terça-feira, 25 de maio de 2010

Devagar se vai ao longe



Dêem-me só um minuto para respirar.

*Uuuf*

Ok. Depois da overdose hipster a que fui sujeito, só uma coisa a apontar dos XX: o hype é inteiramente justificado. Bandas com um tempo de vida tão curto como o deles não dão/não deviam ser capazes de dar um espectáculo ao nível do que apresentaram hoje na Aula Magna - para isso contribuiu em muito também o público que esgotou a sala e não parou de puxar e aplaudir pelos três miúdos. Grande jogo de luzes, grande prestação musical. Todos os concertos pop deviam ser assim.

Os Long Way To Alaska, que abriram, são portugueses e parecem ser bons rapazes. As canções situam-se algures entre a folk pastoral dos Fleet Foxes e o pós-rock; tocam poucos acordes mas enchem o mundo com eles. Porém, não se destacaram na noite de hoje, mesmo que tenham durado apenas vinte minutos. E se conseguem aborrecer alguém nesse período, é mau sinal. No myspace soam porreiro, though.

Um pano branco e o X no meio, e o público cruza os braços como num concerto de Xutos: não os vemos entrar, mas sabemos que estão lá mal começa Intro e aquela guitarra, aquela batida. Dão a cara enfim em Crystalized, que é grosso modo a sua filosofia de vida - GoOoOo sloooow... É redundante dizer que tocaram todos os êxitos quando no disco homónimo de estreia TODAS as canções são um êxito. Destaque maior para VCR, Heart Skipped A Beat e a fabulosa prestação de Shelter, que contou com um revivalismo trance lá pelo meio. Na primeira passagem por Portugal, o sentimento é unânime: já é um dos concertos do ano.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Minimum Maximum



Can you hear me now?

Depois do fim dos Big Black, grande instituição do pós-punk norte-americano, e dos Rapeman, melhor nome de sempre, Steve Albini formou os Shellac. E viu ele que era bom. E depois os Shellac lançaram 1000 Hurts, e cimentaram a posição que os jornais lhes deram/dão como banda-chave do movimento alternativo e independente. E Steve Albini mandou-os para o caralho, porque não tem pretensões de ser uma estrela de rock; pois o rock é a estrela, fusão nuclear, osso ensanguentado, movimento em câmera lenta como um filme sobre tarântulas no National Geographic. Tal como definido pelo Martin Hannett de 24 Hour Party People: faster, but slower.

Can you hear me now?

Quase como irmãos gémeos nascidos em dias diferentes: os Mission Of Burma também vieram ao palco, perdão, ao forno da ZDB mostrar que também têm direito a um beijinho. São pesados, são abrasivos, parecem tocar cada acorde com cacos de vidro, se não os estivessemos a ver ali à nossa frente não imaginaríamos que já passam dos cinquenta. E debaixo do ruído uma linhagem distintamente pop, assim como os Pixies são pop, os Nirvana eram pop. Ainda bem que a velhice é só um estado de espírito. I won't take shit from you or anyone else, so fuck it! O prelúdio ideal do apocalipse sonoro que se lhes seguiria.

Can you hear me now?

Albini é engenheiro de som. Dos mais reputados do panorama musical. Entra por ali como qualquer engenheiro que não seja português: fato macaco, inspecciona a área, faz os últimos preparativos. E depois... descarga atrás de descarga. Riffs e ritmos básicos, minimais, que à primeira vista parecem fáceis de emular. Mas só à primeira vista - é difícil fazê-los explodir daquela forma. Quando se torna demasiado difícil manter o mesmo nível em palco, viram-se para o público, fazem sessões de perguntas e respostas, por mais imbecis que as perguntas sejam. Steady As She Goes puxa para o mosh, Prayer To God arranca améns e aleluias. The End Of Radio é um poema contado por um baixo sujo e maltrapilho. Cru como o bom rock. Perante tal amostra só resta ao público agradecer. Afinal de contas, estamos perante aquela que é muito provavelmente a última banda punk da história. Não assinam contratos, não cobram cachets fixos, não fogem aos fãs - e até ficaram mais um pouco à conversa depois do final, eu é que não vi porque tenho a mania da ecologia e ando de transportes. Os Shellac vieram a Portugal, 16 anos depois de se formarem. E vimos nós que era bom. Can you hear us now?




P.S. A partir de hoje também podem ler estas críticas da tanga no Bodyspace. Basta seguirem com atenção os posts deste camarada. E sim, senti necessidade de fazer publicidade. E desta rima.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Ressurreição Não Passará Na Televisão



Gil Scott-Heron esteve prestes a morrer; hoje, ultrapassados os anos de dependência de droga, de casos de polícia e de fraca inspiração artística, surge como um homem novo. I'm New Here conta em 28 minutos o que Scott-Heron quis dizer em dezasseis e não pôde - elegias à família e às origens, tributos aos Blues que tanto o inspiraram (Bluesologist, apresenta-se ele), exercícios de auto-crítica. Regressa aos discos com uma nova maturidade (ou jovialidade) própria de quem, aos sessenta anos, venceu as batalhas que a vida nos prepara, contra si, contra os outros, contra o tempo, mas sempre com o mesmo estilo pungente que lhe é tão característico e que lhe vale os epítetos de avô do rap.

Não foi, no entanto, sobre I'm New Here que se baseou para o espectáculo de hoje na Aula Magna (e anteontem, na Casa da Música), representando, ao invés, uma espécie de best of da sua carreira, misturada com um enorme sentido de humor (a spoken word substituída pela stand-up comedy). Mostrou-se surpreendido por o terem dado como "desaparecido", e, como que a provar o contrário, começa com Blue Collar, retrato de quem se sabe perdido mas não desiste de se encontrar (Seems like they kick me when I'm down/Get on up, get on up). Avança por Winter In America sem soçobrar, e, no que toca ao sampling, agradece agora de certo modo a quem lhe foi buscar inspiração, casos de Kanye West e/ou Common. Conta piadas ordinárias sobre a origem da palavra «jazz» antes de Is That Jazz?. Mais que música, tudo é poesia nas suas palavras - e o contrário também se aplica.

Muito bem acompanhado pela sua banda (que a espaços também foi tendo direito aos seus momentos de glória), terminou com uma fantástica The Bottle, até chegarem os encores; primeiro com Three Miles Down, em que o público aderiu aos seus incitamentos para "cantar", e de seguida, abruptamente (pois as luzes e a música de fundo tinham regressado, e meia sala estava à porta de saída), com Better Days Ahead, a despedida que faltava. Faltou a fabulosa Home Is Where The Hatred Is, mas não será por aí que se poderá dar o serão como perdido; afinal de contas, após uma semana tão católica, pudemos assistir a uma reencarnação ao vivo. As revoluções passam, as canções ficam.

domingo, 16 de maio de 2010

Gulags e Elefantes



Acontece durante os primeiros segundos de Gulag Orkestar. Deixamos de ter os olhos na estrada e formam-se na nossa cabeça imagens de uns Balcãs distantes e divididos, desfile de culturas de pátrias várias, unidos pela península comum e pela vontade de sarar feridas recentes (não obstante o facto de as exibirem orgulhosamente como um troféu). O que Zach Condon faz com a sua orquestra não é um mero disco pop, mas um elogio a toda uma nação, sob uma estética quase que Pessoana: o coração sente saudades da terra onde nunca esteve.

Passamos por Brandenburg, por aquele ukulele fantástico, por aquele desejo-traço-lamento: send me now, the winter's over. A banda cresce e a viagem ganha forma, percorremos as vielas de um leste imaginário à procura da vida, ou do amor, ou da violência, ou de um mero copo onde esquecer todos três. O alcatrão corre como o Reno. E, subitamente, deixamos de poder esquecer, não a desilusão, mas o fim da ilusão: I won't have you anymore, I can't... até estarmos sozinhos e a contemplar os nossos próprios falhanços num país desconhecido.

Reencontramo-nos na Itália, onde é difícil entristecer - a nostalgia não nos parece algo triste. Porém, a memória dela teima em não se afastar. No meio das deambulações, damos connosco a não acreditar em Deus mas a fazer pedidos a estrelas cadentes - e um estranho sorriso toma-nos conta da cara. Perdidos, destroçados, humilhados, vemos algum conforto na nação que nos acolheu, mas não chega (but there's nowhere to go...). A vontade é a de submergir, é a da palavra maldita que é o suicídio. Watch now, all will end/now I'm under a tide. After The Curtain, que é como quem diz, depois da morte, há ainda uma escolha a fazer, no meio dos aplausos de quem connosco conviveu: que merecemos nós?

Merecemos, claro está, fugir ao Gulag; Elephant Gun faz-nos levantar do chão em busca de uma nova identidade, ou coragem, ou até mesmo de uma alma nova. All that is left is all that I hide. Terminado o exercício de auto-avaliação, um pouco de humor na versão (uma das melhores de sempre) de Le Moribond e de apoteose em My Family's Role In The World Revolution: impossível manter os braços em baixo. A vida é isto: sentir tudo de uma vez. Um grande álbum, uma grande banda é isto: fazer-nos sentir tudo de uma vez.

sábado, 15 de maio de 2010

The Summer Of Our Discount Tent: Rock In Rio



Se, como eu, puxaram os estores da janela do vosso quarto para cima para deixar entrar o ar depois de uma maratona nocturna do How I Met Your Mother, devem ter reparado que o sol voltou. Que é como quem diz: o verão está a chegar, e com ele aqueles eventos que fazem as delícias de promotores e painéis publicitários, e quiçá de alguns amantes da música - os festivais. Desde há uns tempos para cá que o país tem assistido a uma mais variada oferta no que lhes toca; há festivais para hippies (FMM), para hipsters (PdC), para mães (CoolJazzFest) e para idiotas (Rock In Rio). É precisamente sobre este último que se debruça o texto de hoje, agora que falta uma semana para começarem as hostilidades AH ESPERA ISTO É NA BELA VISTA HÁ SEMPRE HOSTILIDADES LOL e as reportagens 24/7 na Sic Radical e na MTV. Deus abençoe os media!

Podíamos falar da história do festival, da sua implementação cá, de quem já trouxe, os temas que trata, etc. mas isso não interessa um real caralho. Falamos de coisas mais importantes, ou seja, DO CARTAZ. Porque algumas pessoas ainda vão a festivais só pela música e não pela confraternização ou mariquices do género. Normalmente essas pessoas vivem uma vida muito triste e acham que vão ser alguma coisa na vida tipo crítico no Ípsilon. Não sintam pena delas que elas já têm bastante de si próprias. Adiante:

SEXTA-FEIRA, 21/05

Muito provavelmente o dia mais merdoso do festival (redundância). Ora note-se: abarca das piores coisas que o Brasil já ofereceu na pessoa de Ivete Sangalo ("mas ela dá um grande espectáculo e blá blá blá" EH PÁ, NÃO), o pior rapper português e o guitarrista/sex-symbol mais chato de sempre (John Mayer). Junta também bandazitas que cavalgaram a moda Deolinda (Oquestrada e Azeitonas), DJs pop como Calvin Harris e a voz esganiçada da Mariza para não nos esquecermos que estamos em Portugal. Cabeças de cartaz: Shakira (de quem ia falar mal, mas ganhei um novo respeito) e Deadmau5 (também é meio pop, mas do bom. Além disso anda pelo 4chan). Opinião pessoal: não vale a pena gastar 58€ por isto, nem que se seja rico e se queira gastar dinheiro à parva - é muito mais satisfatório limpar o cu a uma nota de cem.

SÁBADO, 22/05

Melhora em relação ao dia anterior, quando mais não seja pela inclusão dos FUCKING DEWAELE BROTHERS em versão live act - o que só por si deve valer meio bilhete. Destaque igual para Major Lazer, projecto anglo-americano de Diplo e Switch que vão fazer abanar corpos com a sua versão indie desse aborto musical que é o reggaeton. Para as pessoas que gostam de rádio e não de música, há também João Pedro Pais, Leona Lewis e (Sir) Elton John. Se bem que este último é um bocado injusto. Não há ninguém que não goste da Can You Feel The Love Tonight. Porque, vá lá, Rei Leão! Awesome.

QUINTA-FEIRA, 27/05

O cartaz para este dia encontra-se no mesmo patamar do de 22 - muito rock radio-friendly, agora não tanto para adultos mas para jovens. Entram em cena os Sum 41, que desconhecia ainda viverem, os inultrapassáveis (por mais que se tente) Xutos, Snow Patrol e finalmente Muse. E eu confesso: o último álbum não é tão mau como o pintam. De qualquer das formas, só lá iria para o momento NO ONE'S GONNA TAKE ME ALIIIIIIIIIVE da Knights Of Cydonia; caralhos me fodam se isso não é um som enorme. Na tenda, aplausos para Gui Boratto e pouco mais. Não se percebe porém porque é que um dia que supostamente levaria imensos fãs (de Muse) é à Quinta e depois há folga, mas a organização que responda a isso.

SÁBADO, 29/05

MELHOR. CARTAZ. DE. SEMPRE. Não estou a brincar. Ou talvez esteja. Afinal de contas, duvido que se vá ouvir alguma coisa por entre os gritinhos apaixonados das crianças que vão encher o recinto para verem a Hannah Montana. Eu enchia-a. À Hannah Montana. Ui. Só faltariam os Tokio Hotel para melhorar a festa e as gargantas, mas é para isso que servem os DeZertos, que agora até parecem uma banda a sério, com a reunião e disco novo e tal. Para meu gozo pessoal deviam ter aguardado mais uns 10 ou 20 anos antes de o fazerem, mas entende-se que precisem de dinheiro agora, com a crise. Um beijinho para a Amy Macdonald: ultrapassar na CREL o tour bus dela foi o segundo melhor momento "OMG ESTOU PERTO DE UMA CELEBRIDADE" a seguir à distância de 15cm a que estive do B Fachada anteontem. Não adianta falar da tenda porque não há um único nome que se safe. O Vibe é merda. Nem para curtir no meio da praia, tudo descalço e só de calções. Eish.

DOMINGO, 30/05

E, para não variar, o melhor dia do Rock In Rio é o do metal. Poderia ter sido ainda melhor se fossem os gigantes Motörhead a fechar e não a nova versão techno-tipo-Scooter dos Rammstein. OK, a Pussy tem graça, mas... parece que sucumbiram ao facilitismo depois de grandes temas como Spielhur, Seemann e/ou Morgenstern. É algo desapontante, na verdade. Nota para Soulfly e Megadeth, que também se apreciam nas doses certas. Por outro lado: Fingertips. Foda-se. Vale o bilhete pelo Lemmy e a sua fantástica verruga.

Eis então o festival da família, o F que faltava depois do futebol e de Fátima. Pontos positivos: absolutamente nenhuns. Pontos negativos: serão a minha tese de mestrado assim que volte à faculdade. Razões para se falar disto neste blog? Temos ouvidos de puta. Papamos tudo. Ou quase. A quem quer que vá: os meus sinceros pêsames. À organização: pessoal, vocês faziam muito mais dinheiro se tivessem preços especiais para família ou algo do género. Até o Rock One (que é o protótipo de tudo o que NÃO fazer de um festival) pensou nisso. 'Nuff said.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Vasta Simpatia



Até foi bom que o vento se impusesse na noite de hoje, como se a Primavera nunca tivesse chegado e o aquecimento global fosse uma mentira. Aqueles que se juntaram no Lux, discoteca normalmente libidinosa e hoje convertida em santuário intimista, viram-se acalentados por uma das mais belas vozes que já foi dada a conhecer ao mundo, mesmo que o mundo parcamente a conheça. Vashti Bunyan, toda ela amabilidade, de thank you! em thank you!, embalou os presentes com a sua folk de embalar corações, meditações sobre rigorosos invernos, meteorológicos e amorosos. Até foi bom que o vento se impusesse na noite de hoje como se soubesse que canções assim só podem ser apreciadas em ambiente frio.

Coube a honra de abrir o concerto (já de si mítico, só pelo nome) à coqueluche do indie nacional, o inimitável B Fachada. E é importante frisar isto: o rapaz merece todos os elogios e mais alguns. Acompanhado no contrabaixo por Martim Torres, arrancou por inúmeras vezes gargalhadas ao público interpretando temas como Tempo Para Cantar ou a fabulosa Kit De Prestidigitação, canções folque (aqui tem de ser diferente, pá) que pululam num território vagamente americano mas travestido de Trás-Os-Montes. Mais importante ainda, todo o ar de cabrão pretensioso que parece saltar vezes sem conta das suas relações com a imprensa se desvanece quando nos apercebemos que este tipo é, afinal, o maior troll de sempre; uma espécie de Ludgero Clodoaldo mas muito mais culto e com imensamente mais piada.

Já tinha dito que a mulher é um poço de simpatia? Senão vejamos; agradeceu no final de todos os aplausos, pediu desculpa por se atrasar (problemas com nuvens de cinza), falou nostalgicamente da sua viagem pela Grã-Bretanha com um namorado e uma carroça, dissertou sobre a relação com os filhos. E para completar, canções curtinhas (não precisam de mais tempo), simples, ora sobre as nossas dúvidas existenciais juvenis, ora sobre desgostos, ora sobre tempos invernosos sublinhando a ausência. E uma voz arrebatadora, meu Deus, que partiste para tuas hosanas em Fátima quando podias ter visto um anjo a cantar aqui. Quarenta anos depois, límpida como a água. Provada fica também a estupidez de quem lhe coloca a epígrafe de madrinha da freak folk; não estamos na presença de nenhuma hippie mal-cheirosa e a tripar com ácidos - mas de uma rapariguinha do campo que canta com um misto de tristeza e jovialidade que só nós, língua portuguesa, podemos exprimir: chama-se saudade. Obrigado? Não, obrigada nós!

sábado, 8 de maio de 2010

Isto não é um post sobre música



Vinha na ideia de escrever um texto espectacular sobre o concerto à borla dos Deftones, mas por motivos de força maior (ler: trabalho) vou ter de me resguardar nos Poptones, isto é, num dos grupos que sem sombra de dúvida definiu aquilo que as enciclopédias chamam de pós-punk, e cujas canções não me têm saído da cabeça. O que não é bom sinal. Neurologistas, contactem-me. Espero porém que algum dos nossos novos amiguinhos tenha espalhado charme no Tivoli e nos agraciem com uma review de qualidade. Não é pedir muito. :*

Fale-se então da banda, perdão, da empresa. Os Sex Pistols eram demasiado infantis para si, mas não consegue deixar de amar o penteado de Mr. Rotten? Envie currículo. Ou ouça: a dedicatória a outro senhor recentemente falecido em Public Image é dos melhores momentos que o período punk oferece, isto se não contarmos com o filme porno de Lydia Lunch. Há, contudo, que saltar daqui e do primeiro álbum em que se insere, quando tudo era ainda uma brincadeira, para cairmos em Metal Box - que é como quem diz, em Albatross, Swan Lake/Death Disco, Poptones, Socialist, uma hora e trinta e poucos segundos do melhor baixo que vai alguma vez ouvir na sua vida. Jah abençoe Wobble. E se "música experimental" não é para si, das duas uma: ou pára de ser menor de idade ou aterra em This Is Not A Love Song (prenúncio de alguma coisa, Joãozinho?) e Rise, dois dos melhores hinos pop que os eighties ofereceram. Alienar os fãs originais? Qual quê.

Nenhum destes argumentos lhe serve, você que está infectado pela MTV? E se lhe disser que pessoal do mainstream como o fantástico baixista dos Red Hot adora-os? Também não? "São um bando de velhos"? True, true... não nego que fico com um gostinho amargo na boa quando vejo vídeos da reunião, o mesmo gosto que tive em Paredes 2008. Não há crise. Ao contrário do corpo do sr. Lydon, a caixa metálica não enferruja. Palavra de bloguista.

domingo, 2 de maio de 2010

B(r)oche-róque, é bom



Depois do nazismo, os alemães ficaram em dívida para com o mundo. É por isso que hoje temos BMWs, a Claudia Schiffer circa anos 90 e krautrock. O termo é ofensivo, mas eles não parece(ra)m importar-se muito. Seria porventura do estado avançado de letargia marijuanística em que se encontravam quando lhes surgiu a ideia de fazerem música que consistisse simplesmente em jams alimentadas pelo espaço sideral. É esse o problema dos drogados de hoje: só sabem arrumar carros e popularizar modas parolas.

Esta colectânea da Soul Jazz é mais do que um álbum. É um documento histórico. É uma maneira de dar a conhecer ao ouvinte casual aquele que terá sido dos movimentos mais importantes dos anos 60 a seguir ao Maio de 68. E é maravilhoso para colocar como pano de fundo e mirar um céu que tão azul tem estado nestes últimos dias. Aspectacle, dos Can, entra logo a matar com um ritmo death disco designado a prender a atenção e a soltar as ancas. A partir daí é festival, desde o fantástico sintetizador de Michael Bundt (La Chasse Aux Microbes), à nostalgia Jogos Som Fronteiras dos La Düsseldorf (Rheinita), ao felácio que os Faust proporcionam aos Velvet Underground (It's A Rainy Day, Sunshine Girl - que é também o melhor título de uma canção de todo o sempre), à terna ambiência dos Neu! (Hallo Gallo). Isto só para citar o que me é pessoalmente favorito. Há Harmonia, Popol Vuh, Cluster, Amon Düül, aquela flauta deliciosa na faixa dos Ibliss, todos os nomes que se fizeram e que fizeram o psicadelismo alemão.

A música do futuro, ontem? É um slogan bestial. O ritmo mecanizado, o ambiente cósmico das teclados não o deixa mentir, provando mais uma vez que por detrás de cada bom aluno (techno) há um excelente mestre. Ou uma coisa assim.