quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

We Bless This Mess - Enlightened Fool

 

Quando ouço falar em "rock português" pego logo na pistola, quer esse "rock português" se refira à mediocridade que é ter o Rui Veloso ou os Xutos & Pontapés como o seu estandarte, aos pseudo-bardos lisboetas que competem entre si para ver quem utiliza a palavra menos óbvia e mais esdrúxula, ou aos expatriados que não resistem a acrescentar um sotaque ao seu oh-tão-maravilhoso-inglês. 

Bem, se calhar o que odeio mesmo é o rock, ou os portugueses. Só me falta é a pistola.

We Bless This Mess é um projecto de um expatriado, que achou por bem acrescentar uma mensagem de agradecimento ao(s) ouvinte(s), em bom inglês com sotaque tuga: «obrigado por existirem», diz ele. Obrigado é o caralho, que eu não pedi nada, e quanto mais depressa me tirarem daqui melhor - que eu sou demasiado cobarde para me suicidar.

"Enlightened Fool" é, para We Bless This Mess - em formato banda; creio que o vi a solo no Lounge quando ainda podíamos sair de casa, mas honestamente não me lembro; a abrir para Emperor X? -, uma "celebração de estarmos vivos", pelo que o título do disco faz absoluto sentido: só um pateta poderia celebrar essa merda. E, no entanto, há ali qualquer coisa escondida no emo-punk épico de pendor americano. 

Até eu, que nunca fui punk tirando nas ideias, consigo esboçar algo semelhante a um sorriso a ouvir os coros de 'Find.Unfold.Accept', e uma certa vontade em continuar nesta enorme demanda que é chegar a tempo da reforma e de insultar tudo e qualquer coisa que os jovens de então façam. Até tive de ouvir o disco duas vezes, algo expressamente proibido a um crítico de música, para o confirmar: isto é verdadeiramente decente ou, pelo menos, melhor que qualquer coisa que os tugas do eixo indie-Arroios andam a defecar há largos anos. Metam We Bless This Mess no palco de Coura (se alguma vez isso puder voltar a acontecer) e vejam a coisa a rebentar.

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