segunda-feira, 24 de maio de 2010

Minimum Maximum



Can you hear me now?

Depois do fim dos Big Black, grande instituição do pós-punk norte-americano, e dos Rapeman, melhor nome de sempre, Steve Albini formou os Shellac. E viu ele que era bom. E depois os Shellac lançaram 1000 Hurts, e cimentaram a posição que os jornais lhes deram/dão como banda-chave do movimento alternativo e independente. E Steve Albini mandou-os para o caralho, porque não tem pretensões de ser uma estrela de rock; pois o rock é a estrela, fusão nuclear, osso ensanguentado, movimento em câmera lenta como um filme sobre tarântulas no National Geographic. Tal como definido pelo Martin Hannett de 24 Hour Party People: faster, but slower.

Can you hear me now?

Quase como irmãos gémeos nascidos em dias diferentes: os Mission Of Burma também vieram ao palco, perdão, ao forno da ZDB mostrar que também têm direito a um beijinho. São pesados, são abrasivos, parecem tocar cada acorde com cacos de vidro, se não os estivessemos a ver ali à nossa frente não imaginaríamos que já passam dos cinquenta. E debaixo do ruído uma linhagem distintamente pop, assim como os Pixies são pop, os Nirvana eram pop. Ainda bem que a velhice é só um estado de espírito. I won't take shit from you or anyone else, so fuck it! O prelúdio ideal do apocalipse sonoro que se lhes seguiria.

Can you hear me now?

Albini é engenheiro de som. Dos mais reputados do panorama musical. Entra por ali como qualquer engenheiro que não seja português: fato macaco, inspecciona a área, faz os últimos preparativos. E depois... descarga atrás de descarga. Riffs e ritmos básicos, minimais, que à primeira vista parecem fáceis de emular. Mas só à primeira vista - é difícil fazê-los explodir daquela forma. Quando se torna demasiado difícil manter o mesmo nível em palco, viram-se para o público, fazem sessões de perguntas e respostas, por mais imbecis que as perguntas sejam. Steady As She Goes puxa para o mosh, Prayer To God arranca améns e aleluias. The End Of Radio é um poema contado por um baixo sujo e maltrapilho. Cru como o bom rock. Perante tal amostra só resta ao público agradecer. Afinal de contas, estamos perante aquela que é muito provavelmente a última banda punk da história. Não assinam contratos, não cobram cachets fixos, não fogem aos fãs - e até ficaram mais um pouco à conversa depois do final, eu é que não vi porque tenho a mania da ecologia e ando de transportes. Os Shellac vieram a Portugal, 16 anos depois de se formarem. E vimos nós que era bom. Can you hear us now?




P.S. A partir de hoje também podem ler estas críticas da tanga no Bodyspace. Basta seguirem com atenção os posts deste camarada. E sim, senti necessidade de fazer publicidade. E desta rima.

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