sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Enxurrada



Podemos argumentar que a Blitz já não é o que era: uma publicação que, anteriormente, dava destaque aos movimentos mais alternativos, ao que de mais interessante se fazia na música nacional ou internacional, deixou a descoberta para segundo plano e passou a fixar-se (no que concerne a artigos, entrevistas, opiniões) em nomes já consagrados - não que isto seja necessariamente mau, mas duas ou três capas por ano com os Metallica enjoa. Porém, lá vão aparecendo algumas quantas pérolas que valem bem os 2,50€. A de hoje custou mais 4,90€, mas isto é irrelevante. Trata-se da compilação E-Spam, da Enchufada, label que deu ao mundo os Buraka e os Macacos do Chinês (quando estes ainda eram bons e não rollavam na Reboleira. Jesus, esse som é horrível).

São 14 faixas, alguns nomes conhecidos, outros nem tanto, e um para acompanhar com atenção no futuro: Paus, experiência noise rock com bateria siamesa (wat?), algo deslocada numa compilação em que a electrónica para dançar é o tema dominante, mas nem por isso menos boa. Mudo e Surdo é para pôr a altos berros e rebentar subwoofers. E se o CD começa bem, segue ainda melhor: Restless é capaz de ser das melhores coisas que os BSS já fizeram. A partir daqui é um festival de beats e basslines: Kitámanda de Roulet é enorme, DJ Riot dá a conhecer a sua faceta dub psicadélica (adoro inventar termos), DJ Znobia ensinou-me a gostar dele, e os Octa Push confirmam o seu novo estatuto superstar no que concerne ao mundo do DJing (o Thom Yorke gosta, logo tem cred). Única poia num mar de rosas: o Kalaf em versão S(oul)poken Word. A sério. Não há pachorra. O homem não sabe escrever. (Eu também não, mas não me pagam.)

Para aficionados da nova tendência para a dança ou das novidades tugas em geral: isto é muito bom. Para pitas de 15 anos que compraram porque, lol, os Tokio Hotel estão na capa do jornal: cuspo-vos nas caras e nos túmulos. Talvez estas compilações sejam a salvação da Blitz. Isso, e mais artigos sobre krautrock. O do mês passado era fraquinho. Como o Leandro Grimi.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Girondins de Croydon



Há-de chegar o dia em que toda a gente se aperceberá de que esta é uma verdade única e absoluta: os Saint Etienne são a melhor banda pop de sempre. "Ah, mas todas as opiniões sobre música são subjectivas". ERRADO. Achar que o Tony Carreira tem boa voz é subjectivo. Não gostar dos beats suaves, do açúcar na voz da Sarah Cracknell ou da melhor cover de sempre, é estúpido. Isto não tem discussão possível. Olhemos para a sua árvore genealógica: filhos da geração ácido, pais da britpop, irmãos de sangue das compilações do Café Del Mar. Tudo bom. Tudo pop. Tudo awesome. Há uma razão para 1991 ter sido dos melhores anos no que concerne à música, e essa razão é Foxbase Alpha. (E o Loveless, o Nevermind e o Screamadelica, etc.). Única mancha (pequenina, pequenina) no currículo: o Postiga ter jogado no clube que lhes dá nome.

Agora que o verão se aprochega (lol, expressões dos avós), é deitar as mãos a London Conversations e mergulhar de cabeça. Resumo quase completo das actividades dos Saint Etienne - está lá Only Love..., Like A Motorway, He's On The Phone, People Get Real, Shower Scene. Desafio qualquer um a não cantar isto no chuveiro. E para todos aqueles que acham que isto é apenas uma cópia indie do eurodance, odeio-vos, morram num incêndio. Se bem que o Ingrosso ou qualquer outro merdas famoso teria muito mais interesse se passasse isto em vez da Show Me Love pela 3765ª vez. Além de que estaria a educar muito boa (ou não) gente.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ié-ié-manjá



Não há carnaval sem samba. E não há samba sem umbanda, pelo menos no que concerne a este disco. Vindo não se sabe muito bem de onde (V Festival Nacional de Cantigas de Umbanda, 1977), aterrou-me aqui no gira-discos e mostrou-me todo um mundo para lá das mulheres nuas: rezas a Xangô, Iemanjá e outros deuses com nomes esquisitos, ritmos tribais dos quais, se eu quisesse mandar atoardas para o ar, diria que são os precursores de toda a história techno. Não é só um disco de samba, é um disco para chamar espíritos. Havendo essa hipótese, é fazê-la acompanhar (à audição) de um jogo do copo à meia-noite. Metaleiros também verão aqui a inspiração da Ratamahatta dos Sepultura - claro que me esqueço que sou o único que acha o Roots o melhor álbum deles, mas enfim. Flôres de Obaluê, quase quase parecido com um vira, é a canção que sobressai mais aqui, mas ao longo do pouco menos de meia-hora, o ritmo fala mais que as palavras. É um pouco da história do Brasil que aqui se condensa: sempre preferiram dançar a lutar.

É tal qual o house: se ao ouvirem não houver uma única parte do vosso corpo a mexer, isto não é para vocês. Mas podem guardá-lo no disco rígido à mesma, se o encontrarem por aí: dá indie cred. Tupã é que não vos vai achar muita piada ao desrespeito, mas é para isso que existem rosários e crucifixos e todas essas coisas que vos garantem uma cadeira no céu. O fodido é vocês lá irem acabar sentados enquanto o mundo dança.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Who loves the Sunn



Os Sunn O))) não são uma banda. São um terramoto. Julguei que aquela casa não aguentaria o vómito imenso que saiu dos amplificadores, mas aconteceu. Não obstante esta pequena desilusão sádica, bom espectáculo o proporcionado hoje na LX Factory. E digo "espectáculo" e não "concerto" porque é sobejamente (eish) mais interessante ver a forma como se apresentam em palco (minúsculo, rodeado de amplificadores, cheio de fumo, e ar de gregorianos do inferno) do que ouvir um acorde repetido à exaustão (também é giro). No meio de tudo, Attila Csihar: Deus absoluto entre vocalistas do metal extremo e agora também entre estilistas. Tocaram ao que parece três temas (houve duas pausas, por isso julgo terem sido três), a fórmula sempre a mesma: drones muitos, umas experiências no teclado ou no trombone, Attila. No final um agradecimento sentido gutural à multidão (negrume quase completo) e alguém levou para casa meia garrafa de vinho.

Antes de terminar, Eagle Twin. Falta-lhes algo em disco que têm ao vivo: violência. São dois, guitarrista e baterista, não precisam de mais. Saídos da herança dos Melvins, apresentaram um Sludge contínuo (algo raro, um concerto em que não haja pausas para aplausos), pesado sempre, proporcionaram os únicos momentos de headbanging da noite, obrigaram-me a sacar dos tampões logo nos primeiros 15 minutos. Isso, e porque sou um conas.