sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Paraiso à distancia de um trompete



Para começar, cinco palavras para estes senhores: extrema segurança na sua sexualidade.

É preciso ter muita certeza no enorme prazer que o corpo feminino nos oferece para andarmos com mais nove amigos, todos vestidos de fato cor-de-rosa, fuchsia ou num padrão esquisito. Apenas homens a sério têm coragem para andar desde 1988 (hey, o ano em que eu nasci!) a fazer a festa de lés-a-lés na grande esfera azulada. Os Tokyo Ska Paradise Orchestra não se limitam a fazer a festa, eles são a festa. O vasto número de instrumentos de sopro rasgam o ar sempre que estes... meninos começam a fazer magia e o ritmo contagia toda a gente. A maior parte dos seus temas são instrumentais, e mesmo aqueles que têm a presença da voz não passam de gritos entusiastas, ou seja, ninguém vai levar uma lição de japonês.

Eu sei que muitos de vocês - leitores imaginários - estão neste momento a pensar: "O quê? Ska japonês? Essa merda existe? Foda-se oh GP". Primeiro que tudo, mentalizem-se (e acho que o post anterior demonstrou isso) que se existe em algum lado, no Japão há de certeza. Os Skapara (nicknames, que japonês!) são uma das bandas mais influentes do universo musical japonês e fazem da junção perfeita entre o Ska e o Jazz a sua rotina, mas vão muitas vezes ao universo brasileiro buscar ritmos ou chegam a aventurar-se nesse grande universo que é a pop mainstream. Também, com vinte anos de existência tem de se experimentar de tudo.

Estes senhores têm um jogo com uma banda sonora inteiramente sua e com um álbum do mesmo nome (grande vício de jogo btw, o Incredible Crisis). Para os curiosos aconselho o primeiro álbum de estúdio, Skapara's Intro.

Basicamente: trompetes, dança até cair, festa até mais não e 10 japoneses a mostrar que homem que é homem, toca ska e usa fato.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

The Real Noise Ramones



Mentalizem o vosso irmão mais novo, aquele que se parte todo a jogar à bola com os amigos e aos seis anos já sabia o que era o sarcasmo. Imaginem que um dia, juntamente com os cadáveres de sapos e as cuecas velhas, ele trazia para casa um microfone que tinha encontrado no lixo. Imaginem que ao invés de lhe darem uns tabefes incitavam-no a cantar numa banda. Seria espectacular, mas não é bem esse o som destes senhores.

E digo som no termo correcto da palavra: isto não é música. É som. É barulho. É awesome. E mais ninguém sem ser os japoneses (lol, racismos) seria capaz de engendrar uma banda destas. Formados algures na década de 80, deram ao mundo uma vasta obra de (anti-)arte: num minuto uma guerrilha contra o sistema instituído, no outro uma brincadeira de crianças molestadas. E os títulos são geniais. E hilariantes. Se tiverem 5 anos. De idade real ou mental.

É ouvir: desde o noise-rock de Sexual Behavior In The Human Male, passando pelo anti-rock de Tokyo Anal Dynamite até ao absurdo EP Night (nove minutos de nostalgia: eu já ouvi isto antes, quando o meu pai passava horas no WC). Mas os Gerogerigegege (já agora, o próprio nome é uma ode ao vómito e à diarreia, ah ah ah) são (eram) demasiado prolíficos para podermos reduzir a sua discografia. Por isso, das duas uma: ide à procura de todos os seus lançamentos, ou façam o que eles fazem no conforto da vossa arrecadação. Não iria soar muito diferente.

domingo, 11 de outubro de 2009

Anita gosta de chupa-chupas



Parece haver uma correlação qualquer entre gostar de meninas novas e ser um génio: Lewis Carroll, Roman Polanski, Woody Allen... e, claro está, o senhor chanson, o poeta que elevou o nível do liricismo na pop, o velho porco que quis foder a Whitney Houston. Gainsbourg inspirou muitas, se calhar demasiadas mentes brilhantes, e pelo menos uma mente bonita; deixou para trás milhentos singles, LPs, compilações, álbuns de tributo, e ainda teve tempo para trazer ao mundo a mademoiselle Charlotte Gainsbourg e os seus magníficos atributos peitorais artísticos.

Para um tipo que, como eu, encontra a beatitude (rofl) em diferentes estilos musicais, este será uma espécie de profeta: a estilos que vão do yé-yé ao jazz, da new wave à bossa, Gainsbourg deixou a sua língua, lânguida, e os seus versos, indeléveis. Faltou-lhe lamentavelmente o Black Metal que com certeza teria tornado erótico, muito ao seu jeito; toda a sua música é assim, um charme tipicamente francês (e há outro?) que nos rouba as nossas mulheres dos nossos braços, uma fantasia de miúdos adolescentes pseudo-intelectuais de robe a beberem whiskey e a fumarem um charuto em noites calmas de verão. Com discografias destas é lógico que seja difícil começar por algum lado, mas cá vai: Disque nº2, o da capa plagiada à exaustão, a colaboração com Jane Birkin, boa boa boa a música e ela, a Histoire de Melody Nelson, dedicada aos pedófilos, e a compilação An Introduction With Champagne, que foi por onde comecei, e que contém gemidos da neo-fascista Brigitte Bardot. Não esquecer ainda as canções oferecidas a France Gall, Françoise Hardy e Isabelle Adjani. E, se tiverem certos e determinados fetiches, meditar um pouco no dueto com a sua filhinha/lolitinha encantadora.

Sempre que me quero sentir um cabrão pretensioso ouço Serge Gainsbourg. E sempre que quero engatar gajas (como se isso acontecesse muitas vezes), recito letra por letra que as amo e elas também não. 83% das vezes resulta em falhanço, nos outras 17% elas não percebem um boi de francês, e aí já não vale a pena preocupar-me mais com esta gente. Porque eu também não percebo e preciso de alguém que me explique. Talvez se tivessem leccionado isto no secundário em vez da imbecil da Rochefort o caso mudasse de figura.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O meu blog, ou blogue, tem ursos

Sempre desconfiei da etiquetagem pop, seja ela indie, synth, dream, folk ou qualquer coisa que inventaram há "três quinze dias"; nunca consegui descolá-la da mediocridade associada à comercialidade (que está muitas vezes mal associada). Talvez também devido a ter crescido num ambiente propício à rejeição do que a pop representa, com a big sis num fervor grungeiro que não deixava espaço a muita coisa. Ainda hoje, se a banda tem a label de pop o mais certo é ficar para ouvir para depois. Grizzly Bear ganha nesta conjuntura (palavra poucas vezes usada no mundo da música) um papel de ruptura em relação a este meu preconceito.

A Banda do Momento do chamado indie pop (seja lá isso o que for), Grizzly Bear é, sem dúvidas algumas, uma banda boa. Quatro excelentes músicos do melting pot nova-iorquino que fizeram, na minha humilde e sempre parva opinião, uma das melhores trilogias do século XXI. Melodias criadoras de um variado leque de emoções e uma atmosfera misteriosa no liricismo de Ed Droste e álbuns com qualidade da primeira à última música.

Dos três álbuns destaco o último, Veckatimest, editado este ano, por muitos (incluindo eu) visto como o álbum mais bem conseguido e apelativo dos três. Para aqueles que ficaram agora interessados (os maluuucos...) em conhecer GB podem sempre ouvir o single Two Weeks que tem tido airplay MTV (sim sim, eles passam música), mas a minha preferida é a While You Wait For The Others. A ouvir.

Por tudo isto Grizzly Bear está neste momento marcado como essencial na minha playlist e tem feito muita companhia entre Alverca e Entrecampos.

O suicídio não é para meninos



Estranhamente, o nome da banda em si nunca atraiu fãs do Emo moderno e da maquilhagem do Gerard Way - graças a Deus; não que eu me queira armar em idiota e achar que a banda se estraga se putos de quinze anos a começarem a ouvir (lol, as if), mas é preciso mais que uma remessa de clerasil e poemas mal escritos sobre como é horrível sofrer de amor para apreciar verdadeiramente (ai que hipster que eu sou) aquela que é uma das bandas mais filhas-da-puta da história: um sintetizador, uma drum-machine, e a explosão '77 por detrás; eis os Suicide, a banda punk que os punks detestavam.

Trinta anos depois, a América continua a matar a sua juventude, os veteranos de guerra continuam a matar as suas famílias, e o Che Guevara continua a fumar o seu charuto cubano - e os Suicide continuam a soar tão bem como se o electroclash nunca tivesse vindo para as pistas e os abdominais do Iggy Pop nunca tivessem sido sempre tão bem torneados e gay-inducing. Metam o LP
com o mesmo nome a berrar no gira-discos (ou, se não forem imbecis como eu fui que dei 15€ por ele na Fnac saquem-no por aí) e vejam se ao primeiro sinal de percussão não se conseguem imaginar naquele clube, àquela hora, a esmurrar a cara de alguém num frenesim de violência (eish), porque o futuro não existe, o mundo é agora, as minhas botas de couro são fantásticas e já não me lembro quem são os Silver Apples. São trinta e um minutos, diz a wikipedia, mas é mentira: o riff da Ghost Rider perdura tanto tempo quanto o vosso passeio nocturno a par do cheiro a mijo das ruas da cidade.

Igualmente, se forem pertencentes a essa estirpe de néscios a que vulgarmente se chama metaleiro e/ou acham que música sem guitarras não é música, dêem uma chance ao disco. Não sei se se vão arrepender ou não, mas ao menos ganham consciência de que a vossa testosterona não chega aos calcanhares dos gritos do Alan Vega:

Somos todos Frankies, estamos todos no inferno.

Isto não é uma nota de introdução

Todos os blogs, ou blogues (here's looking at you Flor Caveira) respeitáveis e de bom gosto que vou encontrando têm uma nota introdutória onde nos explicam o que raio decidiram fazer e porque raio são umas attention whores de primeira que desejam um pouco de atenção. A nossa razão é falta de amor. A vida tem destas coisas...

Acho que agora é a altura para explicar porque decidimos criar um blog com um titulo tão espectacular. Sempre gostámos de partilhar a nossa estupidez. É o nosso talento. Passamos horas a fazê-lo e a verdade é que a partir de uma certa altura começámos a fazê-lo muito bem. Uma das coisas estúpidas que... "cultivamos", é passar horas a trocar impressões sobre as coisas que são as melhores do mundo. Nem é preciso serem as melhores, basta serem INCRIVELMENTE AWESOME. Normalmente são coisas - lá está - estúpidas, mas na musica somos puristas (termo simpático para cabrões pretensiosos): têm de ser mesmo boas (ou não). Num desses dias lembrámo-nos: "Que tal criar um blog sobre música?", "Eish que ideia completamente original", e voilá... já temos com que nos entreter no verão. E no inverno. E em feriados religiosos. Prometemos que todas as opiniões são sinceras e que não vamos criticar ninguém em particular... muitas vezes.

Aproveito e agradeço a toda a gente que contribuiu para a criação deste blog: os nossos papás e mamãs, Jesus Cristo, toda a gente que nos deu calduços acarinhou, mulheres que nos rejeitaram (PUTAAAAS) e todas as bandas deste mundo, porque sem vocês tudo isto seria bem mais simples, e poderíamos passar os dias a ouvir Franz Schubert em vez das vossas guitarras e turntables sujas.

Signatários: gente bonita e anónima. Mas bonita.


P.S. (daquele que é claramente mais bonito): Este blog, ou blogue, também vai ter momentos de seriedade, com pessoas convidadas a escrever a sua opinião sinceras e equilibradas de verdadeiros fãs de musica. Sem estupidez.


Aproveitai esses momentos pois irão ser raros.Temos poucos amigos.