terça-feira, 29 de junho de 2010

The Summer Of Our Train Ride: Delta Tejo



O Delta Tejo surgiu porque os milhares de emigrantes brasileiros e africanos também precisavam de um festival de música. Tudo bem. Tanto uns como outros podem exibir com orgulho o facto de já terem produzido ao longo da história da música alguns dos mais interessantes géneros, sons e bandas (excluindo obviamente sertanejo e kizomba. Foda-se). Os três dias no Alto da Ajuda mostram um cartaz que puxa pela dança em nome da libertação.

SEXTA-FEIRA, 02/07

À excepção de Shaggy e Expensive Soul*, dia bom para roçar em boas bundas: Carlinhos Brown (funkyyyy), Nação Zumbi (funkyyyy), Nu Soul Family (fun-kay) e o colossal soundsystem dos Buraka. Se a oportunidade surgir há que acabar a noite a dançar freneticamente ao som de Restless. Melhor faixa de 2010, ou melhor faixa de 2010?

* Num dia bêbado, sou até capaz de admitir que têm bons instrumentais. Mas o resto, o resto, foda-se.

SÁBADO, 03/07

Heartbeat era uma música gira. Depois apareceu nos Morangos. Continuou gira, mas agora tem o estigma: apareceu nos Morangos. Deve ser por isto que já não sou tão fã de Interpol quanto era. Nneka junta-se à nova coqueluche do fado (Ana Moura) e aos envelhecid'Os Mutantes para formar o trio de interesse deste dia. Seria melhor se fôssemos abençoados por uma reconciliação entre Rita Lee e a sua antiga banda. Mais probabilidades têm os Smiths de se juntar. Ando a bater muito nesta tecla ultimamente, não tenho?

DOMINGO, 04/07

Continuo com vinis velhos do Martinho da Vila para vender. Mandem mail. Puto Prata vai estar em altura no último dia do festival, juntamente com Batida (Buraka sem a fama) e Cacique'97. Estes últimos andarão a espalhar magia com a fabulosa Dragão. Afrobeat português; só a ideia soa bem.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

The Summer Of Our Rented Mercedes: CoolJazzFest



Se há festival que dá credibilidade V.I.P. a quem assiste, é este. Verdade que longe vão os tempos em que Cascais albergava concertos dos Can e de Miles Davis, mas note-se: uns acabaram, o outro morreu. Não que os nomes que lhes sucedem sejam piores de alguma forma - por exemplo e logo a abrir, a 1 de Julho, o concerto mais que esperado de Regina Spektor, que é também aquele com maior sexhipster-appeal. Bilhetes já esgotados para ouvir a voz e o piano da senhora.

Segue-se-lhe Chris Isaak, a.k.a. o tipo que canta aquela música buéda fixe THE WORLD IS ON FIIIRE NOTHING COULD SAVE BUT YOUUU. Mas é uma boa música. É uma grande música. É uma música nostálgica, das viagens de verão até aos lugares mais populosos do Algarve ou do Norte do país porque os papás só tinham uma única cassete em que o sr. Isaak surgia entre Michael Jackson e Milli Vanilli. Que belos tempos :'). A cinco de Julho.

13 de Julho; se a Oxigénio é música para respirar, Norah Jones é música para ignorar. Secas e aborrecidas, as canções da senhora vão com certeza levar a Cascais imensos fãs da rádio e tias que querem discutir o concerto com as amigas depois de uma sessão de cristaloterapia e Paulo Coelho. A evitar como o diabo da cruz para que não percamos a sanidade.

17 e 20 de Julho elevam a cena portuguesa, com actuações de António Pinho Vargas/Laurent Filipe/Groove4tet e da coqueluche do nacional-cançonetismo, os Deolinda do Movimento Perpétuo. Não me interpretem mal: até é giro. Mas cansa rapidamente. Para estranja ver.

22 de Julho seria o dia em que levaria a minha mãe, não fosse o facto de 1) ser um teenager bué rebelde e 2) ter o mínimo de gosto. Maria Bethânia. Bethâaaaania. Só o nome faz comichão nas narinas. Outro concerto para senhoras na menopausa.

Omara Portuondo a 23, Corinne Bailey Rae (guilty pleasure) a 24, Diana Krall a 25: tudo mulheres bonitas, tudo mulheres com voz. Com atenção especial para Omara, acompanhada da Orquestra (*gasp*) Buena Vista Social Club. Copo com rum e gelo numa mão, charuto cubano no outro: os comunistas estão certos, Cuba é awesome. Tenho um ódiozinho pela miss Krall - os discos dela não vendem e ocupam-me espaço na loja. Dass.

E finalmente (festival mais longo de sempre, hein?) dias 27, 28 e 29: Club des Beluges, Elvis Costello (óculos-de-massa-tástico) e Solomon Burke + Joss Stone; também conhecidos pelos três dias em que os homens não irão ter vergonha de dar um pulo a Cascais. Atenção maior para Costello. É bom e gosta de Suicide. Amor eterno.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

The Summer Of Our Discount Tent: Sumol Summer Fest



Ou, como reciclar piadas é sempre hilário. Sempre.

Não houve um dia em que não me fossem perguntar "vendem bilhetes para o summer fest"? Sim, vendemos. O problema: sendo verdade que a população hipster foge a sete pés mal sente o cheiro a reggae, o mesmo atrai colinas atrás de colinas de putos de catorze anos carregando no braço o imortal livro Festivais de Música Para Totós. Filas e filas de miúdas imberbes que de música só conhecem aquela música gira que passou nos Morangos e que é bué fixe e chill, tás a ver? Corpos atrás de corpos femininos por formar, enfurecidos de álcool e drogas leves, perdidos numa tenda no meio da Ericeira.

Meu Deus, o que eu não dava para lá estar.

O cartaz: tudo merda. Não adianta dissertar mais. Nenhum cartaz que ostente Gentleman à cabeça pode ser bom. Nem que antes toque o cadáver hirsuto de Sid Vicious. Ou que os Smiths se reúnam. E isto já é dizer muito. Demais, até.

Claro que se poderia dizer uma outra coisinha boa de Matisyahu. Mas isso não teria piada absolutamente nenhuma.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fuck Buddies



Sweet Love For Planet Earth veio apenas confirmar aquilo que já se sabia: os Fuck Buttons são a resposta ao programa SETI e vieram dos confins do universo para nos escravizarem a todos pela força da distorção e do beat 4/4. Quem achava impossível que dessem um concerto tão bom como o da ZDB no ano passado enganou-se tanto quanto Carlos Queiroz ao colocar Danny a titular; o ruído parece maior dentro da caverna do Lux, Andrew e Benjamin parecem menos tensos e infelizes e o público parece é mais pastilhado. Se pudéssemos inventar estilos diríamos que foi uma hora do melhor dance-noise desde que Masami Akita decidiu criar um bicho chamado Merzbeat. Mas é uma comparação injusta, ou mesmo absurda; centremo-nos antes na certeza de que o duo de Bristol é das coisas mais interessantes que surgiram do universo musical alternativo da década 00.

O alinhamento não foi muito diferente daquele de Setembro passado, com Surf Solar a abrir as hostilidades e os ouvidos de muito boa gente que se estreava nestas andanças do ruído. Tudo serve para o fabricar; Gameboys, karaokes da Fischer-Price, Casios do tamanho de uma unha do pé e um bombo ora militar ora tribal em que Benjamin batia à velocidade do E. Bright Tomorrow é um clássico com apenas dois anos de existência. Encore no final com a supra-mencionada Sweet Love..., perante um público meio atordoado e a sofrer de tinnitus que hoje aplaude o drone que produzem os Fuck Buttons e amanhã pedirá a proibição das vuvuzelas. Isto é rave século XXIII.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Saúde de Ferro



O Santiago Alquimista é um sítio giro. Para além de ter vista privilegiada sobre Lisboa e o rio omnipresente, o facto de se apresentar como bar traz uma certa nostalgia daqueles sítios onde um tipo ia beber uns copos e se a banda presente fosse boa éramos capazes de lhe prestar atenção (o Lux não conta, amiguinhos). Claro que só traz esta nostalgia para quem viveu esses tempos. Não é o meu caso. Mas esta introdução é porreira, hein?

A experiência sociológica que dá pelo nome de PAUS (aceitam-se piadas pornográfico-juvenis) quase que dá a entender que o fim dos Vicious Five não terá sido tão mau quanto o pintam. Mesmo que os teclados nos façam sentir coisas é naquele ser híbrido que dá pelo nome de bateria siamesa que se colocam todas as atenções - seja porque estamos sempre todos muito dispostos a apontar o que é diferente seja porque Joaquim e Hélio fazem dela uma experiência transcendental. Barulho ritmado, ou ritmo barulhento? A dúvida persistirá até alguém fizer a comparação com Lightning Bolt. Até lá só não são a banda mais barulhenta (isto é positivo) que já vi porque estive no Algarve em plena aparição de MBV.

Aos HEALTH (5€ em como só juntaram estas bandas por causa da paixão pelo Caps Lock) coube a honra de fechar a noite ruidosa com a sua espécie de shoegaze. Mas essa etiqueta só se aplica ao estilo - são bonitinhos, novinhos, olham demasiadas vezes para o chão, as meninas da audiência adoram (a única benção do hipsterismo: trazer a moda Lolita para concertos). Ao vivo aquilo que já é fodido em disco torna-se ainda mais fodido porque não há maneira de baixar o volume que brota das colunas. E se Crimewave, aquela que o pessoal só conhece por causa dos Crystal Castles, se apresenta com a mesma troada, é em We Are Water que a sala explode com tudo a cantar o refrão em uníssono. Aquilo que é etéreo no Shoegaze desaba sob as nossas cabeças como um meteoro. Se os Killing Joke eram o som da terra da vomitar, os HEALTH podem muito bem ser o céu - e o baixista foi um porreiro e assinou-me o disco. FANGASM