está morta quando os tempos em que vivemos são belos, ecléticos e finalmente democráticos, fazem por merecê-lo. Isto não tem nada a ver com ser anti-mainstream. É o constatar de um simples facto: corporate machines have no taste. O que lhes vale é a existência de micos de circo em todas as galas, o que impede que se discuta de forma séria e equilibrada as nomeações e os vencedores. QUE É ALGO QUE NÃO VAMOS FAZER:

1) Barbra Streisand e os Ramones

Barbra Streisand é o diabo em pessoa, é uma velha imbecil, a voz irrita-me profundamente e perdeu o combate com o Robert Smith (old TV references FTW). Ganhou o prémio de "pessoa do ano" para a bonita organização que é a MusiCares. Não sei para que raio serve este prémio, mas não podia perder a oportunidade de mostrar o meu desagrado por ter sido atribuído à bruxa má do oeste, na mesma noite em que a supercalifragilística Julie Andrews ganhou o outro grammy que se dá a velhos ao lado dos Ramones. Numa altura em que Blitzkrieg Bop parece ter renascido para as vozes dos punk rockers de todo o mundo (ou pelo menos para as dos Fucked Up e dos Japanther), o prémio é mais do que merecido.

2) Os Arcade Fire

É talvez sintomático que o registo mais fraco dos Arcade Fire até ao momento tenha sido aquele que venceu o prémio para álbum do ano. Não que a concorrência fosse forte (lol, depositar esperanças nas nomeações), mas soa mais a uma tentativa do establishment de mostrar que também são fixes e alternativos. Também se poderá argumentar que os Arcade Fire não são menos passíveis de passar na MTV que o Eminem ou a Katy Perry, o que é a bem dizer verdade. Vá lá, já toda a gente deve conhecer a Wake Up, assim como toda a gente conhece aquela música fixe do anúncio da Peugeot.

3) Os nomeados/vencedores da categoria de dança

Rihanna é merda. Odeio tudo o que a moça faz, desde o caralho da Umbrella à xaropada Pós-Eurodance de Don't Stop The Music acabando no mais irritante dueto da última década com "o melhor rapper branco de sempre, porque os Beastie Boys fazem piadas porcas, não conta". Até as fotos dela nua, que normalmente me causariam uma enorme erecção (miúdas do Caribe é fetiche) não mais puxaram do que o vómito. Que tenha ganho o prémio para melhor canção, portanto, é motivo para terminar desidratado num hospital. A puta da concorrência causou inveja a Al Gore: Blondie reciclada, synthpop chata e reciclada, Ma(er)donna reciclada. A synthpop levou a melhor no prémio para melhor álbum, o que também não causa qualquer espécie de estranheza: os Chemical Brothers e os Groove Armada não são concorrentes, são cadáveres.

4) Os nomeados/vencedores da categoria rock

O rock não está morto. Moribundo, talvez. Que está a ser cruelmente torturado ninguém duvida. O Ted Kaczynski em mim quer acreditar que é tudo um plano da máquina para nos estupidificar a todos com o seu exército de pop electrónica e bonecas Barbie sem emoções, apenas seios. Para o alcançar, começam por atingir a credibilidade da instituição. De nenhuma outra forma se aceita que a melhor prestação rock de um artista solo tenha sido vencida por UMA CANÇÃO COM QUARENTA ANOS. Ninguém está a pôr em causa a pujança da canção. Mas a sério: em 2009/2010 não houve nada de interessante no rock? O ressuscitado Neil Young não merecia muito mais que o último Beatle que interessa? O Eric Clapton não é um chato de merda? Resta congratularmo-nos pela vitória de Tighten Up, dos Black Keys, na categoria duo. Só que a ténue réstia de esperança que teríamos é sobejamente trucidada pela vitória dos absurdamente aborrecidos Them Crooked Vultures na melhor prestação Hard Rock, pela vitória dos escorregadios Iron Maiden na categoria de métau e pela vitória - a.k.a. o momento mais WTF desta gala - dos Muse pelo melhor álbum rock. Aparentemente, nem o Le Noise nem o Brothers seriam melhores candidatos a álbum rock do ano, que é como quem diz, melhores candidatos a derreter-nos a pele da cara e a furar-nos os tímpanos do que aqueles teclados bué do prog, e o Matthew é um guitarrista do cê érre éle, tás a ver? O rock não está morto. É apenas o novo Cristo.

5) Notas soltas

A segunda vitória dos Black Keys, na categoria de melhor álbum alternativo. Confesso que estive certo de que o atribuíssem aos AF (e eis aqui uma das muitas incoerências desta organização). Os Vampire Weekend, que também o mereceriam, ficam-se pela nomeação, o que já não é de todo mau. Ao menos não ganharam os chatos dos Band of Horses. Triste pela derrota de Miss Janelle Monáe, mas Fuck You! é uma canção com o peso do autor: enorme. A tristeza é ultrapassada pela raiva: Usher melhor que The ArchAndroid?Não percebo o hype criado à volta de John Legend: o homem é aborrecido. Eminem ganha prémio de melhor tema solo e melhor álbum rap porque, lol, os pretos não podem ganhar tudo. On To The Next One não é superior a Shutterbugg, Empire State Of Mind era vitória previsível. Haver uma categoria de melhor álbum New Age é algo que me fascina e repulsa em medidas iguais. Não percebo um caralho de jazz ou gospel, não sabia que o Sérgio Mendes ainda estava vivo, não os vi mas um musical do American Idiot ganhar um prémio e um do Fela não repulsa-me a 100%, os prémios para melhor vídeo não me dizem nada mas se não tem nada dos Black Keys é merda. E agora, guardar a azia até ao ano que vem.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Deus é bom e é drogado



A promessa: stoner puro e duro, riffs a navegar por cima das nossas cabeças e cânticos roubados aos Tibetanos. A premissa: God Is Good, quarto disco dos Om, banda que veio preencher a lacuna aberta pelo fim dos Sleep. A preguiça: noite de Domingo, frio do caralho, no bitches in the premises (porque, lol, o gajedo que interessa não curte metal). Mas lá fomos, quer dizer eu, e foi bom, quer dizer awesome; e, como de costume, doem-me as pernas de fazer 6km ida-volta entre Sta. Apolónia e a ZdB porque sou ideologicamente contra o metropolitano. Mas anyway:

Gabriel Ferrandini é baterista. É um baterista do caraças. Faz coisas à bateria que eu julgava não serem possíveis. É um dínamo vivo, um Bonham se Bonham fosse só mito e não homem, uma descarga imensa de percussão e chinfrineira. É também chato como o caralho. A sério: expliquem-me a ideia por detrás de "tipo sozinho a mandar solos". Eu sou um gajo que ouve e adora coisas bastante estranhas, mas um gajo sozinho a bater uma pívea à bateria não é bem a minha cena. Admito que em disco soe melhor. Deve ser a síndrome Tangerine (se ainda não sabem o que isto é é porque não lêem o blog com atenção. Não vos culpo, though. É só merda aqui).

Depois há os Om. Que também têm um baterista. Mas este, este já faz qualquer coisa. A puta de precisão rítmica aliada à guitarra ganzada do Al Cisneros e à... pandeireta do Rob Lowe é assim uma espécie de qualquer coisa. Os cerca de duzentos ou talvez mais, não sei contar, de headbangers que encheram o Aquário sabem bem do que falo. E se a princípio as quebras constantes entre canções para afinações davam cabo da vibe, foi nos últimos dois temas (não sei quais foram, sou um hipster, não decoro o raio dos nomes das faixas mas tinha uma onda meio Pink Floyd circa Set The Controls For The Heart Of The Sun) que tudo nos apareceu tão belo quanto uma alucinação e tão pesado quanto um tubarão grávido. Estou desapontado é com a trupe de negro: ninguém levou ganza, meninos de merda?

sábado, 8 de janeiro de 2011

Florence Nightingale



Agora que entrámos verdadeiramente em 2011 já podemos começar a falar de música e de todos os álbuns e concertos absurdamente fantásticos que vamos encontrar ao longo dos próximos meses. A temporada iniciou-se esta noite no Maria Matos com o(s) Nurse With Wound, projecto essencial daquilo que um dia pessoas não-relacionadas com a Lisnave decidiram chamar música industrial. Basicamente: foi daqueles concertos em que quem lá está vai pelo cred.

O motivo era o de sempre: apresentar uma obra ao vivo. Mas não uma obra qualquer. Esta era a apresentação de Soliloquy For Lilith, datado de 1988 e construído a partir de um acidente cuja natureza poderão saber no link para a Wikipedia ali deixado, um pouco como se fosse um disco criado só com theremin, instrumento esse que é a melhor coisa alguma vez saída da Rússia a seguir aos tempos em que as t.A.T.u eram relevantes e lésbicas e de que até o Lenine gostava. O álbum, esse, contém pouco mais de hora e meia de feedback e drone e é altamente aconselhável à malta dos ácidos.

Não foi porém dessa forma que Stapleton (a.k.a. Nurse With Wound e orgulhoso dono de uma cartola) o decidiu mostrar ao grupo de hipsters à minha frente com camisolas de Joy Division e Burzum mundo: acompanhado dos Blind Cave Salamander, que não sei quem são mas um deles é gordo, deu uma nova roupagem aos seis temas que compõem Soliloquy... adicionando um violoncelo e duas guitarras, juntamente com uma coisa que o gordo aforementioned tocava que eu não consegui discernir o que era mas que era o único ponto de interesse do concerto. Porque, sim, numa escala Pitchfork foi um concerto 10/10, super far out e altamente experimentalounderground e mal posso esperar para actualizar o meu last.fm, mas, na chamada escala popular, foi aquilo a que coloquialmente se chama uma seca do caralho. Mas eu já devia ter calculado que projectos de música ambiente ao vivo não são comigo.