segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Não vos gramo



Falar mal dos Grammys é a mesma coisa que maldizer o Natal e o dia dos namorados. As facções dividem-se entre os que sentem de facto a cena e os que se estão a cagar mas têm a necessidade de mandar o seu bitaite. Nós, orgulhosamente, pertencemos à segunda espécie. Porque a verdade é que, ano após ano, os cabrões de parasitas que se agarram à indústria com unhas e dentes, vociferando que a música está morta quando os tempos em que vivemos são belos, ecléticos e finalmente democráticos, fazem por merecê-lo. Isto não tem nada a ver com ser anti-mainstream. É o constatar de um simples facto: corporate machines have no taste. O que lhes vale é a existência de micos de circo em todas as galas, o que impede que se discuta de forma séria e equilibrada as nomeações e os vencedores. QUE É ALGO QUE NÃO VAMOS FAZER:

1) Barbra Streisand e os Ramones

Barbra Streisand é o diabo em pessoa, é uma velha imbecil, a voz irrita-me profundamente e perdeu o combate com o Robert Smith (old TV references FTW). Ganhou o prémio de "pessoa do ano" para a bonita organização que é a MusiCares. Não sei para que raio serve este prémio, mas não podia perder a oportunidade de mostrar o meu desagrado por ter sido atribuído à bruxa má do oeste, na mesma noite em que a supercalifragilística Julie Andrews ganhou o outro grammy que se dá a velhos ao lado dos Ramones. Numa altura em que Blitzkrieg Bop parece ter renascido para as vozes dos punk rockers de todo o mundo (ou pelo menos para as dos Fucked Up e dos Japanther), o prémio é mais do que merecido.

2) Os Arcade Fire

É talvez sintomático que o registo mais fraco dos Arcade Fire até ao momento tenha sido aquele que venceu o prémio para álbum do ano. Não que a concorrência fosse forte (lol, depositar esperanças nas nomeações), mas soa mais a uma tentativa do establishment de mostrar que também são fixes e alternativos. Também se poderá argumentar que os Arcade Fire não são menos passíveis de passar na MTV que o Eminem ou a Katy Perry, o que é a bem dizer verdade. Vá lá, já toda a gente deve conhecer a Wake Up, assim como toda a gente conhece aquela música fixe do anúncio da Peugeot.

3) Os nomeados/vencedores da categoria de dança

Rihanna é merda. Odeio tudo o que a moça faz, desde o caralho da Umbrella à xaropada Pós-Eurodance de Don't Stop The Music acabando no mais irritante dueto da última década com "o melhor rapper branco de sempre, porque os Beastie Boys fazem piadas porcas, não conta". Até as fotos dela nua, que normalmente me causariam uma enorme erecção (miúdas do Caribe é fetiche) não mais puxaram do que o vómito. Que tenha ganho o prémio para melhor canção, portanto, é motivo para terminar desidratado num hospital. A puta da concorrência causou inveja a Al Gore: Blondie reciclada, synthpop chata e reciclada, Ma(er)donna reciclada. A synthpop levou a melhor no prémio para melhor álbum, o que também não causa qualquer espécie de estranheza: os Chemical Brothers e os Groove Armada não são concorrentes, são cadáveres.

4) Os nomeados/vencedores da categoria rock

O rock não está morto. Moribundo, talvez. Que está a ser cruelmente torturado ninguém duvida. O Ted Kaczynski em mim quer acreditar que é tudo um plano da máquina para nos estupidificar a todos com o seu exército de pop electrónica e bonecas Barbie sem emoções, apenas seios. Para o alcançar, começam por atingir a credibilidade da instituição. De nenhuma outra forma se aceita que a melhor prestação rock de um artista solo tenha sido vencida por UMA CANÇÃO COM QUARENTA ANOS. Ninguém está a pôr em causa a pujança da canção. Mas a sério: em 2009/2010 não houve nada de interessante no rock? O ressuscitado Neil Young não merecia muito mais que o último Beatle que interessa? O Eric Clapton não é um chato de merda? Resta congratularmo-nos pela vitória de Tighten Up, dos Black Keys, na categoria duo. Só que a ténue réstia de esperança que teríamos é sobejamente trucidada pela vitória dos absurdamente aborrecidos Them Crooked Vultures na melhor prestação Hard Rock, pela vitória dos escorregadios Iron Maiden na categoria de métau e pela vitória - a.k.a. o momento mais WTF desta gala - dos Muse pelo melhor álbum rock. Aparentemente, nem o Le Noise nem o Brothers seriam melhores candidatos a álbum rock do ano, que é como quem diz, melhores candidatos a derreter-nos a pele da cara e a furar-nos os tímpanos do que aqueles teclados bué do prog, e o Matthew é um guitarrista do cê érre éle, tás a ver? O rock não está morto. É apenas o novo Cristo.

5) Notas soltas

A segunda vitória dos Black Keys, na categoria de melhor álbum alternativo. Confesso que estive certo de que o atribuíssem aos AF (e eis aqui uma das muitas incoerências desta organização). Os Vampire Weekend, que também o mereceriam, ficam-se pela nomeação, o que já não é de todo mau. Ao menos não ganharam os chatos dos Band of Horses. Triste pela derrota de Miss Janelle Monáe, mas Fuck You! é uma canção com o peso do autor: enorme. A tristeza é ultrapassada pela raiva: Usher melhor que The ArchAndroid?Não percebo o hype criado à volta de John Legend: o homem é aborrecido. Eminem ganha prémio de melhor tema solo e melhor álbum rap porque, lol, os pretos não podem ganhar tudo. On To The Next One não é superior a Shutterbugg, Empire State Of Mind era vitória previsível. Haver uma categoria de melhor álbum New Age é algo que me fascina e repulsa em medidas iguais. Não percebo um caralho de jazz ou gospel, não sabia que o Sérgio Mendes ainda estava vivo, não os vi mas um musical do American Idiot ganhar um prémio e um do Fela não repulsa-me a 100%, os prémios para melhor vídeo não me dizem nada mas se não tem nada dos Black Keys é merda. E agora, guardar a azia até ao ano que vem.

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