quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Paus Enormes



Pós-kuduro, diz um idiota qualquer no Last.fm. A verdade é que não interessa para nada. Mesmo que tenha sido na Enchufada dos Buraka Som Sistema que É Uma Água se afirmou como um dos grandes lançamentos de 2010, é redutor encarar a música dos PAUS como "dançável", ou "pesada", ou "espacial"; mesmo que hoje, no Lux, os acompanhassem Ride e Riot, respectivamente menino bonito da electrónica tuga actual e rosto por detrás da infecção Yah! e Kalemba, mesmo que tenham adicionado ritmo ao ritmo numa mistura inacreditável de Lightning Bolt e grime e dubstep e foda-se-sabe-se-lá-o-que-mais, com resultados arrasadores para o solo daquele espaço que tremeu sob a força da estratosfera a cair-nos em cima quando Mudo e Surdo deu ares da sua graça; a tentativa de caracterizar e agrupar uma coisa assim nunca será por via da palavra, pois não existe para já nenhuma que o consiga.

É para dançar, dizem uns, é para o mosh, dizem outros. A verdade é que não interessa para nada. Cada qual há-de encarar a sonoridade dos PAUS como bem lhe aprouver, seja ele filho do pulo electrónico em óptica de clube ou o metaleiro que encontra na fúria da siamesa a salvação de uma década atípica em que todos os grandes ídolos parecem ter envelhecido. O teclado permite-nos sonhar, o baixo permite-nos abanar o corpo, a/s bateria/s permite/m-nos partir o pescoço e as máquinas fotográficas aos tipos que apenas ali estão a querer fazer o seu trabalho. É água? É um rio que corre dentro das margens que o oprime.

É o melhor lançamento português do ano, é um diamante ainda por lapidar. A verdade é que não interessa para nada. Nunca ninguém há-de ficar indiferente; ou se gosta ou se ama. Ou pela força das canções ao vivo (infinitamente superior à força em disco, porque um CD é um CD e Steve Albini não está disponível de momento), ou pelo grito quase mantra de tens-me pela garganta, quem sufoca não canta que enche o Lux de uma certeza única: a de que aquilo que aqui está é algo que nós enquanto nação amante de música nos devemos orgulhar. Porque o caminho a percorrer ainda é longo, muito longo, e todos nós somos jovens, muito jovens. Que vontade de crescer depressa, esta.

A verdade, a de que os PAUS são os PAUS e nada mais, é que não interessa para mesmo nada.

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