sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Tiago Silvestre - Pela Estrada Fora

 



De toda a merda que a Flor Caveira e semelhantes despejaram sobre o mundo (e foi muita, ainda que algumas coisas de lá saídas tenham despertado algum interesse), nenhuma fede tão miseravelmente quanto a ideia de que qualquer gajo pode vir a ser um músico com boa imprensa desde que cante em português e tenha as referências certas: os beats, o Bukowski, o B Fachada. Tiago Silvestre tem duas dessas referências. A outra ficou de fora, porque quem nasceu para fancaria nunca chegará a ser fachada.

Regra geral nem me daria ao trabalho de ouvir um disco que me chegasse à caixa de entrada do Gmail, com um título sacado ao Jack Kerouac - sendo que "Pela Estrada Fora" é o romance de eleição de todos os tipos com a mania que são livres e inteligentes quando não passam de alcoólicos agrobetos -, mas dei uma oportunidade a este porque calculei que fosse uma merda do caralho e, nesse sentido, não posso dizer que tenha ficado desiludido. Um dos meus cocktails musicais de eleição mistura masoquismo, schadenfreude e um sentimento de vergonha alheia. Porque esse tipo de álbuns me faz sempre rir, numa onda de como é que este gajo teve a coragem de fazer isto?

Glória eterna a Tiago Silvestre, então, por ter tido um valente par de tomates em tempos de estrogénio. "Pela Estrada Fora" não é só o pior disco que provavelmente ouviremos este ano (as melodias básicas, a voz do próprio - como se estivesse não a cantar, mas a ler, com entoações diferentes, de um qualquer teleponto), como contém provavelmente o pior verso que alguém irá escrever na língua de Camões durante muito, muito tempo: «os teus lábios aquecem como vodka neste inverno gelado», retirado a 'Baby Doll'. E atenção que eu tenho visto os directos do Bruno Nogueira. Sei bem o que são maus versos.

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