sábado, 23 de janeiro de 2010

They called you a John Difool



Análise ao concerto aqui.









OK, fora de brincadeiras: há poucos artistas dos quais se pode dizer "foda-se, passei o gig todo com um sorriso de orelha a orelha". Hoje foi um desses casos, não (só) por toda a aura de mistério que o envolve, mas também pelo assalto sonoro que se viveu no Maria Matos; Jandek (trataremos o projecto como se fosse uma pessoa) é homem de poucas palavras e recursos, prefere palcos parcamente iluminados, canta (ou não) as agruras da vida, o sofrimento, a solidão, o desespero - o verdadeiro cliché do artista torturado e do emo moderno. Mas há que reconhecer: mal se senta e dedilha a guitarra desafinada, não há um único olhar que não esteja posto sobre ele e seu negrume, mesmo que, do outro lado do palco, estejam artistas convidados igualmente violentos no approach que fazem à (sua) música.

Fica marcado o concerto pela enorme actuação do saxofonista Peter Bastien: ora furiosamente tribal, ora causticamente urbano, foi ele que, a haver essa possibilidade, roubou o espectáculo ao Sr. Corwood. Compará-lo a John Zorn seria insultuoso, mas não há outro remédio: a brutalidade é a mesma. Nota positiva também para o guitarrista-tornado-pianista André Ferreira e para o trompetista Sei Miguel, os outros dois acompanhantes do insondável (adoro estes adjectivos) Jandek. Tendo em conta a numerosa obra que lançou e o facto de que todos os concertos são diferentes, não há como compará-lo a algo antigo: houve laivos de Bohren & Der Club Of Gore e/ou Kammerflimmer Kollektief, mas apenas isso: laivos. Jandek é Jandek e espera-se que durante muitos anos assim o seja.

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