domingo, 11 de abril de 2010

Let's Go Triple



A Casa da Música faz cinco anos. Tem representado um papel importante na vida cultural do Porto (e do país): inúmeros concertos de artistas (recém) firmados, exposições, diálogos. Há que saudar a sua ainda parca longevidade. Há que criticar o aspecto; o edifício é feio p'ra caralho. Mas pronto, é muy vanguarda e pós-moderno e todas essas expressões de estudantes de arquitectura pretensiosos. Não é apenas um calhau em cima de uma ribanceira. É uma ideia. Uma má ideia, mas uma ideia nonetheless.

É sintomático que os dois principais concertos de ontem tenham sido realizados na cidade que deu ao mundo o vinho que quanto mais envelhece, melhor. É o que se pode dizer tanto de Dick Dale como dos Sonics: a garra, a energia, os gritos histéricos rock n' roll continuam lá. E mesmo com um ou outro problema de som menos grave, pôde-se sair de lá com a confiança de que quem não foi, vai arrepender-se de não ter ido. O mais provável é que não surja outra oportunidade tão cedo.

Fale-se então de Dick Dale. Já toda a gente sabe da história do Pulp Fiction, por isso não vamos por aí. Pioneiro do som surf, inspiração dos Beach Boys, reinventou a Fender. Nada disto interessa a quem não escreve na Wikipedia. Qualquer pessoa que tenha lá estado (e para o ver, eram mesmo muitos - em Sonics morreu um pouco) para ver o primeiro riff ter-se-à apercebido de imediato: estava ali uma lenda viva, um Deus, um ser inatingível com dedos mágicos. Nenhuma destas descrições é exagero. O homem mal precisava tocar na guitarra; parecia ter vida própria. Muito barulho, muita classe, muita interacção com o público e com a banda (OMFG ELE TOCOU O BAIXO DO OUTRO TIPO COM BAQUETAS QUE AWESOME), tocou clássicos, tocou versões, tocou a Misirlou. Avôzinho, volta mais vezes enquanto puderes.

Seguiram-se os Sonics, senhores em plena crise de meia idade. Vi no baixista, gordo e atarracado, o meu próprio futuro. Pelo menos no que concerne à forma física. Foram quem mais problemas teve com o som - mal se ouviu o saxofone, e o teclado só ia aparecendo a espaços - mas não impediu que dessem no geral um bom concerto. Tocaram uma muito aclamada pelo público (que pareceu ter lá ido só para a ouvir) Strychnine, mas há que registar também Psycho, as versões de Dirty Robber, Have Love Will Travel, e ainda uma de Louie Louie que pôs toda a gente na sala a pular. Foram umas doze ou quinze canções, mas passou tão depressa que ficou a saber a pouco. Paciência.

Fora do contexto rock n' roll da noite, estiveram os YACHT. Não sabia o que esperar, pois não os conhecia - só sabia terem lançado um álbum pela DFA, por isso devia ser bom. Devia. Um pouco chatinho ao início, melhorou bastante para o final, quando aumentaram a força dos beats e começaram a ir buscar mais à New Wave. O vocalista tenta parecer-se demasiado com o Pelle Almqvist, a vocalista parece-se demasiado com as cópias rascas da Blondie e da Annie Lennox que povoam o mundo indie-dance de hoje. Tocaram uns quarenta minutos: muito pouco para os que tinham dado 7,5€ para os ver só a eles. Eu pelo menos tinha ficado fodido, mas a população hipster parece ter gostado imenso. Enfim.

Grande concerto o de Dale, bom o de Sonics, mediano o de YACHT. Público morno nos concertos rock (sacrilégio!), muita adolescente betinha a pular no outro. Comprei o disco de Orelha Negra em vinil. Andei no metro comboio do Porto. Dormi nos bancos de jardim de um parque na Boavista. Resumindo: tragam essa merda cá para baixo, pá. Ou não tragam: tirava o espírito da coisa.

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