quinta-feira, 22 de abril de 2010

Youth Against Fascism



O movimento de bilheteira no meu emprego espectacular não o fazia prever, mas a verdade é que os Sonic Youth encheram o Coliseu. E não só de público, mas de guitarras (ao longo do concerto utilizaram umas vinte), monstros de onde brotavam ora o riff mais violento ora o mais tranquilo, numa atmosfera constante de final de sonho, seja porque o punk morreu, seja porque os anos 90 se perderam para sempre e o alternativo deu lugar ao indie; uma despedida, então, feita à base de suor e flanela.

Os Gala Drop saíram como injustiçados da noite. Depois de terem sido uma das poucas pérolas de um atípico 2008, chegavam ao Coliseu depois de terem reeditado o álbum de estreia em vinil como convidados especiais dos SY themselves (e o casalito Moore/Gordon até esteve a assistir no palco às primeiras duas músicas). Partem do psicadelismo, entram pelo kraut adentro e mergulham de cabeça na electrónica mais experimental, percussão (e gritos) tribais, linhas de baixo dubbásticas, quais paisagens uterinas onde se movimentam brincando, à espera de uma luz. A luz não veio: foi-se. Com o set cortado a meio devido a uma falha eléctrica, justo quando o público que maioritariamente os desconhecia começava a aceitá-los, resta desejar-lhes maior sorte para o futuro (e a manter-se o nível de qualidade, virá). Porque merecem, e muito.

Roubaram Mark Ibold aos Pavement, e parece que se deram bem: o som dos veteranos da Big Apple ganha nova densidade, aquele baixo completa na perfeição as explosões de feedback e a dissonância das guitarras. E é falso chamar-lhes veteranos, pois continuam com a mesma energia e o mesmo look de sempre (Thurston Moore, em plena meia-idade, parece um puto). Ao contrário do que se pensava (ansiava) depois de ter sido conhecida na net a setlist do concerto em Barcelona, focaram-se essencialmente em The Eternal, álbum de 2009 que marca o regresso a uma editora independente. Destaques para uma militar Anti-Orgasm, Poison Arrow e Leaky Lifeboat, que se creio ter ouvido bem entre os pulos e os gritos foi dedicada a todos os poetas portugueses. Não significa que não tenham passado pelos ouvidos do público (tão diversificado, tão bonito ver velhos de 20 anos agarrados a jovens de 40) clássicos como Schizophrenia ou The Sprawl. Mas o melhor estava reservado para o duplo encore: primeiro com 'Cross The Breeze (a fúria daquelas guitarras, meu deus) e finalmente com Death Valley '69, final apoteótico para um concerto apoteótico, erótico, psicótico em partes iguais. O punk não morreu, limitou-se a crescer. Existe agora não uma nostalgia pelo passado, mas uma alegria quase paternal por aquilo em que se tornou, e uma ansiedade enorme por ver aquilo em que se irá tornar. Aguardemos, então.

P.S. Corre o rumor de que o incidente com os Gala Drop foi propositado. Se assim se confirmar, é vergonhoso e há que partir as trombas à organização. É que não se faz, foda-se.

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